O golpe de 2016 no contexto da crise do capitalismo neoliberal

A ruptura da institucionalidade democrática no Brasil em 2016 por meio de um golpe de Estado jurídico-parlamentar ocorreu no contexto da profunda crise do capitalismo global.

temer crise

Por Giovanni Alves.

Para que possamos conhecer a natureza essencial do golpe de Estado ocorrido no Brasil em 2016 temos que levar em consideração não apenas a processualidade imediata da conjuntura política nacional, com os bastidores do jogo de poder entre PT, PMDB e PSDB e as articulações sinistras entre Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal, Procuradoria Geral da República, Ministério Público Federal e Polícia Federal no seio do aparelho de Estado, ao lado da Operação Lava-Jato e a intensa manipulação da opinião pública pela grande imprensa, com destaque para a TV Globo. Todos os personagens visíveis (e invisíveis) do golpe de 2016 atuam, muitas vezes sem o saber, no palco histórico constituído pelas forças ocultas dos interesses econômicos, políticos e geopolíticos profundos que compõem o movimento das contradições orgânicas do sistema-mundo do capitalismo neoliberal em sua etapa de crise estrutural. Na verdade, é no plano do sistema-mundo do capital global que se disputam os interesses crucias da produção e reprodução da ordem burguesa planetária.

O Brasil é apenas uma província do sistema-mundo do capital global predominantemente financeirizado onde se disputa o reordenamento do sistema-mundo sob o comando do império neoliberal. Nesse momento, a adoção de uma perspectiva histórica tornou-se imprescindível, não apenas apreendendo, por exemplo, no plano da historicidade nacional, a miséria da política no Brasil, caracterizada historicamente pela pulsão golpista; mas também buscando entender, no plano histórico-mundial, o desenvolvimento da crise do capitalismo global e as mutações orgânicas do modo de desenvolvimento capitalista predominantemente financeirizado nos “trinta anos perversos” (1980-2010). Nesse período de trinta anos da história mundial, tivemos a débacle da URSS, a ascensão do capitalismo global, a dominância do neoliberalismo, a construção da União Europeia e, no alvorecer do século XXI, a crise da hegemonia imperial dos EUA por conta das ameaças ao poder do Dólar e, com a crise financeira de 2008/2009, as estratégias de recomposição geopolítica imperial no seio da mais profunda crise de civilização do capital desde 1929. A crise da hegemonia imperial dos EUA – verdadeira ameaça ao poder do Dólar – ocorreu na primeira década do século XXI com as fraturas geopolíticas da dominância do império neoliberal na América Latina, no Norte da África, no Oriente Médio e no Sudeste Asiático, tendo em vista a ascensão da China e da Rússia como protagonistas do novo imperialismo e a crise de hegemonia financeira devido o crack financeiro de 2008/2009.

Enfim, no palco da história sinistra do golpe de 2016 no Brasil operam, de modo intenso, interna e externamente, forças econômicas, político-ideológicas e geopolíticas ocultas – e algumas delas, nem tão ocultas assim – que coordenam os interesses estratégicos do Departamento de Estado norte-americano, o polo hegemônico do império neoliberal, com elementos (partidos, movimentos sociais, think tanks e meios de comunicação de massa) da oposição neoliberal, reacionária e oligárquica brasileira (a direita fisiológica e ideológica que ocupou com o afastamento de Dilma, o governo Temer). A matilha de cães da direita oligárquica – neoliberal e reacionária – expressa sua sede em derrubar – não mais pelo voto, mas por um golpe de força jurídico-parlamentar – seus adversários políticos internos, apropriando-se, deste modo, dos recursos de administração da ordem burguesa caduca.

Na verdade, o que ocorre há anos no Brasil, pelo menos desde 2013, com a fratura da frente política do neodesenvolvimentismo, é uma disputa intraclasse da burguesia, com camadas e frações de classe disputando não apenas os recursos do Estado brasileiro, mas definindo projetos de desenvolvimento do capitalismo para o Brasil de acordo com as disputas geopolíticas que ocorrem no palco histórico do sistema-mundo do capitalismo global.

O que se disputa na virada para a década de 2010 é o modo de resolução das contradições abertas pela crise financeira de 2008/2009 no plano histórico mundial. Trata-se de uma disputa no interior da ordem burguesa, tal como ocorreu por exemplo na década de 1930 a partir da crise de 1929. Esta necessidade de nova reestruturação da ordem do capital global é o que caracteriza a crise do capitalismo neoliberal. A ruptura da institucionalidade democrática no Brasil em 2016 por meio de um golpe de Estado jurídico-parlamentar ocorreu no contexto da profunda crise do capitalismo global. E ao dizermos “crise do capitalismo neoliberal”, é importante salientar que não nos referimos a um bloqueio terminal da possibilidade de reprodução da ordem burguesa mundial. Muitas vezes, a ideia de “crise” remete a noção de estagnação e queda. Mas, pelo contrário, as “crises” do capitalismo histórico possuem uma função histórica crucial – elas tratam de oportunidades de renovação para que o sistema-mundo do capital se recomponha num patamar superior, constituindo assim, uma forma social no interior da qual ele irá desenvolver suas contradições candentes no século XXI. É claro que a “crise” opera não apenas oportunidades de renovação da dominância hegemônica do capital, mas expõe também riscos contingentes de rupturas sociais e politicas adversas à dominância do capital global tendo em vista a luta de classes.

Nas condições históricas da crise estrutural do capital no século XXI, a recomposição da ordem burguesa no Brasil por meio do golpe de 1961 representa um declive civilizatório inédito na história do país. No momento, ele possui uma personalidade política, síntese trágica da farsa burguesa no Brasil: Michel Temer. O sinistro mordomo da Casa Grande senhorial assumiu a nobre tarefa histórica de promover a reestruturação reacionária e conservadora do capitalismo brasileiro nas novas condições históricas de dominância do império neoliberal face ao aprofundamento de suas contradições estruturais.

Depois da crise financeira de 2008/2009, o capitalismo global entrou num novo patamar de desenvolvimento que expôs as múltiplas contradições do sistema mundial do capital. Toda crise é uma síntese concreta de contradições acumuladas no desenvolvimento do modo de produção e reprodução capitalista. Desde os primórdios do desenvolvimento do capitalismo global como capitalismo histórico sob dominância do capital financeiro no começo da década de 1980, a economia mundial apresentou um movimento de volatilidade sistêmica decorrente da financeirização da riqueza burguesa. Esta deformação do espaço-tempo da produção de valor produzida pela financeirização da riqueza capitalista decorreu da crise estrutural de valorização do capital no plano do mercado mundial, crise de produção e formação de mais-valor no “núcleo orgânico do sistema” (EUA, Europa Ocidental e Japão) por conta da crise de superprodução crônica desde meados da década de 1970 (discutimos isso na Introdução do livro A tragédia de Prometeu, publicado pelo Projeto editorial Praxis em 2016).

