Eleições 2016: Uma grande derrota, dois casos significativos e algumas hipóteses

O voto que se desloca do petismo, vai em grande parte para a desilusão

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Por Mauro Luis Iasi.

Não há nenhuma dúvida que o resultado das eleições municipais apontam para uma grande derrota das forças progressistas e de esquerda, portanto, uma vitória para as posições conservadoras. No entanto, o que podemos extrair pela análise, ainda preliminar, dos resultados deve ir além desta constatação.

Quando olhamos de perto dois casos significativos, o de São Paulo e do Rio de Janeiro, ao lado de alguns indicativos nacionais, podemos arriscar algumas hipóteses para entender o tempo presente e as perspectivas que se abrem.

A derrota vista mais de perto

Os dados parecem demonstrar que o PT é o maior derrotado nestas eleições, sem dúvida pela intensa campanha de ataques jurídicos, midiáticos e políticos que culminaram no afastamento da presidente e continuaram depois disso. Não apenas caiu em número de cidades na qual elegeu prefeitos, caindo de 630 em 2012 para 265 em 2016 (uma queda de 59,4%), mas perdeu em locais significativos, como é o caso da capital paulista e na região metropolitana de São Paulo (Guarulhos, ABCD, Santos, etc.), teve desempenho abaixo do esperado no nordeste, foi derrotado em Porto Alegre e no interior gaúcho. Elegeu no primeiro turno apenas em uma capital (Rio Branco, no Acre) e foi para o segundo turno no Recife. Se considerarmos seu principal escudeiro, o PCdoB, apenas agregamos o segundo turno em Aracajú e, no conjunto, o crescimento de 51 para 80 cidades que governará, sabe-se lá com que alianças e com qual personagem.

Com estes resultados, num quadro geral que parece não será alterado significativamente com as disputas ainda em aberto no segundo turno, o PT caí do terceiro para o décimo lugar quanto ao número de prefeituras. Considerando o número de votos recebidos pelo PT constatamos uma queda de 60%, passando de 17,2 milhões para 6,8 milhões.

Mas, quem ganhou? É bom lembrar que o PT já em 2012 estava apenas em terceiro lugar em número de cidades governadas. O PMDB que era o primeiro neste quesito, manteve a posição, no entanto, com um crescimento relativamente pequeno, passando de 1015 para 1027 cidades, amargando derrotas importantes em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.

A mídia monopolista isola este critério para transformar o PSDB no grande vencedor. Ainda que tenha crescido de 686 para 791 (crescimento de 15,3%), vencido em capitais importantes e estar disputando o segundo turno no maior número de cidades, permanece em segundo lugar atrás do PMDB, posição em que já estava em 2012.

O que marcou este primeiro turno foi a pulverização, tanto à esquerda como à direita – por motivos opostos. Se na esquerda ela marca a defensiva da derrota, à direita a fragmentação é resultado da confiança que permite disputar entre si os despojos da derrota do petismo. Estas eleições têm grande importância no posicionamento das forças políticas para as eleições presidenciais. A pulverização de siglas neste multipartidarismo carente de conteúdo divide o botim entre coisas como o PSD de Kassab, PRB do Bispo Crivella e uma miríade de legendas como PSC, PHS, PTN e outras, preparando o mercado político dos apoios aos projetos e ambições visando as eleições nacionais que virão.

Disso resulta uma primeira constatação: considerando as duas principais legendas golpistas (PMDB e PSDB), podemos considerar que seu crescimento foi menor que a queda do PT. Em números absolutos, os dois levaram 117 prefeituras a mais do que em 2012 e o PT perdeu 374. Ainda que tenham migrado na maior parte para forças comprometidas com a interrupção do mandato da presidente eleita, podemos afirmar que a aventura oportunista rendeu menos do que esperavam as grandes legendas do conservadorismo. O desempenho pífio da REDE de Marina Silva e a queda do PSB comprovam nossa hipótese. Os balões de ensaio não decolaram. A tradicional expressão da direita não dá conta da tarefa, mas é ela que ocupa o espaço. Esta não é uma boa notícia para a direita.

Um dos efeitos deste fato é o crescimento da extrema direita. No Rio, a candidatura do filhote do Bolsonaro teve votação expressiva e elegeu com folga o outro filho para a câmara municipal. Ainda não é, entretanto, uma alternativa nacional para os propósitos das classes dominantes brasileiras.

