Reflexões de um ‘milifestante’

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Por Jean Trindade.

Tenho 22 anos. Acabo de chegar em minha casa depois de ter participado do 3º ato contra o aumento da tarifa dos transportes públicos da cidade de São Paulo. Fiz o percurso que foi do Theatro Municipal até o MASP. Tirando uma bomba que ouvimos no meio da manifestação (e não sabemos de que lado veio), foi tranquila. Nunca tinha visto tantos policiais em toda a minha vida reunidos e em pose de guerra. Tive notícia de que depois de terminada a manifestação, enquanto os manifestantes que tentaram pegar o metrô da linha verde, estação Consolação, negociavam a possibilidade de terem uma catraca livre, foram reprimidos com bombas de efeito moral jogadas pela tropa de choque. Gente que nem tinha ido manifestar e não seria o “alvo” dessa patuscada acabou sofrendo.

Cheguei ao terminal Butantã e vi vinte viaturas e vários policiais e seguranças do metrô conduzindo os passageiros que entravam e saíam como se o local estivesse sob ameaça terrorista. Isso tudo porque manifestantes que saíram do Lgo. da Batata foram para lá. É risível essa atitude por parte da PM e do governo do Estado de São Paulo na figura da SSP/SP (fiquemos por aqui, pois se formos falar da pessoa do senhor Secretário de Segurança Pública…).

Pois bem, vamos ao que interessa. Fui junto com um amigo meu que é filiado a um partido político e fiquei junto com ele e com seus companheiros. Desde o meio da passeata nós começamos a conversar sobre algumas coisas e eu também percebi algumas coisas que quero partilhar. Venho buscando e pesquisando muita coisa há mais ou menos dois anos e acho que já é possível sintetizar alguma coisa, para que venha uma nova antítese e me faça continuar caminhando.

As coisas que percebi e que aqui colocarei são puramente intuitivas e empíricas, por isso já peço perdão por qualquer e todos os equívocos que possam ser cometidos. Inclusive estou aqui para abrir um diálogo com todos aqueles que queiram se dar ao trabalho de ler e me apontar possíveis caminhos.

Primeiramente explico o neologismo “milifestante”.

Não acredito que seja apenas um manifestante, pois não fui hoje à primeira manifestação da minha vida e nem fui lá somente porque estou indignado com alguma coisa e me manifestar contra ela. Também não me considero um militante, pois ainda estou entrando nesse universo e nas lutas sociais propriamente ditas. Sou filho da Fonoaudiologia da USP, departamento da Faculdade de Medicina, acho que isso basta para explicar porque só há pouco mais de dois anos é que começo a pensar política e tentar me informar para realmente entrar na luta. Por conta disso fico como “milifestante”, um estágio intermediário entre o simples manifestante e o militante. Espero estar na segunda categoria o mais rápido possível para de lá nunca mais sair.

Gostaria de fazer apenas uma observação que irá me ajudar a fundamentar um pouco essas minhas intuições, ou que pelo menos me abriu para as inquietações que vem a seguir, para além de tudo o que já venho absorvendo. Por coincidência ou não, na primeira semana desse ano li todo o dossiê que o blog da Boitempo fez em 2013 sobre as manifestações, onde temos artigos e ensaios dos professores Paulo Arantes, Ruy Braga, Marilena Chauí, para falar de três com quem tive mais contato indiretamente em meus últimos anos na USP. Outra coisa, é que hoje à tarde vi os vídeos que estão no YouTube, de uma mesa que aconteceu na FFLCH no dia 21 de junho de 2013, com os professores Renato Rovai, Marcos Nobre, Pablo Ortellado, Ricardo Antunes e uma carta do professor Eugenio Bucci, com o título (pelo menos dos vídeos) “As manifestações e a redução da tarifa: tentativa de balanço”, onde todos colocavam suas interrogações e tentativas de entender o cenário.