Como salientamos, a nova dinâmica capitalista constituiu o espaço-tempo do capital global como dimensão da produção (e reprodução) do capital fictício que, na medida em que se tornou um sistema político-institucional e cultural da civilização do capital, enraizado no Estado capitalista no sentido ampliado, constrangeu como sistema-mundo, as unidades intranacionais e regionais a implementarem políticas neoliberais capazes de propiciarem materialidade efetiva à superexploração da força de trabalho nos Estados-Nação e à valorização fictícia do valor no plano dos mercados financeiros globais. É esta nova territorialidade do capital global predomiantemente financeirizado que corroeu a materialidade das políticas keynesianas, lastro do Estado de bem-estar social que caracterizou os anos dourados do capitalismo organizado do pós-guerra. Pelo contrário, o Estado neoliberal tornou-se hoje o agente político exterior dos interesses alienados da nova estratosfera do capital abstrato, o capital global predominantemente financeirziado, descomprometido com os territórios da Nação como materialidade dos acordos de concertação social da era keynesiana. Portanto, eis, de modo sintético, o quadro histórico-estrutural a partir do qual devemos refletir sobre a nova reação neoliberal no Brasil no quadro de crise do capitalismo global; reação neoliberal que se diferencia radicalmente da reação neoliberal no Brasil ocorrida em 1990 e que se deu num quadro de ascensão do capitalismo global, vitorioso com o Consenso de Washington.

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Esta pequena Introdução a título de advertência heurística, tornou-se necessária para expormos a verdadeira natureza da nova temporalidade histórica no interior da qual estamos inseridos no plano do capitalismo global da qual somos parte dependente e integrada, pelo menos desde 1990, com a vigência das políticas neoliberais dos governos Collor, Itamar e FHC, artífices do “Brasil Delivery”. O Brasil é, ao mesmo tempo, elo mais forte do imperialismo neoliberal na América Latina (o que explica a persistência do Estado neoliberal no Brasil); e, por outro lado, com os governos neodesenvolvimentistas de Lula e Dilma, tornou-se território estratégico para a construção do bloco contra-hegemônico ao poder do Dólar. Essa é a contradição visceral da arquitetura geopolítica do lulismo, que, ao mesmo tempo que implementou uma política externa contra-hegemônica ao império neoliberal, com o não-alinhamento à política externa de Washington, articulando-se com forças geopolíticas de combate ao poder do Dólar, ao mesmo tempo, não optou pela desconstrução do Estado neoliberal herdado da era Collor-FHC. Pelo contrário, no plano interno, o lulismo representou a ideologia do reformismo fraco que construiu uma estratégia de conciliação de classe – inclusive com setores fisiológicos da direita brasileira – visando a governabilidade. Despreparado para o mar revolto da profunda crise do capitalismo brasileiro na década de 2010, com a luta de classes assumindo o timão da dinâmica política no País, o lulismo paralisou-se com a implosão da frente política do neodesenvolvimentismo e a rearticulação política da direita senhorial da Casa Grande. O social-liberalismo ingênuo, como diz o ditado popular, “cutucou onça com vara curta”.

  1. Elementos da processualidade histórica do capitalismo neoliberal (1980-2015)

Uma leitura da processualidade histórica que explica o golpe de 2016 no Brasil implica discernirmos vários níveis de análise que compõem num quadro amplo do sistema-mundo do capital. O Brasil é importante parte compositiva do sistema-mundo do capital sob hegemonia do império neoliberal. Precisamos discernir o processo histórico da contradição viva do capital global das últimas décadas, processualidade histórica imersa numa profunda crise estrutural, impondo, deste modo, a necessidade candente e insana de reordenamentos geopolíticos e reestruturações capitalistas nas várias instâncias do ser social que compõem a civilização do capital. Iremos salientar neste pequeno artigo três planos da processualidade contraditória do capital: (1) a macroestrutura da economia global, (2) a geopolítica do novo imperialismo ou imperialismo neoliberal e, last but not least, (3) o sociometabolismo da barbárie, mutações culturais-ideológicas profundas no ser social da ordem burguesa com impactos decisivos na dinâmica da luta de classes.

Na verdade, o complexo de complexos da processualidade contraditória do capital indicados acima, alterou a forma de ser do Estado político do capital no sentido ampliado (sociedade política e sociedade civil), promovendo mudanças radicais no território material da luta política, sindical e ideológica da classe trabalhadora. Estas mutações sociometabólicas são comparáveis, por exemplo, àquelas percebidas por Antonio Gramsci no começo da década de 1930 nos seus Cadernos do Cárcere. A “revolução copernicana” que Gramsci operou na política revolucionária naquela época, adquiriu hoje um significado profundo, tendo em vista que o capitalismo histórico, pelo menos desde o pós-guerra, com o capitalismo fordista-keynesiano e hoje, com o capitalismo neoliberal, alterou profundamente a organização da cultura e dos intelectuais numa dimensão inédita na história do capitalismo moderno, provocando mutações no metabolismo social da classe do proletariado e da própria dominação do capital, fazendo com que as reflexões politicas de Marx, Engels e do marxismo clássico, lastreadas na percepção da sociedade civil (Bürgerliche Gesellschaft) do século XIX e primeira metade do século XX, tornem-se necessárias, cada vez mais insuficientes. O que denominamos de sociometabolismo da barbárie significa a degradação da pessoa humana-que-trabalha, condição existencial capaz de instaurar uma nova materialidade da luta de classe, principalmente no plano ideológico, requerendo para isso, uma nova organização da cultura e dos intelectuais orgânicos e portanto, uma nova estratégia política. Na verdade, a radicalidade das mudança histórias pesa como um fardo para aqueles que buscam operar a política de emancipação socialista hoje.

No livro Brasil delivery: servidão financeira e estado de emergência econômico (Boitempo, 2008), Leda Paulani observou que o enfrentamento da nova ordem do mundo neoliberal é o enfrentamento, não de uma razão como ocorria com o liberalismo clássico imbuído do Iluminismo do século XVIII, mas de uma crença irracional no fetiche do mercado – o que o circunscreve à lógica mercantil da vida social. Aliás, poderíamos dizer que a constatação de Paulani acusa a incorreção do título do interessante livro de Pierre Dardot e Christian Laval, lançado pela Boitempo este ano: A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Talvez o titulo mais adequado fosse mesmo “a nova irrazão do mundo”. Diz Paulani:

“Para enfrentar esse movimento avassalador [do neoliberalismo] seria preciso investir em políticas que buscassem resultados objetivos, por exemplo, na redução da abissal desigualdade do país”.

E observa:

Mas que fizessem isso trazendo consigo uma revolução cultural e de valores que proscrevesse como indignos e inaceitáveis os valores individualistas e puramente mercantis”.

Eis a falha política crucial do lulismo: investir na redução da abissal desigualdade social no Brasil, mas desprezou a luta ideológica contra os valores neoliberais (o que exigiria falar em “luta de classes”, elemento sem registro no léxico mental do lulismo).

No plano da macroestrutura da economia global, temos o marco histórico decisivo da crise estrutural do capitalismo predominantemente financeirizado que foi 2008/2009. Todas as crises financeiras globais anteriores (1987, 1996, 1999-2000), foram apenas sintomas cumulativos da lógica da financeirização da riqueza capitalista, que explodiu como bolha financeira, num patamar superior, em 2008/2009 nos EUA. Portanto, a história do capitalismo global ou capitalismo neoliberal, que se iniciou em 1980 – o marco da eleição de Reagan nos EUA, “núcleo orgânico” do sistema mundial do capital – teve em 2008/2009, seu ponto de inflexão histórica com a crise financeira global, que representou a “crise das crises” do capitalismo das bolhas financeiras (o capitalismo neoliberal) – inclusive os impactos na produção e no sistema bancário da explosão da bolha financeira em 2008/2009 nos EUA se desdobrou, como uma onda, pela década de 2010, tal como a crise de 1929 se desdobrou pela década de 1930. Na verdade, vivemos hoje os desdobramentos da profunda crise financeira de 2008/2009, que alcança uma larga temporalidade histórica, explodindo nesse interim, no devir da conjuntura, contradições sociais e impasses políticos de alta envergadura nos países capitalistas integrados ao sistema-mundo do capital, tal como presenciamos hoje na União Europeia e América Latina – cada um com suas particularidades concretas.