Mas para onde foi o descontentamento produzido tão paciente e profissionalmente? Os índices de abstenções, votos brancos e nulos podem ser uma pista interessante. A soma dos votos brancos, nulos e abstenções ganhou as eleições em nove capitais e a oscilação que eleva para 17,58% o percentual de abstenções (em 2012 havia sido algo entorno de 12%), mascara que em algumas cidades este número ultrapassou a marca dos 30%.

Em São Paulo, por exemplo, as abstenções somaram 21,84%, os nulos 11,35% e os brancos 5,29%, ultrapassando em números absolutos os votos recebidos por João Doria. Este foi vitorioso com algo próximo de um terço dos votos considerando o universo total e não apenas os válidos, o que lhe garantiu a vitória no primeiro turno com o percentual de 53%.

No Rio, as abstenções chegaram à marca de 24,28% dos votos, os brancos foram 5,5% e os nulos 12,76%. Caso consideremos o universo dos eleitores da cidade do Rio de Janeiro, isto significa que, em conjunto, o volume de votos não dados aos candidatos chega à marca de 1.877.000, o que representa 38,32% em relação aos 4.898.045 eleitores da cidade. Desta forma, em números absolutos, os votos brancos, nulos e abstenções somados representam um volume maior que os votos de Crivella e Freixo juntos (1.377.625 votos, contra 1.877.000).

Não podemos afirmar com segurança o conteúdo destes “não votos”, que vão desde a impossibilidade de estar na cidade em que ocorre o pleito, o erro na hora da digitação, até o protesto. Mas, podemos apresentar como nossa segunda constatação que o principal efeito das manobras golpistas foi o crescimento do desencanto com as formas da democracia representativa no Brasil. Dito em outras palavras, o voto que se desloca do petismo, vai em grande parte para a desilusão.

São Paulo e Rio de Janeiro como dois casos exemplares

Mesmo com as considerações feitas, a vitória do PSDB em primeiro turno na capital paulista é um fato politicamente devastador para o PT. O fato de Haddad ter ficado em segundo lugar, ameniza mas não evita a profundidade da derrota. São Paulo já conheceu esta alternância antes, entre governantes ligados diretamente ao PSDB e ao PT, isso não seria de se estranhar nestas condições. O que chama a atenção é o volume da derrota (a diferença entre o candidato tucano e o petista foi de mais de 2,1 milhões de votos), considerando quem é João Doria e o que foi a administração petista, isso é surpreendente.

Dois mitos se dissolvem em poeira nas eleições em São Paulo. De um lado a crença que os “feitos” administrativos pesam muito na hora da definição do voto, como se a “obra” de um prefeito falasse mais do que ele próprio em uma disputa eleitoral (no Rio, também, Eduardo Paes sofreu desta síndrome). Haddad fez uma boa administração, ainda que como tudo que marcou o ciclo petista tenha sido desastrosa do ponto de vista político, mas isso pesou pouco. O candidato de proveta fabricado nos laboratórios Alckmin (ou seria ACME dos famosos personagens Looney Tunes), que gosta de dizer que começou do zero e trabalhou muito para chegar onde chegou, pode com tom farsesco fazer com que uma pilheria ganhasse das realizações em políticas públicas e na gestão “moderna” da cidade.

Alguns podem agora culpar a falta de divulgação ou a qualidade da comunicação realizada pela prefeitura (tenho certeza que o custo monetário foi bem alto pelos serviços prestados) ou a conhecida injustiça com a qual o povo trata aqueles que o amam. Ainda que tenha seu peso, não creio que seja aí que encontraremos a raiz da questão. Não basta realizações de uma gestão, ou sua correta divulgação, se não houver forças sociais que a defendam. A pergunta é, então, o que corroeu as bases sociais de sustentação política do governo petista em São Paulo.

A falta de autocrítica do petismo governista é um assombro. Diante de uma gestão, diríamos nós, decente, como explicar que as próprias bases sociais tenham preferido o Richie Rich (Riquinho)?