Sei que não estamos mais em junho de 2013, mas por termos o MPL e a mesma bandeira, quis me inteirar sobre o que foi dito àquela época e essas coisas, além de outras com as quais já tenho tido maior contato, me levantaram questionamentos que agora passo a externar:

  1. Claramente os governos estão surdos e blindados, apesar da blindagem estar visivelmente caindo. Vemos que o PT se distanciou de sua base (aquela que lhe deu todas as quatro eleições e que mesmo sob o martírio desse primeiro ano do segundo governo Dilma luta com unhas e dentes contra a possibilidade da abertura de um processo de impeachment) desde que assumiu, a título de conseguir implantar as reformas sociais, como de fato conseguiu em muitos casos. Optou por fazer política de forma tradicional ficando surda à demanda do povo, contrariando seu projeto de reforma política. O que fazer para que nos ouçam? Como tornar mais efetivas nossas ações? São essas as minhas principais inquietações e acredito que a de todos aqui.
  2. É verdade que quanto mais repressão, mais força os movimentos ganham, pois como todos já sabemos estamos cansados de sermos espancados todos os dias, seja pela figura do cassetete da tropa de choque ou por todas as outras formas que a sociedade do capital tem para nos tornar objetos e engrenagens (na linguagem industrial) ou simples botões de clicar “like” (numa tentativa um pouco mais cibernética de falar a mesma coisa). Isso é verdade, mas será que estamos indo às ruas para tomar porrada sem nos organizarmos? É claro que aqui temos uma bandeira clara pela redução da tarifa e onde temos um movimento claramente articulado, com uma pauta de reivindicações e métodos de trabalho que vêm se desenvolvendo há muito tempo, mas isso não acontece todo o tempo e na maioria das vezes vemos uma manifestação com pautas abstratas e que não tem pensamento nenhum por trás delas, ou estratégia de ação. Ocupar as ruas é só uma maneira e se ela não estiver pensada sob a perspectiva de um plano maior é obsoleta. Precisamos parar e pensar. Hoje em dia vivemos em um mundo onde a manchete basta. Já que nós queremos quebrar esse círculo vicioso, que sejamos os primeiros a fazer diferente: que marquemos mais reuniões, mais aulas públicas, mais fóruns, mais mesas, mais momentos de discussão, mais momentos para pensar em estratégias, mais eventos onde possamos saber o que está sendo feito, possamos conhecer mais movimentos sociais, mais juventudes, mais tudo o que precisamos saber para fazer melhor. Temos que nos organizar, discutir, montar redes e montar nossa agenda, sabendo, nas palavras do professor Renato Rovai “que somos jovens inteligentes que defendem a democracia”.
  3. Essas estratégias todas, é obvio, precisam ter algumas frentes, e uma dessas frentes, em minha modesta opinião, tem que ser pela formação política das massas, das minorias, das individualidades, não sei. Mas é preciso que pensemos na formação política das pessoas. Temos hoje em dia alguns meios de comunicação para fazer isso, coloco aqui principalmente a internet, mas nossa principal arma é o “cara a cara”. Muitas das pessoas que compartilham coisas que não gostamos e que são absolutamente escabrosas, o fazem porque nunca tiveram uma experiência de luta, não conhecem o mundo, vivem numa bolha. Eu confesso aqui que sou filho de junho de 2013. Era uma das pessoas que gritava “sem partido!” em alto e bom som, mas jamais agredi ninguém, nem fiquei zangado com blusas vermelhas ou qualquer coisa do tipo. Mas estava (e continuo) com o sistema político, representado na ocasião na figura dos militantes de partidos