Com a profunda crise do capitalismo global, o sistema de representação política (a democracia representativa) tencionou-se ao limite, expondo a natureza oculta do Estado capitalista nas condições da ordem neoliberal como “Estado de exceção”, segundo a acepção de Giorgio Agamben, em obra homônima. Vivemos uma crise da democracia representativa nos países capitalistas mais desenvolvidos. A explosão da bolha financeira em Wall Street em 2008/2009 ocorreu primeiro, no “núcleo orgânico” do império neoliberal (EUA, Japão e União Europeia); mas não deixou de desdobrar-se para a borda periférica integrada à ordem mundial como a China que opera hoje uma lenta (e calculada) transição para um novo modelo de desenvolvimento de capitalismo de Estado, adicionando assim, novos elementos contraditórios no desdobramento da frágil economia global, principalmente para os países exportadores de commodities (como o Brasil). Enfim, a década de 2010 efetivamente demarcou a primeira metade do século XXI com tendências de profunda regressividade civilizatória por conta das contradições candentes da ordem burguesa senil no plano mundial. O Brasil como província do capitalismo global não poderia ser excluído do processo de reação neoliberal que caracteriza o sistema-mundo do capital na metade da década de 2010.

Muitos economistas traçam um paralelo entre a crise de 2008/2009 com a crise de 1929. As duas crises capitalistas possuem um traço comum: são crises de hegemonia financeira que promoveram uma inflexão crucial na dinâmica histórica do sistema mundial. A primeira levou à derrota da fração liberal-rentista e a vitória da fração produtiva do capitalismo num compromisso social com a classe trabalhadora organizada depois da 2ª Guerra mundial. De 1929 a 1945, derrotou-se o capitalismo liberal, que tinha levado o mundo burguês à crise de 1929, e o capitalismo fascista, que se apresentou como alternativa histórica de direita no interior da ordem burguesa à miséria do liberalismo clássico. Para o capitalismo do século XX se reestruturar, construindo o compromisso fordista e o Welfare State propiciado pela luta de classes no contexto da Guerra Fria, precisou ocorrer uma profunda recessão, derrota politica da direita liberal, uma Guerra Mundial e a derrota militar da direita fascista, com milhões e milhões de mortos na Europa e na Ásia.

Por outro lado, a segunda crise de hegemonia financeira em 2008/2009 ocorrida há pouco mais de cinco anos, não representou a derrota do capitalismo neoliberal predominantemente financeirizado, tal como ocorreu em 1929; mas, pelo contrário, a crise do subprime levou à reafirmação da fração rentista-parasitária do capital, fração hegemônica desde o começo da década de 1980, por meio de politicas de austeridade neoliberal sendo implantadas na União Européia e na América Latina. A sobrevivência do sistema institucionalizado do rentismo como traço orgânico do capital global, exigiu a intervenção pesada dos bancos centrais dos governos e seus Estados neoliberais visando salvar a nova ordem do mundo. Na verdade, a persistência (e a força política e cultural) do capital financeiro depois da crise de 2008/2009 demonstrou efetivamente seu enraizamento político-ideológico e cultural na dinâmica das sociedades capitalistas, muito superior àquele do liberalismo rentista da década de 1920.

A vitória do rentismo institucionalizado na crise de 2008/2009 aprofundou as contradições estruturais da ordem burguesa no plano mundial, principalmente no plano do orçamento público. O estresse da crise financeira, o cenário de superprodução crônica e o debilitamento orçamentário dos países capitalistas centrais, principalmente aqueles com maior proteção social como a União Europeia, exigiu a adoção das políticas de austeridade neoliberal. Na metade da década de 2010, tais políticas de ajuste neoliberal se aplicam hoje na borda periférica do sistema do capitalismo global, com destaque para a América Latina sob nova ofensiva neoliberal. Esta é a crise do neoliberalismo – não no sentido de seu debilitamento como ideologia orgânica da ordem social do capital, mas no sentido da necessidade crucial de sua afirmação política por meio da implementação de reformas do Estado – no sentido ampliado – nos países capitalistas integrados à ordem mundial, tendo em vista as profundas contradições da ordem neoliberal abertas pela via de escape da crise de 2008/2009.

No começo da década de 2010 tivemos a ofensiva neoliberal na União Europeia, território histórico do mais avançado sistema de proteção social do mundo do trabalho (Welfare State) e que sofre há décadas (1980-2010), um processo de dilapidação de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários – seja por governos de direita e de esquerda socialdemocrata. Na metade da década de 2010, temos a nova ofensiva neoliberal na América Latina, principalmente Argentina e Brasil, onde historicamente na década de 2000 constituíram-se experiências pós-neoliberais e neodesenvolvimentistas, que rompiam, em maior ou menor proporção, com o modelo neoliberal da década anterior. Foi a débacle social do modelo neoliberal na América Latina da década de 1990 que permitiu a ascensão na década de 2000 de experiências progressistas que hoje são derrotadas nas urnas (como a Argentina) ou por meio de “golpes brancos” (como no Brasil).

A reação neoliberal a partir da crise de 2008/2009 representou, no caso europeu, a mera imposição da política hegemônica neoliberal conduzida pelo Reich alemão com Angela Merkel, visando preservar os interesses da fração rentista do capital enraizada no modelo orgânico do projeto político (e geopolítico) da União Europeia, criada para garantir o protagonismo das finanças franco-alemãs na Zona do Euro. No caso latino-americano, a reação neoliberal da metade da década de 2010 representou, por um lado, a retomada do controle hegemônico do Departamento de Estado norte-americano sobre sua área de influência geopolítica historicamente delimitada desde fins do século XIX. Como dizem, a América Latina é o quintal dos EUA. Com o reposicionamento econômico e geopolítico da China e da Rússia no mercado global no começo da década de 2000, ocorreu um reordenamento geopolítico dos blocos de poder do capital no plano mundial. De um lado, Estados Unidos e União Europeia representando o modelo do capitalismo neoliberal; e, de outro lado, China e Rússia, representando o capitalismo estatal. Enfim, disputas no interior da ordem burguesa global, que colocou como tarefa crucial para os EUA, como condottiere do império neoliberal, retomar a direção da política externa dos países latino-americanos que romperam com a subserviência a Washington e se alinharam com o polo alternativo ao modelo de capitalismo neoliberal dominante na década de 1990 na América do Sul. Para os EUA, diante do novo polo de disputa geopolítica com China e Rússia; e da crise do capitalismo neoliberal, que impulsionou processos econômicos, políticos e geopolíticos que ameaçam o poder do Dólar, tornou-se tarefa geopolítica decisiva ocupar territórios de poder e dinheiro. Na verdade, a reação neoliberal na América do Sul na primeira metade da década de 2010 significou tomar as rédeas de governos neodesenvolvimentistas – por eleições ou por golpes de Estado – aproveitando-se, principalmente, das debilidades orgânicas de experiências progressistas que não conseguiram nos últimos quinze anos, romper com o Estado neoliberal (o maior exemplo é o Brasil).