O fato é que segmentos sociais e indivíduos “compraram” a imagem de um “empresário de sucesso”, um “gestor privado da coisa pública”, um “não político”, enquanto os supostamente beneficiados pela gestão decente, não se dispuseram a defende-la, fora, evidentemente, do circulo da “militância” que o fez por dever de ofício ou vínculo empregatício. A nosso ver, isso está diretamente relacionado ao esvaziamento político da gestão. A gestão é do Haddad, as conquistas são de sua personalidade ou mérito do modo petista de governar. Lutas sociais e lutadores são eclipsados, quando não combatidos por atrapalhar a genialidade dos operadores políticos. Reduzida a uma questão de personalidade e capacidade política ou de gestão da cidade, a população expropriada de sua dimensão política, responde despolitizadamente.

Isso remete ao segundo mito que agora desmorona: a crença do petismo que no momento decisivo as bases sociais correm em seu apoio e a esquerda, na falta de outra alternativa para fazer frente à direita, salva o petismo de suas derrotas. Os dois fatos se interligam. Nem as “bases sociais” compareceram, nem a esquerda se moveu nesta direção. Não falo apenas da decisão das direções que poderiam estar certas ou erradas de acordo com o juízo que se faça, mas do movimento objetivo daqueles que não votaram em Haddad. E o motivo dos dois movimentos é o mesmo.

O petismo no governo, da mesma forma que nacionalmente, optou por uma governabilidade pelo alto e muitas vezes contra sua base social e sua identidade de esquerda. Paciente e cotidianamente destruiu as bases identitárias com que agora precisava contar. Haddad empenhava-se em conseguir acordos com os empresários do transporte, afirmando a necessidade de aumentar as tarifas, no momento em que a juventude explodia as ruas naquilo que levaria a junho de 2013. Abraçou Alckmin e recorreu ao governo federal contra as mobilizações, enfiando a cabeça na areia e torcendo para que tudo passasse rápido. Muito daquilo que agora se apresenta como “gestão moderna da cidade”, ocorreu como tentativa tardia e, talvez, insuficiente, em dar uma resposta ao que explodiu em 2013. É louvável que pelo menos tenha tentado, coisa que o governo federal não fez.

Empenhado em cobrar que todos “naturalmente” o apoiassem para derrotar a direita em São Paulo, não se apercebeu que o PT não é mais o ponto em que a esquerda e amplos segmentos dos movimentos sociais vêem como forma de derrotar a direita, mas como uma força que se aliou a esta direita para impor uma série de derrotas profundas aos trabalhadores. O fato do PT estar aliado em quase dois mil municípios aos “golpistas” que diz combater, não ajuda muito. Haddad não procurou a esquerda porque arrogantemente acreditava que ela viria como sempre, mas empenhou-se em atrair para sua governabilidade o PMDB e seus satélites, o Chalita e outras figuras de natureza e caráter deploráveis. Como sempre. Mas, desta vez… não deu certo.

O caso do Rio de Janeiro

Neste ponto o Rio de Janeiro é um contra-exemplo que nos ajuda a compreender este complexo cenário. Enquanto em São Paulo se conclamava a união de todos em torno de Haddad, no Rio dividia-se a esquerda lançando a candidatura do PCdoB que quase consegue levar ao pesadelo de um segundo turno entre Crivella e Pedro Paulo. Este não é um aspecto menor, revela esta arrogância que descrevíamos. Jandira Feghali tentou desesperadamente construir o discurso daqueles que estando contra o governo Temer deveriam unir forças para derrotar o PMDB no Rio, como se tivessem um DNA ou o registro fundiário registrado em cartório de “vitimas do golpe”, de forma que todos estariam obrigados a cerrar fileiras com ela, porque ela poderia derrotar o PMDB no Rio.

O mito que desmorona no Rio é outro, mas tem parentesco como os dois que apontamos em São Paulo. Cai a crença de que a única maneira de enfrentar a direita é uma aliança ampla na qual os setores populares têm que se submeter a alianças com segmentos da política conservadora, inclusive com segmentos da própria direita.

O que as eleições municipais parecem demonstrar é que o PT e seus aliados receberam um voto de desconfiança além das eleições em si, mas como protagonistas da luta contra o governo Temer e o PMDB. No caso do Rio isso se explica facilmente. Ainda que considerarmos o movimento de “voto útil” que desidrata a candidatura do PCdoB e seus aliados petistas em benefício de Freixo, somente isso não pode explicar a razão pela qual não ocorreu o contrário, isto é, porque desta vez o voto útil não beneficiou os ex-governistas.