políticos de esquerda, que lamentavelmente foram hostilizados, coisa que repudiei sempre. Para que não fique tão tenso, também gritei “vem pra rua contra o aumento!” e outras coisas mais. Quero dizer com isso que se não tivesse pessoas ao meu lado, que me explicaram o que estava acontecendo, se não tivesse ao meu lado militantes que estudavam junto comigo e que me mandavam textos, me mostravam algumas coisas, me levavam a algumas reuniões, me permitiam concordar ou discordar e me davam ferramentas para procurar coisas de qualidade, credibilidade e honestidade intelectual, eu não teria a mentalidade que tenho hoje, a vontade de lutar que tenho hoje, eu não teria a oportunidade de sempre estar colocando em cheque o que acredito para poder mudar de opinião. Uma de nossas buscas deve ser sempre o outro. Sem estigmatizá-lo de “fascista” simplesmente porque ele postou um meme no Facebook que eu não gostei. Aqui faço uma observação: o outro deve ser encontrado para o diálogo e não para a conversão. Enquanto a conversão visa um religioso dogmático e alienado, o diálogo promove a formação de um cidadão consciente.
  4. É verdade também que hoje vivemos em um tempo de redes e é preciso saber como articular essas redes. Ainda estamos nos adaptando a um aparato horizontal e apartidário (não anti-partidário, que fique bem claro como a carta de princípios do MPL) e devemos fazer isso, pois diferente dos outros que querem ocupar as ruas e articular suas pautas, não temos o apoio do establishment. Mas aqui vem o que quero dizer primeiramente nesse ponto: Temos que nos articular de maneira coesa como esquerda, temos que articular nossas redes com outras redes para que lutemos todos juntos e não redes nossas que lutam para fazer um vampirismo de esquerda, ou seja, vejo que tal grupo levanta bandeiras que eu também levanto. Ao invés de me articular com esse grupo para que juntos tenhamos mais pessoas e meios de levantar a mesma bandeira mais alto, eu quero que os militantes daquele grupo venham para o meu e vou pensar em estratégias para que as pessoas se interessem pelo meu grupo, pela minha rede e não pela do “colega”. Como exemplo temos duas frentes populares fundadas no ano de 2015 que são claramente lideradas, ou pelo menos tem grande parte de sua força, em dois partidos políticos de esquerda. Ao invés de se juntarem, conversarem, tentarem estabelecer um diálogo mínimo para juntarem as forças e caminharem juntos, inclusive com suas particularidades e divergências, eles querem captar mais membros para si e dizer que são “a frente de esquerda mais de esquerda da atualidade”. Por que isso acontece? Desde quando nós nos infantilizamos e dizemos que “a nossa brincadeira é melhor do que a do vizinho”? Lendo os livros, via uma articulação grande de sindicatos, movimentos estudantis, movimentos sociais para um objetivo em comum há pouco mais de 20 anos, coisa que infelizmente se perdeu. Naquele tempo tínhamos a grande bandeira da redemocratização. Hoje não temos mais (?). Dizer que hoje em dia essas pautas grandes não existem não é uma saída; para falar de duas, temos a reforma do sistema político e a democratização da mídia. Inclusive falar em pauta grande deveria ser anátema, pois todas são importantes e merecem a luta, merecem que estejamos juntos, pois só teremos uma sociedade mais justa se ela for assim para todos.