Pelo fato do Brasil ser o elo mais forte do imperialismo norte-americano na América do Sul, a natureza da experiência progressista adotada por Lula e Dilma, experiência neodesenvolvimentista que ousou articular-se no plano externo geopolítico com adversários do modelo de capitalismo liberal hegemonizado por Washington – que discutiremos abaixo – tinha como “calcanhar de Aquiles”, a sua incapacidade de refundar o Estado brasileira de matriz oligárquica-neoliberal. Incapaz de derrotar pelo voto o projeto neodesenvolvimentista, como correu na Argentina, Washington apoiou, subrepticiamente, um golpe de Estado de novo tipo, ensaiado no Paraguai em 2012 – o dito “golpe político-jurídico-midiático”.

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A discussão acima da processualidade critica da macroestrutura da economia global no século XXI nos conduziu para além da economia. Mais do que nunca a economia adquiriu um caráter político e cultural, o que explica a persistência do capitalismo neoliberal, apesar de sua crise de hegemonia, e o acúmulo das crises financeiras parciais ocorridas desde 1987.

A macroestrutura da geopolítica global é caracterizada pela crise, afirmação e reafirmação da hegemonia norte-americana num contexto de concorrência global e disputa entre blocos do capital social total. Foi o que descrevemos acima. Podemos fazer um retrospecto histórico: primeiro, a retomada hegemônica do Império sob a dominância neoliberal com Ronald Reagan, a política do Dólar forte e o fim da URSS na década de 1980 e a virada para a década de 1990. Foram anos de ascensão da ideologia neoliberal no mundo capitalista central (Reagan-Thatcher). Depois, na década de 1990 e começo da década de 2000, a ameaça da União Europeia em constituir-se como novo polo hegemônico de acumulação do capital com sua moeda única, o Euro. Na verdade, com a dissolução da União Soviética, o que temos é a disputa intrabloco do capital global num cenário de concorrência exacerbada no mercado mundial. Depois da primeira crise financeira do capitalismo global em 1987, que afundou a economia do Japão numa crise irrecuperável até hoje, e produziu uma recessão nos EUA na virada para a década de 1990, o império neoliberal buscou reerguer-se com o governo Bill Clinton (1993-2001). A débacle do Leste Europeu em 1989 e o fim da URSS em 1991 criam as condições politicas para a expansão capitalista da primeira metade da década de 1990. O Consenso de Washington (1989) e o movimento da globalização neoliberal na década de 1990 impulsionam a euforia de investimentos externos na borda periférica do capital.

O ideólogo da globalização Francis Fukuyama proclamou o “fim da história”. Entretanto, o desenvolvimento do capitalismo global predominantemente financeirizado não seria perene. A implementação do NAFTA (Tratado Norte-americano de Livre-Comércio) em 1994 encontrou reação no Movimento Zapatista que irrompeu sob a liderança do Comandante Marcos. Em fins de 1994, a crise financeira do México sinalizou que ocorreria novas turbulências financeiras e politicas nos próximos anos. A desregulamentação financeira propiciou em 1997, dez anos depois da crise de 1987, uma nova crise – a crise financeira asiática de 1997 – que explodiu na Tailândia, e como um rastilho de pólvora derrubou as bolsas das Filipinas, Indonésia, Malásia, Coréia do Sul e Hong Kong; em 1998 ocorreu na Rússia; e 1999, atingiu o Brasil. Logo a seguir, em 2000, estourou a bolha financeira da internet, com a crise na bolsa da Nasdaq nos EUA. Entramos no século XXI com o movimento da globalização neoliberal explicitando suas fragilidades orgânicas. Com o crescimento da contestação popular à globalização do capital por meio de manifestações massivas na Europa e EUA (por exemplo, nessa época, no Brasil tivemos a primeira edição do Fórum Social Mundial em 2001 cujo lema era “Um outro mundo é possivel”). Foi na América Latina que ocorreram as primeiras fraturas geopolíticas significativas no seio das áreas de influência do império neoliberal. O modelo neoliberal na América Latina demonstrou sua falência social e política, manifestado pelos série de acontecimentos políticos inéditos de governos de esquerda vitoriosos no seio da institucionalidade democrática: em 1998, Hugo Chávez é eleito na Venezuela; Néstor Kirchner e Luis Inácio Lula da Silva em 2003; Evo Morales em 2006 e Rafael Correa em 2007.

No começo do século XXI, no plano estratégico da concorrência intracapitalista no mercado mundial, o poder do Dólar encontrou duas ameaças geopolíticas: primeiro, a adoção do Euro como moeda única da União Europeia; e depois, o crescimento da China como nova potência da economia mundial. Com a queda do Muro de Berlim e a implosão da URSS, o eixo franco-alemão sob o comando de Helmut Kohl, artífice da integração alemã (1990), e François Mitterand, aceleraram o processo politico da União Europeia, visando a implementação da moeda única (o Euro), ocorrido em 1999. É claro que desde começos da década de 1990, os EUA buscavam reorganizar sua área de influencia no Oriente Médio e Europa Ocidental por meio da atuação da OTAN. Por exemplo, o Presidente George W. Bush pai tentou, com a Guerra do Golfo (1990-1991), tentou derrubar o regime politico de Sadam Hussein, mas não conseguiu. O Iraque era um país produtor de Petróleo, importante geopoliticamente e independente dos EUA no xadrez político do Oriente Médio. O Presdiente Bill Clinton marcou a presença norte-americana na crise dos Balcãs por meio da OTAN (Guerra da Bósnia, de 1992-1995; e Guerra do Kosovo, de 1998-1999), sinalizando o protagonismo geopolítico dos EUA na resolução de conflitos étnico-politico na região dos Balcãs.

No começo da década de 2000, sob o governo de George W. Bush filho, o 11 de setembro de 2001 tornou-se pretexto magistral para a nova ofensiva imperialista visando derrubar regimes políticos não-alinhados aos EUA nos eixos-chaves do Oriente Médio e Ásia Central – Iraque e Afeganistão. As raízes do terrorismo islâmico se originaram no fundamentalismo sunita como expressão da reação extrema à modernização capitalista imposta pelo Ocidente na figura da cultura liberal norte-americana. Na verdade, o terrorismo islâmico nasceu das contradições viscerais do movimento de expansão capitalista e reação cultural à proletarização das populações árabes nas últimas décadas do século XX. Como o fascismo na década de 1930, o terrorismo islâmico de expressão sunita nasceu das entranhas do desencantamento do mundo provocado pelo movimento de expansão da modernidade liberal. Entretanto, o combate ao terrorismo islâmico pelos EUA tornou-se um ardil para a defesa de seus interesses geopolíticos na disputa estratégica no xadrez político no Oriente Médio e na Ásia. O pragmatismo da política externa norte-americana é exemplar – ao mesmo tempo que combate o terrorismo islâmico, os EUA apoiam a Arábia Saudita, um Estado muçulmano sunita que financia o terror islâmico, sendo um dos maiores fornecedores de Petróleo para os EUA. A política externa de Washington no Oriente Médio equilibra-se entre duas alianças geopolíticas estratégicas: o regime despótico da Arábia Saudita e o regime sionista de Israel, polos antípodas que se contrapõem hoje à aliança Irã-Russia.