A nosso ver, a resposta é relativamente simples. Se por um lado o golpismo de certa forma incensou o PT e seus aliados, por outro lado é transparente que até pouquíssimo tempo estas forças políticas estavam aliadas na rapinagem que se presenciou no governo do Estado e na cidade do Rio de Janeiro. O PT e o PCdoB, mesmo diante do terremoto de 2013, demoraram a largar o osso das administrações estadual e municipal. O apoio à Cabral, Pezão e Paes cobraram um alto preço e destruíram qualquer possibilidade da candidata do PCdoB apresentar-se como alternativa de fato àquilo que ela participava até ontem.

Aquilo que se consolidou como caminho de resistência ao PMDB e contra a extrema direita que mostra sua força, foi uma frente de esquerda, restrita nos termos daqueles que insistem em usar este qualitativo porque gastaram o termo para fazer frentes exatamente com o PMDB e outras siglas conservadoras. No Rio vai ao segundo turno uma frente formada pelo PSOL e PCB e apoiada por muitas outras organizações de esquerda e movimentos sociais, com pouco tempo de televisão, poucos recursos, sem apoio de máquinas, sem alianças espúrias, mas que logrou mobilizar uma militância e uma energia social que o petismo desprezou, ou no mínimo relativizou, como recurso de governabilidade. Nos parece significativo.

O ensinamento que pode se tirar disso é mais importante para o futuro do que para explicar o passado. O petismo parece imune à autocrítica, com exceção de seus segmentos mais lúcidos e infelizmente minoritários. O segundo turno no Rio pode levar-nos a compreender que aquilo que pode no médio e longo prazo ser construído como alternativa real de poder não passa pela repetição dos erros da experiência que agora se encerra, mas pela redescoberta da independência de classe e capacidade de enraizamento social que possa resistir agora para depois fazer frente à ofensiva reacionária que se implantou em nosso país. A ilusão de recompor as alianças que tornaram possível o ciclo passado, por conta de qualquer deslocamento do bloco conservador, não passa disso: uma ilusão, e uma ilusão perigosa.

Isso significa que a ida ao segundo turno, a possibilidade difícil de vitória contra o fundamentalismo obscurantista, não pode levar a uma ampliação de alianças e acordos políticos que venham a diluir a identidade de esquerda de nossa alternativa. Este caminho sedutor é o caminho do pântano. O volume dos votos nulos e das abstenções é um recado que precisa ser compreendido. Os limites da democracia representativa, que já se mostravam evidente em 2013, apontam rapidamente para sua falência. Se não soubermos dirigir este descontentamento em uma direção revolucionária, pode ser o caldo de cultura necessário para alternativas reacionárias.

A resistência no Rio, neste sentido, é mais simbólica do que efetiva. Mesmo um resultado favorável no Rio, assim como a possibilidade de alguma vitória em Belém ou Recife, não serão capazes de reverter a derrota no quadro geral para as forças conservadoras. Mas não devemos menosprezar resistências simbólicas, elas podem ser o ponto entorno do qual se articulam esforços e lutas que podem, mais adiante, reverter a correlação de forças hoje tão desfavorável.

***

Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.

23 comentários em Eleições 2016: Uma grande derrota, dois casos significativos e algumas hipóteses

  1. Lauro Mattei // 04/10/2016 às 2:43 pm // Responder

    Impressionante caro Mauro: o problema todo é o PT. E o papel da direita não teve nenhuma influência no resultado? Tenha dó….
    LMattei

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  2. É necessário antes de tudo considerar que o que ocorreu foi um resultado eleitoral, mas que esse não muda os valores socialistas incorporados no pensamento coletivo embora por questões eventuais este não se traduza em votos. Por outro lado temos de levar em conta que há na sociedade um núcleo ideológico de esquerda que não se desfaz aos vendavais da história.

