Cultura inútil: Otimismo e pessimismo

Na reta final da campanha eleitoral, Mouzar Benedito parte para o humor e reúne as melhores frases sobre otimismo e pessimismo, de Machado de Assis a Churchill, passando por Gramsci e Rita Lee.

Por Mouzar Benedito.

Diálogo entre um otimista e um pessimista no Brasil de hoje:

— Do jeito que a coisa vai, daqui uns tempos a gente vai ter que comer bosta.

Quem disse isso não foi o pessimista, e sim o otimista. O pessimista respondeu com uma pergunta:

— Será que vai ter pra todo mundo?

* * *

Uma cena de filme tem vindo muito à minha cabeça, mas sem precisão. Lembro vagamente.

Em Casablanca, de 1942, Humphrey Bogart é Rick, dono de um bar naquela cidade marroquina. O bar é frequentado por muitos refugiados da guerra, muitos esperando visto para ir para a “América” (EUA). E aparece lá um líder da resistência tcheca contra o nazismo, Victor, com sua companheira, a belíssima Ilsa, interpretada por Ingrid Bergman, antiga paixão do personagem Rick. A cena a que me refiro é no final do filme. Victor e Ilsa têm uma última chance de embarcar para os Estados Unidos, e na hora de entrar no avião, ela vacila entre ir com o então companheiro ou voltar para a velha paixão, mas decide ir, e pergunta a Rick: “E quanto a nós?”. Ele responde: “Sempre teremos Paris”.

Apesar de tudo, incluindo a guerra e a ocupação progressiva da Europa pelos nazistas, restava uma esperança do reencontro, um otimismo… E o motivo da minha lembrança está relacionado a um pessimismo que me ronda: não há mais Paris. Não há mais Europa. Alguém poderia sugerir: “Ainda há a Austrália”, “Ainda há o Uruguai”, “Sempre teremos não sei onde”… África do Sul? Canadá? Japão? Coreia? Zimbábue? Nepal? Faça sua opção.

Mas parece que a ruindade avança sobre o mundo todo, que em breve não haverá mais nada.

Se o Brasil está mal, ir pras “Oropas” não parece mais uma solução. Durante a ditadura, muitos brasileiros se refugiaram por lá. Hoje, não há atrativos nisso. A Europa se fecha, a xenofobia cresce. Estados Unidos, para muitos de nós, nunca foi uma opção. O certo é que se a coisa está ruim no Brasil, fora daqui também está ou vai ficando. Há ou haverá para onde correr?

Bom… recolhi frases sobre otimismo e pessimismo. Vamos a elas.

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Elsa Triolet: “Basta ser profeta para ser pessimista”.

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Woody Allen: “Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto; o outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de escolher”.

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Confúcio: “O pessimismo torna os homens cautelosos, enquanto o otimismo torna os homens imprudentes.

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Millôr Fernandes: “É melhor ser pessimista do que otimista. O pessimista fica feliz quando acerta e quando erra”.

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Antonio Gramsci: “Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade”.

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Rita Lee: “No fundo sou otimista, mas sempre imagino o pior”.

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Winston Churchill: “O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”.

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Voltaire: “Otimismo é a mania de sustentar que tudo está bem quando tudo está mal”.

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Hellen Keller: “O otimismo é a fé em ação. Nada se pode levar a efeito sem otimismo”.

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Arnold Bennett: “O pessimismo, quando você se habitua a ele, pode ser tão agradável quanto o otimismo”.

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Cora Coralina: “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é decidir”.

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Laurence J. Peter: “Um pessimista é um sujeito que olha para os dois lados antes de atravessar uma rua de mão única”. (Antes de ler isso eu já falava algo parecido, mas não por pessimismo, dizia que era “prudência” de meus conterrâneos: “Mineiro, para atravessar uma rua de mão única, olha pros dois lados”)

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Jean Rostand: “Meu pessimismo chega ao ponto de desconfiar da sinceridade dos pessimistas”.

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Fernando Sabino: “O otimista erra tanto quanto o pessimista, mas pelo menos sofre só uma vez”.

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Mário Henrique Simonsen: “O brasileiro só é otimista entre o Natal e o Carnaval”.

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Paul Valéry: “Os otimistas escrevem mal”.

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Sofocleto: “O otimista vive com uma grande confiança na má sorte dos outros”.

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Michel Levine: “Pessimista é aquela pessoa que reclama do barulho quando a oportunidade bate à porta”.

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Karl Kraus: “O diabo é um otimista, se acha que pode tornar as pessoas piores do que já são”.

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Robert Opeenheimer: “O otimista acha este o melhor dos mundos. O pessimista tem certeza”.

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Oscar Wilde: “O pessimista é uma pessoa que, podendo escolher entre dois males, prefere ambos”.

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François Truffaut: “O pessimista é um otimista com experiência”.

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Lewis Mumford: “Os conservadores são pessimistas quanto ao futuro e otimistas quanto ao passado”.

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Machado de Assis: “Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos. Há pessoas que sorriem por saber que os espinhos têm rosas”.

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Miguel Unamuno: “Não são as nossas ideias que nos fazem otimistas ou pessimistas, mas o otimismo e o pessimismo de origem fisiológica que fazem as nossas ideias”.

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José Saramago: “Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo”.

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Saramago, de novo: “Os únicos interessados e mudar o mundo são os pessimistas, porque os otimistas estão encantados com o que há”.

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William Golding: “Sou otimista por natureza, e pessimista por convicção intelectual”.

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Oscar Niemeyer: “Há o pessimismo que bate quando estou sozinho e penso no mundo. Mas se é para ir a uma festa em que há mulheres bonitas, o pessimismo desaparece”.

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Mark Twain: “O homem que é pessimista antes dos 50 anos, sabe demasiado; o que é otimista depois, não sabe o bastante”.

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Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.

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Eu: “Para o preso pessimista, o regime semiaberto é meio fechado”.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

6 comentários em Cultura inútil: Otimismo e pessimismo

  1. Humberto Lago // 24/10/2018 às 12:02 pm // Responder

    Mouzar

    Gostei do tema e do seu texto.

    Parabéns.

    Abraços

    HLago

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  2. Mouzar Benedito // 24/10/2018 às 2:02 pm // Responder

    Obrigado, Humberto. A coisa tá braba.

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  3. Valeu, Mouzar !… Super-bom e oportuno!!!

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  4. Flávio Aguiar // 24/10/2018 às 5:29 pm // Responder

    Antonio Candido: sejamos pessimistas na análise, optimistas (ele falava assim…) na ação. Grande mestre.

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  5. Mário Colombo // 25/10/2018 às 6:48 am // Responder

    Como sempre, muito realista e bem humorado. É muito relaxante ler os textos do Mouzar,linguagem simples e oportuna.

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  6. Letícia Meirelles // 25/10/2018 às 7:34 am // Responder

    por vezes me pessimiso com meu otimismo…

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