A estratégia política de Washington no começo do século XXI implica em cercar politicamente a União Europeia, enfraquecendo seu protagonismo monetário e econômico por meio das politicas de austeridade neoliberal do FMI; e vinculando seu poderio politico-militar à OTAN, duas tecnocracias globais sob hegemonia do império neoliberal. A defesa do Poder do Dólar implicou enfraquecer o Euro e, ao mesmo tempo, evitar que a aliança Rússia-China se configurasse num novo bloco global (o que ocorreu com a criação dos BRICS em 2011). A crise financeira de 2008/2009 propiciou o movimento de insurreição popular na África do Norte (Primavera Árabe), criando momento propicio para a rearticulação do poderio hegemônico no Oriente Médio (boicote a Síria) e na Ásia Menor (crise da Ucrânia). Aproveitando-se da inquietação social do proletariado árabe pobre, Washington buscou ocupar posições geopolíticas importantes na construção de um novo eixo hegemônico para posicionar-se diante do protagonismo da Rússia e China. A derruba do regime líbio de Muamar Kadafii e a o golpe militar no Egito indicaram o avanço do cerco às posições adversárias no Norte da África e Oriente Médio. A Rússia reagiu à altura, bloqueando, com dissuasão militar, a invasão da Síria pela OTAN; e anexando a Criméia, depois que a Ucrânia caiu nas mãos de fascistas pró-Ocidente. O xadrez geopolítico tornou-se cada vez mais complexo diante das contradições orgânicas do Poder do Dólar, fragilizado pela crescente dívida pública norte-americana. A disputa pelo território geopolítico da América Latina tornou-se decisivo para o Departamento de Estado norte-americano após a crise de 2008/2009, embora desde 2001, a CIA tenha atuado para desestabilizar o governo Chávez na Venezuela (as escutas secretas da NSA, Agência de Segurança Nacional dos EUA, denunciadas pelo WikiLeaks, no governo Dilma, produziriam materiais que alimentariam a Operação Lava-Jata. Depois do marco regulatório do Pré-sal em 2010, o alvo-chave tornou-se a Petrobrás, onde a Inteligência norte-americana descobriu um esquema de corrupção). Portanto, a América Latina na década de 2000 tornou-se, com as novas experiências neodesenvolvimentistas e pós-neoliberais área problemática para os interesses norte-americano, principalmente quando começou a articular-se os BRICS em 2011. O projeto “Aliança do Pacífico” visou confrontar o projeto do Cone Sul ou Mercosul, articulado pelo Brasil e Argentina. A articulação dos BRICs visou criar novos fatos de ofensiva contra o poder do dólar. Por isso, após a crise financeira de 2008/2009, Washington aproveitou a inquietação social devido a crise mundial para reconstituir seu bloco hegemônico, tanto na América latina, Norte da África, Oriente Médio e Ásia Menor. A criação da “Aliança do Pacífico” em 2012 visava integrar comercialmente América do Sul e Sudeste Asiático à América do Norte, disputando a influência comercial e política da China no Sudeste Asiático. A disputa pelo Pacifico é a disputa estratégica do século XXI.

Ao lado da macroeconomia estrutural da economia global e nova geopolítica do imperialismo, temos desde a década de 1980, um processo histórico-estrutural de mudanças orgânicas no sistema-mundo do capital, principalmente nos países capitalistas mais desenvolvidos, com o surgimento do novo sociometabolismo do capital, tanto na instância da produção, com os novos métodos de organização e gestão toyotista acoplada às novas tecnologias informacionais e a nova morfologia da classe; quanto na instância da política (deterioração da democracia representativa capturada pelos interesses das finanças , crise das ideologias políticas de esquerda socialista e dos partidos operários e trabalhistas socialistas e comunistas) e na instância da cultura (pós-modernismo no pensamento e estética da mercadoria, consumo e lazer). O sociometabolismo da barbárie representou uma mutação orgânica da ordem burguesa global conduzida pelo capital financeiro de profundidade inaudita (o que explica o enraizamento do novo ethos pós-moderno no modo de vida social intergrado pela sociedade em rede). Na verdade, mudanças orgânicas na produção, politica e cultura são mutações radicais do metabolismo social que representam uma verdadeira revolução cultural de largas proporções, alterando não apenas a morfologia social, mas o sociometabolismo das sociedades burguesas. Alterou-se o registro cultural (e politico-ideológico) da luta de classes. Temos mudanças geracionais a partir de 1980 que explicam o novo ethos das novas camadas sociais da classe trabalhadora imersa na “modernidade líquida” (Bauman), contrastando-se incisivamente com as gerações anteriores. O precariado que cresce na década de 1990 incorporou um ethos neoliberal, o que explica a dificuldade de organizar-se coletivamente – corroborado é claro pela nova morfologia social do trabalho e a fragmentação política da classe por conta da ofensiva ideológica do capital. A nova geração de proletários do século XXI presencia a nova precariedade salarial, não como experiência de precarização do trabalho, tal como as velhas gerações, mas como experiência complexa (e contraditória) de proletariedade pós-moderna, caracterizada, por um lado, pelo anseio e ambição de realização salarial e profissional; e por outro lado, pela frustração e ansiedade diante do novo quadro de precariedade contratual e novo modo de exploração da força de trabalho e trabalho vivo (gestão toyotista acoplada as novas tecnologias informacionais). O traço fundamental da superexploração da força de trabalho e espoliação do trabalho vivo no século XXI é a nova pressão laboral, cujo traço dominante é o assédio moral organizacional. Esse espírito do toyotismo que organiza a nova precariedade salarial, atingiu não apenas a indústria, comércio e os serviços, mas também a administração pública, tendo impactos nefastos e candentes na saúde dos trabalhadores.

Foi a radicalidade do novo metabolismo social do capital na era do capitalismo neoliberal que fez Dardot e Laval afirmar no livro A nova razão do mundo (Boitempo, 2016) sobre os limites do marxismo. Disseram eles:

“[…] não podemos nos contentar com as lições de Karl Marx, nem de Rosa Luxemburgo, para desvelar o segredo dessa estranha faculdade do neoliberalismo de se estender por toda a parte, apesar de suas crises e das revoltas que suscita em todo o mundo. Por razões teóricas básicas, a interpretação marxista, por mais atual que seja, revela-se de uma insuficiência gritante nesse caso. O neoliberalismo emprega técnicas de poder inéditas sobre as condutas e as subjetividades. Ele não pode ser reduzido à expansão espontânea da esfera mercantil e do campo de acumulação do capital” [o grifo é nosso].

Dardot e Laval se referem a um certo marxismo politicista e economicista que vigorou n século XX, e que hoje, torna-se incapaz de apreender as dimensões profundas da dominação sociometabólica do capital. Ao invés dos limites do marxismo, temos no século XXI a necessidade de desenvolver as profundas intuições teóricas do marxismo ontológico representado no pensamento radical do último Lukács e István Mészáros com um fecundo diálogo com a psicanálise e a psicologia histórico-critica.