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  3. Hélio Santos // 04/10/2016 às 3:03 pm // Responder

    Gosto bastante do Mauro Iasi e o leio com frequência. Mas desta vez não posso deixar de fazer tal comentário. Concordo com o comentário do LMattei. Estou cansado de ler, ouvir isso: “A falta de autocrítica do petismo governista é um assombro”. Não foi isso que levou a derrota do PT nessas eleições. Desconsiderar o papel da direita, seja dos partidos, seja da mídia, seja das igrejas, é incorrer num erro que a própria direita quer que acreditamos. A versão dita de direita quer nos fazer crer que o PT e suas administrações péssimas e fraudulentas foi o próprio responsável pela derrota. Isso é mentira. Primeiro porque suas administrações não foram péssimas e nem fraudulentas (exceto, claro, as exceções de praxe). Segundo que há sim uma orquestração de um golpe para derrubar a presidenta e fulminar o partido. Foram vitoriosos e, pior, estão conseguindo até mesmo emplacar a versão que eles querem.

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    • Oi Hélio,

      O texto ao qual me referi do Valter Pomar pode ser encontrado aqui: valterpomar.blogspot.com/2016/10/sobre-os-epitafios.html‎
      Só tive acesso depois de já ter escrito o meu, mas concordo com a linha geral da argumentação, ainda que naturalmente com uma visão distinta. Boa análise.
      Abraço

      mauro iasi

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  4. Se pode também imaginar que o alargamento da direita com o recrudescimento de suas prática socialmente excludentes são a preparação do solo onde a esquerda irá semear e colher.

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    • Caro Hélio,

      Não vejo isso no texto, pelo contrário. Afirmo explicitamente que: “Os dados parecem demonstrar que o PT é o maior derrotado nestas eleições, sem dúvida pela intensa campanha de ataques jurídicos, midiáticos e políticos que culminaram no afastamento da presidente e continuaram depois disso”. Também não afirmo que as administrações petistas são “péssimas e fraudulentas”, mas “desastrosas do ponto de vista político”, o que creio que são de fato.
      Feridas recentes doem e a autocrítica terá que esperar um pouco. O texto de Valter Pomar, defensor inconteste do PT, partilha de críticas semelhantes. É mais fácil culpar a incrível conspiração golpista que de fato se deu, mas ela não explica por si mesma a dimensão da derrota.
      O problema que o texto aborda não é se a versão da direita é ou não verdadeira, mas por que segmentos populares significativos compraram tal versão. Sem olhar criticamente para a experiência petista não se descobrirá a resposta.

      Um abraço

      Mauro Iasi

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  5. Desisti de analisar quando ele acha que 2013 foi explosão da juventude…..Aprenda um pouco sobre manipulação e vamos conversar. Não deixa de ser um traidor das causas populares. Abandone seu concurso publico e venha pro trabalho Sr, Iasi.

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    • Olá Sr. Manoel,

      Vou fazer de conta que você é sério, não o conheço e pelo jeito você não me conhece.
      Neste Blog há várias análises muito pertinentes refletindo sobre os acontecimentos de 2013, inclusive um excelente livro publicado pela Boitempo (Cidade Rebeldes) que reúne muitas contribuições, inclusive uma minha, sobre o assunto. Se você quer mesmo conversar… leia e se informe, para não ser, por assim dizer, manipulado.
      Quanto ao meu concurso público, pretendo continuar trabalhando no que faço, ainda que certos vermes de extrema direita tenham tentado, em vão, cassar meu concurso e meus direitos, persisto.

      Mauro (concursado e trabalhando)

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  6. Parabéns Mauro, esses necrogovernistas não sabem ler msm, não é possível…

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  7. Michelle Reis // 04/10/2016 às 6:24 pm // Responder