  5. A esquerda precisa parar de olhar apenas para seus pontos de divergência e ver os pontos onde existe a sincronia. Aparar as arestas é coisa para se fazer dentro de casa, em família, para que ambos saiam mais afiados para a luta que é contínua. Não é coisa para se fazer em público, para que todos ouçam e saibam que “eu não concordo com isso”. Isso só enfraquece o movimento, seus militantes e sua credibilidade. Fora de casa estamos todos do mesmo lado. Temos que lutar pelas mesmas coisas e quando nossas lutas estiverem ganhas, aí vemos em que direção seguimos. Por que não olhar para as bandeiras que todos levantamos juntos? O passe livre, a desmilitarização da polícia, uma democracia com participação popular maior, a regularização/legalização do aborto, os direitos para as pessoas cuja opção sexual é por outras pessoas do mesmo sexo e questões de identidade de gênero etc., enfim, são tantas as bandeiras que levantamos juntos. Na manifestação, ao final dela, quando já estávamos nos agachando no MASP para ouvirmos o jogral, ouvi um grupo cantando “Hei, UBES, vai tomar no cú”. Como é que queremos chegar a algum lugar satisfatório, conseguir alguma negociação se xingamos em alto e bom som outros companheiros que estão juntos conosco e nos ajudaram a chegar até o final do ato? Ouvi ainda de algumas pessoas que “O PSOL e o PSTU são os que mais brigam”. As esquerdas não se conversam. Só brigam entre si. Isso não serve para nada além de imobilismo de nossa parte e uma ascensão conservadora – isso me lembra uma coluna do professor Vladimir Safatle, publicada na Folha de São Paulo, dizendo que a dita ascensão conservadora é na verdade uma inércia da esquerda. Precisamos baixar as bandeiras ao chegarmos em casa e conversarmos em paz, para chegarmos aos acordos e voltarmos a lutar juntos.
  6. Lendo o texto que a professora Marilena Chauí escreveu para o dossiê do blog da Boitempo, eu penso que alguns pontos de crítica que são feitos também se referem a nós, que nos identificamos com a esquerda e que já lutam por seus objetivos há muito tempo (e no qual ingresso e começo a militar agora): à época as críticas eram feitas ao que tinham se tornado as Jornadas de Junho, mas hoje me parece que ser de esquerda virou um evento. Eu faço uma coisa, eu posto uma coisa, eu vou a uma reunião e ponto. Como disse, estou vendo por cima e é claro que as articulações e os planos para longo e médio prazo são estabelecidos (o MPL é uma prova disso), mas eu não consigo perceber esse raciocínio como algo que impera. Vejo como uma exceção e pelo que observo essa é uma das razões por estarmos, em alguns aspectos, definhando. A Classe Média atua dessa maneira (a partir de eventos), mas eles tem do lado deles todo o aparato que os “doutrina” e faz com que seus eventos se tornem algo maior do que uma simples reunião de colegas, nós não temos isso. Temos que estar à frente deles nas estratégias, como a esquerda sempre esteve.
  7. É preciso uma articulação da esquerda. Das juventudes de esquerda. Temos que ouvir os que já fizeram muito para aprender com eles, não para seguir os passos deles, se não seremos eles, como os acertos, mas também com os erros, e não mudaremos nada, pois o que eles poderiam fazer já fizeram. Eles nos dão estratégias, macetes, sabedoria e conhecimento. Nós fazermos a síntese de tudo isso, claro, sem deixá-los de lado, mas sabendo que os responsáveis (pelos sucessos e fracassos) somos nós. O MPL é um grande articulador. Consegue colocar muitos movimentos sociais e juventudes de partidos políticos juntos nas ruas com suas bandeiras em torno de uma pauta objetiva. Precisamos de um espaço realmente una toda a juventude de esquerda para sentar e pensar junta e não frentes claramente partidárias que não se conversam minimamente é que poderiam se ajudar com as bandeiras mútuas, para hasteá-las mais alto