  1. A década de 2010: a reação do império neoliberal

Depois do crack financeiro nos EUA em 2008/2009, o capitalismo neoliberal entrou numa profunda crise que persistiu e persiste no decorrer da década de 2010. A recessão nas economias da União Europeia e do Japão, além do baixo crescimento do PIB norte-americano, demonstraram a inversão da conjuntura da economia global. Logo os países capitalistas emergentes seriam atingidos pela profunda desaceleração da economia mundial. Países capitalistas como Brasil, Argentina e Venezuela, por exemplo, tiveram na década de 2000, um ciclo de expansão ou choque de capitalismo vinculados ao crescimento da economia chinesa e ao boom do preço das commodities. Foram os anos dourados do neodesenvolvimentismo e constituição do movimento de articulação de países capitalistas não-alinhados com o Império Neoliberal (os BRICs).

Entretanto, ocorreu em 2008/2009 o crash financeiro e, na primeira metade da década de 2010, o movimento da conjuntura da economia global se inverteu, não apenas com a recessão ou crescimento rastejante no núcleo dinâmico da economia capitalista central (União Europeia, EUA e Japão), mas com a brusca desaceleração da China e o choque das commodities, a queda brutal do preço das commodities, principalmente o petróleo, atingindo os países dependentes da exportação de produtos primários, com destaque para Rússia e Venezuela, mas também o Brasil. A crise da economia capitalista na borda periférica do sistema mundial tornou propício o movimento de reação política do Império neoliberal e a reorganização geopolítica no Norte da África, Oriente Médio e América Latina de acordo com os interesses de Washington (Primavera Árabe, Líbia, Síria, Ucrânia, Honduras e Paraguai). Tornou-se intensa a manipulação midiática visando implementar a nova ofensiva política do Império Neoliberal aproveitando-se, deste modo, da instabilidade da economia capitalista.

Na virada para a década de 2010, a crise das economias latino-americanas lastreadas nas commodities tornou-se aliada da política reacionária das oligarquias locais de direita vinculadas aos interesses geopolíticos do Departamento de Estado norte-americano. Foi na América Latina que tivemos uma importante frente de combate geopolítico levado a cabo pelo Império Neoliberal. Na medida em que fracassaram as tentativas golpistas de derrubar o regime chavista na Venezuela na década de 2000, buscou-se implementar na década de 2010 uma nova estratégia de derrubada de governos neodesenvolvimentistas ou pós-neoliberais não-alinhados com Washington. Apostou-se numa estratégia de desestabilização contínua nos marcos da institucionalidade democrática e com apoio dos Tribunais Constitucionais. A experiência do “golpe branco” ocorrido no Paraguai em 2012 serviu de laboratórios políticos para se derrubar governos mantendo-se a aparência de legalidade democrática. Essa estratégia de subversão hegemônica (o “golpe branco”) seria utilizado no Brasil em 2016. No caso da Argentina não foi preciso a estratégia do “golpe branco”, pois o desgaste do kircherismo e a fragmentação das forças progressistas e de esquerda, propiciaram, em 2015, a vitória eleitoral da Direita. Entretanto, no caso do Brasil, a estratégia da derrubada do governo petista fracassou pelo voto em 2014. Por isso, de imediato, optou-se pela estratégia do “golpe branco”, utilizando-se para isso, de um mecanismo complexo de desestabilização contínua explorando-se o cenário de crise da economia, inflação e noticiário constante de acusação de corrupção do PT e do governo. Desde 2013, a inquietação social das camadas médias demonstradas nas jornadas de junho – similar às ocorridas no Norte da África e Ucrânia – tornaram-se caldo de manipulação dos agentes ideológicos da direita organizada. A insatisfação social possuiu um lastro verdadeiro – indicava os limites do neodesenvolvimentismo que conseguiu atender as demandas dos pobres mas não conseguiu atender as demandas das camadas médias assalariadas (transporte público, saúde e educação pública de qualidade, etc). Entretanto, a direita organizada aproveitou-se da matéria social manipulada para dar inicio a uma nova escalada da ofensiva reacionária no Brasil. Primeiro, apostou-se no desgaste do governo Dilma para as eleições de 2014. Antes das eleições, as jornadas de julho de 2013 foram manipuladas midiaticamente pela pauta da Direita, dando um componente massivo à desestabilização do governo Dilma, predominantemente das camadas médias organizadas em movimentos sociais de direita financiados pelo partido da oposição com ampla cobertura da mídia hegemônica. Entretanto, como dizemos, a inesperada derrota da direita nas eleições presidenciais de 2014 demonstrou que se precisava utilizar nova estratégia de derrubada do governo neodesenvolvimentista. Como não conseguiram derrota-la pelo voto popular, colocou-se a necessidade de derruba-la pelo “golpe branco”. Era preciso articular a operação Lava-Jato, PGR, PF, Congresso Nacional adicionando-se a isso, a forças de ofensiva da direita acantonadas no STF e Mídia hegemônica. Na verdade, do Mensalão à Operação Lava-Jato incrementou-se o poder de fogo da direita neoliberal.

É claro que 2014, o ano da Copa do Mundo, seria o ano da virada reacionária no Brasil. A derrota para a Alemanha por 7×1 tornou-se a metáfora da tragédia farsesca no Brasil. Dilma ganhou no voto popular. Entretanto, o mesmo voto popular que a elegeu com 54 milhões de voto, elegeu uma das mais conservadoras bancadas parlamentares da história da República brasileira. As forças de direita oligárquica, financiadas pelas forças ocultas da oligarquia financeira-industrial, apostaram na construção do elo fundamental para o golpe branco: a maioria política no Congresso Nacional, tendo como articular-mor um parlamento corrupto e habilidoso – Eduardo Cunha, do PMDB. O controle do Congresso Nacional, o deslocamento politico do PMDB, implodindo a base governista, a Operação Lava-Jato, compuseram a cena para o andamento do impeachment sem fundamento jurídico – a conivência do Judiciário neutralizou a contestação jurídica (o espírito historicamente conservador da Corte Constitucional, o ethos de “classe média” e os interesses econômico da corporação sedimentaram o apoio à estratégia do golpe branco).

Portanto, seja pelo voto (Argentina) ou pelo golpe branco (Paraguai, Honduras e Brasil), tivemos na década de 2010 a derrubada de experiências pós-neoliberais como recuperação de posições perdidas no xadrez geopolítico no começo da década de 2000. Como vimos, presenciamos um movimento geopolítico que se compõe com o cenário de reordenação geopolítica do Império neoliberal pós-crise financeira de 2008/2009. O que está em jogo é a preservação do poder do Dólar. A América Latina é área estratégica dos EUA. Num cenário de fragilizado do poder do Dólar, construir os BRICs e adotar políticas anti-americanas constituiu uma flagrante ousadia para os governos neodesenvolvimentistas e governos pós-neoliberais. Além disso, o enfrentamento com a nova geopolítica imperial na virada para a década de 2010 deu-se com uma base hegemônica social frágil dos governos progressistas não-alinhados à Washington, principalmente no caso do Brasil. A ilusão da concertação social do lulismo impediu o núcleo tático da política petista de ver o que ocorria no mundo global após 2008/2009: no plano externo, a disputa geopolítica pelo modo de desenvolvimento do capitalismo global e, no plano interno, o acirramento das contradições não-antagônicas entre frações burguesas em disputa pelo fundo público.