    Aqui em SP a esquerda está bem desunida, e isso é bem triste. Desde o lançamento da coligação para a reeleição do Haddad, muitos militantes e eleitores do PT declararam ser contra o vice Gabriel Chalita e os partidos PR e PROS, que em sua maioria votaram pelo golpe. Uns chamam até de “coligação rabo preso”. E depois do resultado, muitos atacam o PSOL e o PSTU por terem preferido anular do que votar no Haddad, ou nos próprios candidatos, ajudando a “massacrar” o PT elegendo o Dória no primeiro turno. A qde de votos nulos e abstenções foi surpresa pra todos, inclusive porque foi um fenômeno nacional, sem uma organização oficial para tal. Nas últimas 3 eleições votei PSOL, é do partido que eu mais aguardo nomes e possíveis revelações de bons candidatos, mas fiquei chateada com a chapa Erundina/Ivan Valente. Já esperava o Ivan como candidato, nada contra a Erundina, ela tem sido uma leoa na Câmara, e indispensável no cenário atual, mas em SP estamos carentes de esquerda, achei que dava para arriscar revelações, e que os dois nomes engessaram nesse quesito. Ficou até estranho criticar velha política, fazendo “políticagem velha” com o ato de colocar os principais nomes do partido e já deputados para uma eleição municipal. Infelizmente depois do resultado, a galera do PT culpa os outros partidos, e “meio que se recusa” a olhar os erros do partido, já vi analogias com o caso do Maluf (se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais vote em mim..) com a coligação e o vice Chalita (Não vote em golpistas), e eles estão até ofendendo quem declarou voto nulo, acusando de eleger diretamente o Dória, o que eu discordo, pois a quantidade de votos do PSDB aqui é grande, assim como o antipetismo, e inclusive no sábado ouvi duas mulheres conversando na padaria: “O pastor pediu para votar no Dória, porque o Haddad subiu nas pesquisas”. Enfim, o cenário que eu vejo é esse. Espero que o PT se recupere, principalmente internamente, pois a esquerda paulista precisa muito dele. Bjs

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  8. Claudio Rocha // 04/10/2016 às 7:12 pm // Responder

    Prezados, comparei a votação do Alckmin na capital em 2014 (2.987.160) e a do Dória em 2016 (3.085.187) e concluí que os 3.096.620 desencantados paulistanos são de esquerda e propuseram, em silêncio, uma aliança orgânica com a esquerda! Autocrítica, sim, e trabalho de base vivendo o dia-a-dia da população, o que não se faz via gabinetes, meros instrumentos que podem ser utilizados para organização e mobilização políticas. Os eleitores do Dória fizeram a parte deles e muito bem! Estão espalhados gerindo dezenas de entidades filantrópicas com ajuda do governo estadual; muitos são empresários doadores de dinheiro e de tempo! Grato pela atenção!

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  9. Caro Professor,

    Fui aluno seu na Faculdade de Direito São Bernardo. Tive a felicidade de assistir aulas de Ciências Políticas e Teoria do Estado e Metodologia. Acho todos os seus pensamentos incríveis. Li o dilema de Hamlet e acompanho seu blog há um bom tempo. Ainda tive a oportunidade de conhecer seus filhos, os quais admiro tanto quanto o pai!

    Preciso dizer algumas coisas, talvez desabafar a respeito desta publicação. Eu acredito que o resultado dessas eleições é como um ato inteligente, porém atrasado de consciência da população. Lembro muito bem a sugestão do PCB e do senhor no segundo turno das eleições de 2013/2014. Nulo era a resposta para o segundo turno, pois as reformas de base e todas as promessas feitas pelo governo do PT, principalmente do mandato da Dilma, não foram realizadas em sua integralidade. Sempre realizaram obras e feitos incompletos, aparentando sempre uma promessa de progresso, porém tudo estava sendo realizado da mesma forma que governos anteriores realizavam, cheios de conchavos e muitas propinas.

    Eu vejo os governos do PT, inclusive da prefeitura de São Bernardo, como governos que atuam um certo progresso, porém esse progresso é necessário para uma certa evolução, não dá para vivermos na roça enquanto o mundo evolui. Muitas obras foram realizadas aqui em São Bernardo, hospitais, saneamento básico, inclusão social e muito mais. Em comparação a outras administrações essa realmente foi melhor, porém não funcionou.

    Vejo que a sugestão do segundo turno tenha sido aceita somente nesse primeiro turno. Acho que de certa forma a população está desacreditada na política e por isso não tem vontade de votar em ninguém pois “é tudo bandido!” e aliado a esse pensamento vem o cansaço do dia a dia que impede as pessoas de estudarem seus candidatos.

    Outra coisa, a esquerda é muito mal representada, seja em número ou em siglas que não são o que dizem. Não consigo ver o PT como um partido de esquerda, talvez um partido de propostas sociais, porém com o viés de sempre melhorar a economia e tudo mais. Quadros comparativos dos governos do FHC, Lula e Dilma mostram que tudo que a direita gosta o Lula e o PT fizeram melhor e como resultado a melhoria dos movimentos sociais.

    Posso estar enganado, mas não seria a ausência de um movimento de esquerda expressivo a razão de tudo isso? O golpe em si foi um golpe entre um direita light e uma direita conservadora?

