Bom humor e esperança revolucionária: as “Entrevistas” de Marx e Engels

Montagem com retratos de Marx e Engels por volta de 1860. Imagem: WikiCommons

Por Lincoln Secco

Durante muito tempo Karl Marx foi visto como autor póstumo, uma vez que sua obra só foi realmente difundida depois de sua morte, quando influenciou a formação de partidos sociais democratas de massa e um campo econômico alternativo que abrangeu diretamente um terço da humanidade. Deve-se essa difusão principalmente a Friedrich Engels, amigo e parceiro com quem Marx dividiu a fundação do socialismo científico.

Os livros II e III de O capital só foram publicados depois da morte de Marx. No século XX vieram a lume textos fundamentais como A ideologia alemã e os Grundrisse, só recentemente editados em português de acordo com os manuscritos originais de Marx e Engels pela Boitempo.

Um outro Marx ressurgiu depois que aqueles partidos e regimes naufragaram. Ele emergiu em 2008 como o que melhor entendeu o capital enquanto processo automático que ameaça o mundo com suas crises, guerras e devastação ambiental. Entretanto, é conveniente para a ideologia dominante despi-lo de qualquer veleidade revolucionária.

O que este livro nos mostra é o Marx dirigente político em sua própria época. Suas entrevistas desenham um retrato de alguém que gozava de reconhecimento, mesmo que sua obra ainda não tivesse a difusão que ganharia depois. Já se via nele o brilhante teórico ligado à ação política da classe trabalhadora.

Por sua vez, Engels — considerado por mais de uma razão “o primeiro marxista” e tantas vezes estigmatizado dentro do próprio marxismo — desempenhou papel crucial não só no desenvolvimento e na difusão do materialismo histórico, mas também na liderança do movimento operário. Seu lugar de proa fica evidente no vibrante otimismo com que fala, nas entrevistas aqui publicadas, das lutas de seu tempo.

Os relatos pessoais que se seguem às entrevistas e formam a segunda parte do livro revelam como os interlocutores receberam as explicações de Marx e Engels sobre economia política, história, dialética e outros temas. Mostram as relações familiares, o cotidiano, as discussões não só políticas, mas literárias.

A erudição espantosa de Marx e Engels ressalta em todos os momentos. Mas o que chama atenção é o traço humano, o humor e a esperança na revolução.

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Lincoln Secco é professor de História Contemporânea na USP. Publicou pela Boitempo a biografia de Caio Prado Júnior (2008), pela Coleção Pauliceia. É organizador, com Luiz Bernardo Pericás, da coletânea de ensaios Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados (2014), e um dos autores do livro de intervenção da Boitempo inspirado em Junho de 2013, Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (2013).


Novo volume da coleção Marx-Engels, Entrevistas, reúne entrevistas e relatos que mostram Karl Marx e Friedrich Engels em diálogo com jornalistas, militantes, intelectuais e figuras políticas do século XIX.

“Ele falou das forças políticas e dos movimentos populares dos vários países da Europa – da vasta corrente intelectual da Rússia, dos movimentos da mente alemã, da ação da França, da imobilidade da Inglaterra. Ele falou esperançoso da Rússia, filosoficamente da Alemanha, alegremente da França e sombriamente da Inglaterra – referindo-se desdenhosamente às ‘reformas atomistas’ com as quais os liberais do Parlamento britânico gastam seu tempo. Muitas vezes fiquei surpreso enquanto ele falava. Era evidente que esse homem, do qual tão pouco se vê ou se ouve, está profundamente mergulhado neste tempo e que, do Neva ao Sena, dos Urais até os Pireneus, sua mão está metida, preparando o caminho para o novo advento.”
John Swinton

As raras entrevistas que ambos concederam ao longo de suas vidas compõem a primeira parte do livro e revelam o pensamento vivo e contextualizado dos autores. Nelas, são abordados aspectos decisivos para a organização dos trabalhadores. Eles discutem primado das lutas concretas, o horizonte estratégico, a autonomia do movimento, a recusa ao dogmatismo e ao culto à personalidade, as leituras da conjuntura política da época, o ascenso do movimento de trabalhadores em fins do século XIX etc.

Na segunda parte, os relatos de encontros políticos evidenciam a influência teórica e prática de Marx e Engels, bem como seu esforço, sempre a quente, de captar as particularidades de cada contexto nacional. Divergências políticas e teóricas, interpretações da conjuntura, a erudição de ambos e até elementos de suas personalidades emergem aqui filtrados pelo olhar daqueles que conviveram e debateram com eles.

“A despeito da proeminência de Karl Marx e de Friedrich Engels como figuras públicas do movimento dos trabalhadores, foram poucas as entrevistas que ambos deram. Este volume reúne essas conversas e relatos de encontros políticos que personalidades diversas tiveram com eles.”
Murillo van der Laan


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2 comentários em Bom humor e esperança revolucionária: as “Entrevistas” de Marx e Engels

  1. Avatar de Desconhecido Luciano Nogueira Neto // 19/11/2025 às 9:19 am // Responder

    Este não vai ter calendário?Enviado do meu iPhone

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    • Oi, Luciano! Teremos calendário 2026, sim! E este ano, um calendário que comemora nossos 30 anos editando a obra de Marx e Engels, com ilustrações de capas da coleção Marx-Engels feitas por Cássio Loredano e Gilberto Maringoni, além de frases dos autores em todos os meses. O calendário foi o brinde da última caixa do clube do livro Armas da Crítica, junto com o livro Marxismo e descolonização, de Walter Rodney. Mas pode ser adquirido separadamente no site da editora.

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