Deste modo, a recuperação das posições hegemônicas de Washington na América Latina significou o movimento de adoção, retomada e aprofundamento da reação neoliberal verificado na década de 1990 no Brasil. Enquanto em 1990, com os governos Collor, Itamar e FHC tivemos uma ofensiva neoliberal num sistema do capital predominantemente financeirizado em ascensão, hoje temos uma reação neoliberal num sistema em decadência incapaz de comprometer-se com a modernização, mesmo que conservadora (o que pode ter implicações no plano da institucionalidade política, na medida em que, não podendo sustentar-se pelo voto, a democracia tal como nós a conhecemos, pode ser abolida). O balanço de dez anos de lulismo mostrou que o Brasil aceitou a lógica do novo sociometabolismo do capital. Em dez anos de neodesenvolvimentismo, adequou-se à nova dinâmica do capitalismo global, não construindo forças sociais, politicas e ideológicas capazes de fazer o enfrentamento necessário à inércia oligárquica contida no Estado neoliberal no interior da qual o governo brasileiro operava. Os limites do neodesenvlvimentismo eram cruciais – não apenas na construção politica de governo de coalização que não era portador do Poder, embora se utilizasse de parte dele, acomodando-se na jogo da institucionalidade politica oligárquica herdada pelos governos burgueses anteriores. Os governos neodesenvolvimnetistas foram ousados na política externa, mas cometeram erros crassos na politica industrial, mantendo, por exemplo, o cambio apreciado e prejudicando a indústria brasileira, ficando, deste modo, a economia brasileira dependente das commodities. No cenário de desaceleração da economia por conta da crise global, provocando queda da arrecadação fiscal, a implementação e ampliação de Programas de Assistência Social sem uma verdadeira Reforma Tributária, a adoção da politica da taxa de juros altos para combater uma inflação de oferta e a manutenção do pagamento e serviços da divida pública, contribuíram para acirrar o conflito distributivo que assumiu a dimensão da luta de classes e a implosão do lulismo como estratégia de governabilidade.

A fratura da frente política do neodesenvolvimentismo, iniciada em 2013, deu origem a uma nova composição política no Congresso Nacional que inviabilizou o governo eleito em 2014, reaglutinando o bloco de poder burguês, fraturado pelo lulismo desde 2002 (PMDB-PSDB). A retomada hegemônica do bloco de poder oligárquico sob a direção do capital financeiro em 2016 com o governo Temer, não deixa de ser problemática, tendo em vista a aliança frágil da direita fisiológica e mafiosa com a direita neoliberal e ideológica. Apesar do “golpe branco” no Brasil ter sido urdida com habilidade sinistra, visando desestabilizar um governo inepto e fraco, o governo Temer é um verdadeiro Frankenstein político. Um ponto crucial é saber se o governo reacionário de Temer conseguirá sobreviver tendo em vista os indícios de “golpe dentro do golpe”. E outro desafio é saber se a direita brasileira conseguirá reaglutinar como classe-apoio, o subproletariado visando as eleições de 2018.

O governo Temer como governo ilegítimo adquiriu em 2016 o caráter de governo de transição com uma missão suprema: reestruturar o capitalismo brasileiro de acordo com a agenda neoliberal dando-lhe novo fôlego na América Latina para o Projeto hegemônico dos EUA. Estamos no plano da especulação política – talvez, o governo Temer, como o governo Collor, seja incapaz politicamente de fazer as novas reformas neoliberais que Washington considera relevantes (o que coloca, mais uma vez, a perspectiva do golpe dentro do golpe). Na verdade, enquanto no plano externo, a disputa geopolítica se coloca pela preservação do poder do Dólar e a hegemonia do modelo neoliberal de desenvolvimento capitalista, no plano interno, a disputa crucial no capitalismo brasileiro é a luta pelo orçamento público e, ao mesmo tempo, o aprofundamento do Estado neoliberal no Brasil que nos últimos 15 anos de governos neodesenvolvimentistas permaneceu intacto.

A disputa pelo fundo público tornou-se crucial tendo em vista a crise do capitalismo neoliberal desde 2008/2009. No Brasil, temos uma ruptura histórica similar não a 1964, mas a 1930. Assistimos a um novo ciclo político que rompe com aquele criado pela Constituição-Cidadã de 1988, síntese do acumulação de lutas sociais na década de 1980, que se exauriu; e da transição negociada à democracia (com os Militares), que precisava ser enquadrada nos termos oligárquicos. Permanecemos no interior da persistência da ordem simbólica da ditadura civil-militar instaurado em 1964 que elevou num patamar superior o caráter oligárquico do Estado brasileiro ao mesmo tempo que o modernizou. Tal como o PT, a parte social da Constituição de 1988 foi uma pedra no caminho da transição conservadora para um capitalismo oligárquico. Mesmo com a degradação política do PT, a modernização conservadora do lulismo possuía um sinal exótico: o combate à desigualdade social e programas sociais que exigiam mais da capacidade fiscal do Estado. Com a crise de 2008/2009, o esgotamento da capacidade fiscal do Estado brasileiro devido à queda do crescimento do PIB no contexto de crise do capitalismo neoliberal na década de 2010, as renúncias fiscais e a estrutura tributário enrijecida pelos interesses oligárquicas, a hegemonia rentista e o garrote da dívida pública, elevaram as contradições de reprodução oligárquico no seio do Estado neoliberal a um patamar superior. No Brasil, tal como na União Europeia, o modelo social apregoado pela socialdemocracia como exemplo da concertação social entre capital e trabalho, tornou-se politicamente inviável tendo em vista a explicitação da crise do neoliberalismo e a dominância orçamentária pelo interesses do capital financeiro.

Num país como o Brasil, um dos pais capitalistas mais desiguais e socialmente injustos do mundo, a adoção do receituários neoliberal hegemônico na União Europeia, contestado por economistas do FMI como indutor de desigualdades sociais, não é apenas um ato supremo de dominância da classe burguesa senhorial brasileira de cariz colonial-escravista hoje predominantemente rentista-parasitária, mas um crime de lesa humanidade contra o mundo do trabalho e a população pobre do País. Mantendo-se as regras do jogo democrático, a dominância rentista não deve se sustentar politicamente. Por isso, o que se pode vislumbrar na ultima metade da década de 2010, após o golpe branco de 2016, é uma nova operação ideológica – tão complexa quanto o golpe branco – para que o Estado democrático de direito no Brasil seja substituído por um Estado de exceção seletivo e perpétuo, capaz de manter na aparência os ritos democráticos e adotar procedimentos de exceção contra a insurgência social. A blindagem do Estado brasileiro contra governos de esquerda – a “mexicanizacao” do Brasil – deve contar com a reforma do sistema político e a manutenção do Poder Judiciário oligárquico, ao mesmo tempo que se reforça o controle policial-militar da insurgência social e os aparelhos de manipulação midiática. A missão histórica é extinguir politicamente o PT como trincheira das lutas populares (o que o próprio PT já fez por si próprio); e abolir a parte social da Constituição de 1988. Deste modo renasceu no Brasil, a velha ditadura civil-militar sob nova roupagem do Estado democrático de exceção seletiva no alvorecer do século XXI.