    Bom, há tantas coisas que gostaria de ouvir do senhor para me esclarecer, espero que um dia venha para São Paulo e redondezas para poder te encontrar professor.

    Abraços

    Rafael.

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    • Olá Rafael,

      Bom ter notícias suas, ainda que em tempos sombrios. Um dos problemas que nos acometem é que imaginávamos imprudentemente que a dialética da história havia sido substituída pela evolução linear e que tempos mais difíceis estavam enterrados para sempre no passado.
      Sabemos que não é assim. Da mesma forma que a euforia “democrática” não duraria para sempre, o pesadelo obscurantista de agora também passará. É muito difícil levantar a cabeça acima de nossos dramas imediatos, mas é necessário para que tenhamos alguma perspectiva, ainda que remota.
      Você tem razão quanto a ausência ou pouca relevância de uma verdadeira força de esquerda em nossos dias, mas isso não se cria por decreto ou auto proclamação. É uma construção, como foi o PT um dia, hoje também já estão se gestando novas formas. Quando contarem esta história, quando a poeira baixar, certamente muitas coisas dignas e boas que foram feitas serão resgatadas. A objetividade histórica é, no entanto, implacável, inclusive com as boas intenções.

      Um grande abraço

      Mauro Iasi

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  10. Republicou isso em afalairee comentado:
    Os dados parecem demonstrar que o PT é o maior derrotado nestas eleições, sem dúvida pela intensa campanha de ataques jurídicos, midiáticos e políticos que culminaram no afastamento da presidente e continuaram depois disso.

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  11. É, sem dúvida, tempo de redirecionar toda essa fúria da massa descontente com os governos que por hora se expressa em votos nulos para construção da unidade da luta, ganhar as massas, mostrar os caminhos que levam as verdadeiras alternativas, mostrar que a solução é lutar contra o capital! Melhor momento não há, o povo tá querendo mesmo um fora todos, zerar os ponteiros, recomeçar… mas tem que saber que só isso não basta, pior não sabe p’ronde ir (n preciso nem dizer pq).
    O que quero dizer é esquerda não pode entrar nessa disputa e perder o foco que é a construção da unidade da luta de classe contra o capital.
    Não sei se a frente de esquerda é mesmo uma alternativa segura, vejo algumas alianças complicadíssimas! Vejo com assombro é o deslocamento de companheiros legítimos da esquerda pro lado do (híbrido) Psol – que constrói alianças duvidosas. Essa Frente de certo não é o ideal, mas é mesmo a saída que temos pra agora? Espero não ver o PCB ajudando a construir um novo pt.

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  12. Kaio Pimentel // 05/10/2016 às 4:00 pm // Responder

    Oi professor, sou economista e, talvez por essa minha formação, acho que seu texto tem uma grande lacuna, ainda que toque em vários pontos interessantes pra tentar explicar o que ocorreu até agora nas eleições. Seguem minhas considerações que de algum modo (acho) ajuda a explicar o quadro geral:
    1. Acho que o principal fator que explica o desempenho desastroso do PT nesta eleição é a atual situação econômica do país, causada, em grande parte, pela própria desastrosa política econômica adotada no segundo governo Dilma (Não que o primeiro governo dela tenha sido bom, mas o segundo foi um desastre). O inconsequente ajuste fiscal promovido pelo Levy, patrocinado pela Dilma, teve consequências drásticas como a forte e rápida elevação da taxa de desemprego, queda forte da massa salarial e etc. Na minha opinião, são esses fatores materiais e objetivos que explicam principalmente a forte redução dos votos do PT.

    2. Num cenário como esse, e dada os interesses da grande imprensa, ficou muito mais fácil vender que o PT é o grande vilão da atual situação, ainda que as forças políticas alçadas ao poder com o golpe queiram aprofundar as políticas de “austeridade” fazendo a reforma da previdência, PEC 241 e etc. Mas não saiu caro apenas para o PT, embora este partido tenha sido de longe o mais prejudicado. Nesta eleição (a se confirmar no segundo turno) provavelmente teremos a menor taxa de reeleição entre os prefeitos da história.