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PARA APROFUNDAR A REFLEXÃO, 5 DICAS DE LEITURA DA BOITEMPO:

A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal, por Christian Laval e Pierre Dardot
Brasil delivery: servidão financeira e estado de emergência
econômico, por Leda Paulani
A crise do neoliberalismo, por Dominique Lévy e Gérard Duménil
A crise estrutural do capital, por István Mészáros
O império do capital, de Ellen Wood

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Trabalho e subjetividade (Boitempo, 2011), de Giovanni Alves, já está à venda também em formato eletrônico (ebook) nas lojas da Gato Sabido e Livraria Cultura. O autor conta com um artigo na coletânea Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas, à venda em ebook por apenas R$5 na Gato Sabido, Livraria da Travessa, dentre outras. Giovanni Alves conta também com o artigo “Trabalhadores precários: o exemplo emblemático de Portugal”, escrito com Dora Fonseca, publicado no Dossiê “Nova era da precarização do trabalho?” da revista Margem Esquerda 18, já à venda em ebook na Gato Sabido.

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Giovanni Alves é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da Rede de Estudos do Trabalho (RET), do Projeto Tela Crítica e outros núcleos de pesquisa reunidos em seu site giovannialves.org. É autor de vários livros e artigos sobre o tema trabalho e sociabilidade, entre os quais O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo Editorial, 2000) e Trabalho e subjetividade: O espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório (Boitempo Editorial, 2011). Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às segundas.

10 comentários em O golpe de 2016 no contexto da crise do capitalismo neoliberal

  1. Antonio Tadeu Meneses // 08/06/2016 às 10:04 pm // Responder

    Como falar em golpe jurídico parlamentar se:
    1. “Trata-se de uma disputa no interior da ordem burguesa, …..” “…. alternativa histórica de direita no interior da ordem burguesa”. Ou seja a burguesia estava no governo PT e continua no governo do PMDB.
    2. No governo PT houve, um tipo de promessas na campanha eleitoral e depois das eleições ganhas cumpre-se um ajuste fiscal do Levy.
    3. Houve balcão de negócios, caixa 2, corrupção, prejuízos a Petrobras, enriquecimento pessoal e ilícito de assessores de alto nível do governo e outros crimes gravados em escutas.
    4. Melhorou a distribuição de riquezas entre a classe mais pobre em 124% e entre a classe mais rica a melhora foi mais de 400%. Os bancos e o sistema financeiro da classe burguesa nunca lucraram tanto.
    5. Todo o rito do processo de impeachment está de acordo com a constituição e as respectivas leis.
    Quer dizer que o povo tem que suportar todos os erros de uma má gestão de governança e suas consequências e ficar calado? Não é possível remover do poder os que usam mal o poder?

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  2. Amigo, você nos colocou dentro de uma enorme engrenagem de um relógio do qual só enxergamos o movimento dos ponteiros e concluímos com uma pergunta: o que o futuro nos reserva?

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  3. A saida é psicanalista? é de enfrentar culturalmente os valores individuais e mercantis?Como?Esse novo Governo /Estado vai frear todas as tentativas de critica e de ascensão de outros modelos que não o alinhado com A hegemonia do Norte.

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    • Ricardo Augusto Rocha // 25/07/2016 às 2:23 pm // Responder

      Cesar, não entendi assim. Interpreto como: o problema é maior. Somente as explicações clássicas não dão conta, o que não significa que devam ser descartadas. A direita se armou, se sofisticou… E precisamos qualificar a crítica, a análise, a estratégia, a tática.
      Mas seria bom que o próprio autor respondesse.

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  4. Pistas para uma saída altiva.

    “A partir de algumas identidades básicas da “macroeconomia tradicional”, à luz das lições de Giambiagi e, munidos dos coeficientes técnicos da relação capital / produto potencial (Aumara Feu, 2000), K/Y e, depreciação do estoque de capital (De Carvalho, 1995) – utilizados para o setor “não-financeiro” da economia, ortodoxamente; Introduzimos os parâmetros da construção do modelo de Desenvolvimento Econômico em termos de nossa “Metodologia Econômica do Homem Indistinto”. (http://www.amazon.com/Nilson-Barcellos-Nunes/e/B00JCMGNDU)

    Inicialmente, não há que se falar em “desenvolvimento econômico”, nos termos em epígrafe, sem antes pensar a função estabilizadora dos Governos. Segundo Enriquez Garcia, p.ex., “(…)a redistribuição pode ser feita combinando impostos sobre produtos adquiridos por pessoas ricas, com subsídios para produtos adquiridos por consumidores de baixa renda.” De minha lavra, quisera não ser simplório nem prolixo, ao buscar dar um tratamento formal ao magistério de Enriquez Garcia. No entanto, sem saída, querer competir com os neoliberais – que a tudo reduzem numa fórmula aritmética – que a todos convencem de pacificação; a taxação tributária sob a produção é sempre temerária, já sob o consumo de luxo e sob as grandes fortunas… É o que se propõe: redistribuir a renda (o produto) “através de uma estrutura tarifária progressiva, onde os indivíduos mais ricos pagam uma alíquota maior de imposto” (Equipe de Professores – Manual USP de Economia, 1999:558).
    A principal fonte de redistribuição seria as “grandes fortunas” (CF, art. 153, VIII), no entanto o consumo de bens coletivos por “pessoas ricas” não depende de grandes fortunas e, o sistema de crédito bancário alcança não somente as pessoas ricas, mas todos os indivíduos que estejam incorporados à renda (o produto) da economia, aproximadamente 60% dos brasileiros. O restante da população total (40%) também contribui para a arrecadação tributária, arcando com as mesmas taxas (alíquotas) sobre os produtos que consomem, independentemente de não estarem acoplados à renda e ao crédito bancário -disponibilizados legalmente a todos brasileiros.
    Então, a disponibilidade de crédito e a oferta de produtos no “livre mercado” de bens públicos, acabam por satisfazer o “princípio da exclusão”, através das taxas de juros e do sistema de preços, respectivamente. Ambos, taxas de juros e sistema de preços, selecionam e excluem quais indivíduos terão acesso aos “bens públicos” rivais e quais não terão acesso aos bens e serviços.
    No Brasil, nos sistemas de crédito e de preços, não existem dados pormenorizados de “bens de consumo coletivo” que sejam ou estejam em vias de saturação. Tanto o sistema de crédito bancário, como o mercado de bens e serviços encontram-se em expansão e sofisticação, sem no entanto, alcançarem 40% da população total desde meados dos anos 40: o crédito bancário é “bem público” a todos disponibilizados, mas as taxas de juros excluem 40% da população total; O mercado de bens e serviços (públicos), excluem o mesmo percentual ao acesso de subsistência à moradia, saúde, saneamento, etc…através do instrumento de preços.”

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  5. Lula não precisava “falar” de luta de classes já trilhou caminhos efetivos para seu acirramento ao colocar na balança ao mesmo tempo capital e trabalho. O que presenciamos hoje é a própria luta de classes trazida para o interior dos discursos: feministas, étnicos, e outros…………..

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  6. samuel Carlos da silva // 28/03/2017 às 1:11 am // Responder

    o povo precisa se unir é um absurdo um homem só acabar com milhões trabalhadores

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  7. Maicon Lopes Ferreira // 21/08/2018 às 6:13 pm // Responder

    Me pergunto se não estamos a banalizar a noção de golpe. Olha só, todo e qualquer governo que sofre impedimento é, certamente, por questões políticas, nunca por questões puramente legais. Então todo impedimento é golpe?

    Concordo com esse artigo:
    http://teoriaerevolucao.pstu.org.br/o-impeachment-e-a-farsa-do-golpe-em-defesa-de-uma-interpretacao-marxista-da-democracia-liberal/

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