    3. Lembro que desde 2003 já existiram diversos escândalos de corrupção, o que não impediu o PT de ganhar quatro eleições seguidas para presidente, pois, em geral, a despeito do moralismo seletivo e manipulador da grande imprensa, a situação geral do trabalhador estava melhorando e isso é facilmente demonstrável com dados sobre emprego, salários, etc. Em dezembro de 2014, última eleição ganha pelo PT, a taxa de desemprego das regiões metropolitanas chegou ao mínimo histórico da série.

    4. Enfim, embora sua análise seja pertinente em diversos aspectos, faltou materialidade, na minha opinião. Os resultados políticos são fortemente condicionados pelas condições objetivas de vida da classe trabalhadora, que sente que, desde o início de 2015, as coisas estão piorando rapidamente e acaba querendo “mudar”, dar uma chance à oposição. Infelizmente, por diversos motivos, não conseguem enxergar que votar na direita (puro sangue) e/ou simplesmente não votar pode contribuir para piorar a situação.
    Abraço, Kaio.

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  13. Wellington Santana // 05/10/2016 às 6:31 pm // Responder

    O crescimento do percentual de votos nulos, brancos e abstenções é um bom sinal de “uma nova mudança, em breve, vai acontecer. É o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo. É precisamos todos, rejuvenescer”.

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  14. Caro Mauro Iasi,

    Muito Pertinente suas idéias acerca do ocorrido nas eleições. O PT infelizmente, não percebeu que no “valetudo” que entrou com todas as alianças e acordos espúrios promovidos ao longo da ultima década, “tudovale”, inclusive o golpe.
    Quis jogar o tempo todo sem regras, depois começa a clamar por regras?
    abraços,

    Breno

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  15. Mauro Alexandre Pereira de Almeida // 08/10/2016 às 6:55 pm // Responder

    A verdade é que o PSOL terá um grande crescimento político a partir do ano que vem. E outro fato muito importante é o crescimento que ele terá a partir de 2018 nas eleições gerais.

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  16. Eu até concordo com alguns pontos genéricos que o Mauro Iasi expõe no início do seu artigo, mas acho que, em última instância, ele faz uma análise errada da conjuntura.

    >No caso de São Paulo, Iasi faz uma extrapolação absurda do governo Haddad. Aquele episódio de 2013 (das passagens de ônibus) foi uma cagada de proporções épicas por parte de Haddad (que inclusive foi duramente criticada por setores importantes do próprio PT) – mas foi a única. Querer atribuir a isso a dimensão da derrota para Dória é forçar a barra, até porque o padrão se repetiu no resto do Brasil, não se tratou de um episódio isolado.

    Até porque o MPL fez uma segunda manifestação, se não me engano em 2015: Haddad não repetiu o erro, e o MPL, num movimento oportunista, agrediu Haddad fisicamente (numa tentativa populista barata de tentar por PT e PSDB no mesmo pote), isolou a base que apoiava o PT e abriu caminho para a PM de Alckmin massacrar a manifestação. Ficou por isso mesmo, o MPL desapareceu com a mesma velocidade que surgiu e São Paulo continua sendo o Tucanistão.

    Iasi também não cita a batalha do IPTU progressivo – na qual a Câmara golpista reacionária impôs uma enorme derrota a Haddad (talvez essa tenha sido a batalha decisiva, que acabou com as suas chances de se conectar com a periferia).

    >A análise do Rio de Janeiro não faz o menor sentido, por uma razão muito simples: Marcelo Freixo vai perder, e vai perder feio, no 2º turno, para o fundamentalista religioso Crivela (a última pesquisa deixa Freixo mais de 15 pontos abaixo). Isso apesar de Jandira Feghali anunciar, dia 3 de outubro, total apoio a Freixo e o PT, na noite do mesmo dia, apoio unilateral e incondicional ao PSOL no 2º turno.

    Também é mentira quando Iasi diz que o PSOL-RJ não faz concessão aos setores conservadores para fins eleitoreiros: Freixo aceitou o apoio do PT-RJ, sob a condição de que não fosse visto com Lula em público (passeatas, comícios etc.). A coordenação da sua campanha disse que a rationale disso seria preservar os votos que ele tem na zona sul, de conservadores.

    Em suma, Marcelo Freixo vai tomar um pau da extrema-direita com ou sem o apoio do resto da esquerda carioca, com ou sem o apoio de uma suposta classe média da zona sul do Rio de Janeiro.

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