Peço perdão, mais uma vez, por todos os equívocos, todas as colocações malfeitas, todas as possíveis bobagens que posso ter falado aqui. São essas as coisas que me tiram o sono. Estou aberto ao diálogo. Obrigado pela oportunidade.

Termino aqui com o final da fala do professor Ricardo Antunes, no evento realizado na FFLCH em junho de 2013:

“[…] Há um setor da esquerda amplo, no sentido das suas divisões e pequeno nas suas representações; é um pouco a tragédia nossa da esquerda, a gente consegue se dividir; quanto menor nós somos mais a gente consegue se fraturar. A esquerda olha muito pra trás, talvez seja o momento em todos nós que nos entendemos como militantes, homens ou mulheres, de escolas públicas ou escolas privadas, todos nós temos que olhar para o futuro, pois o futuro nos une, o passado pode nos dividir, mas o futuro nos une. É decisivo que todos os militantes de esquerda, dos movimentos sociais autônomos, que os anarquistas e autônomos que respeitam a política, que nós nos unamos […], há uma massa grande de jovens que está manifestando a sua indignação, e qual o ideário que domina? […] Nós temos que lutar.”

Obrigado.

***

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3 comentários em Reflexões de um ‘milifestante’

  1. vc esta correto nas suas colocaçoes. eu nao estou entendendo essa briga entre os pares. tomara que tudo se resolva na conversa ou havera sangue de muitos .

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  2. Krishna Martins // 19/01/2016 às 12:16 pm // Responder

    Eu considero excelente que um cara tão jovem tenha uma mente tão aberta e consiga ver que somente a direita se beneficia com as divisões e brigas internas dos setores de esquerda.
    A esquerda não pode e não deve ser um bloco monolítico, pois a divergência, além de necessária e enriquecedora, é também decorrente de interesses e pontos de vista diferentes.
    Mas se a esquerda se dividir em milhões de grupos refratários ao diálogo, somente a direita será beneficiária do processo político, e o conduzirá da melhor forma aos 1% mais ricos (neste caminho, os 1% enganam tanto setores de esquerda, setores de classe média conservadora e setores populares alienados: é o paraíso dos milionários !!).
    Mais uma vez, parabéns pela disposição ao diálogo e à união para causas comuns,
    Krishna Martins.

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  3. Reflexões inconvenientes sobre o MPL

    Publicado no Brasil 247

    Por mais que simpatizemos com a ideia do transporte público gratuito e universal, é difícil imaginá-la em vigor na dura realidade administrativa do país. A falta de respostas aos problemas orçamentários e jurídicos da medida agrega à principal reivindicação do Movimento Passe Livre um incômodo aspecto de esoterismo coletivista.

    A citação de exemplos isolados onde vigora a gratuidade soa inconvincente para referendá-la nos contextos caóticos das metrópoles brasileiras. Não é só uma questão de escala, mas também de prioridade. Fala-se na revisão das dívidas municipais, mas seria quase desonesto exigir que a solução (de resto improvável) deixasse de atender a demandas mais graves e urgentes da sociedade, como saúde, educação e segurança.

    Mesmo a questão do transporte vai muito além das tarifas. O colapso da mobilidade nasce de imensos problemas de planejamento, gestão e infra-estrutura que extrapolam o âmbito municipal. Nenhum urbanista defende a gratuidade das passagens como estratégia suficiente para solucioná-los. Poucos, aliás, julgam-na viável em si.

    A carência de propostas unificadas e coerentes para o setor reflete a extensão do dilema, e também sinaliza o divórcio entre as lucubrações militantes e a realidade gerencial da esfera pública. O melhor sintoma desse deslocamento é a limitação do MPL a pautas oportunistas e localizadas, que tangenciam as verdadeiras questões práticas da área.

    Talvez cansados de transtornar suas cidades para exigir o inexeqüível, os ativistas passaram a lutar “apenas” contra o aumento das tarifas. Embora seu nome carregue uma reivindicação clara, o movimento prefere aceitar a inevitabilidade da cobrança, como se a ruína do sistema fosse uma simples questão de valor unitário dos bilhetes. A anulação do reajuste faria alguma diferença na qualidade dos serviços prestados?

    Em suma, falta plataforma ao MPL, um rol de melhorias com base jurídica, técnica e contábil que amenizem as agruras dos habitantes do mundo real. Empurrar a lacuna para o Poder Público é uma forma ingênua e inconsequente de atuação política. Vulgariza as muitas insatisfações populares sob um rótulo protestante generalista que se satisfaz em causar danos esporádicos à coletividade.

    Isso explica o gradativo isolamento do MPL, abandonado pelas facções políticas e midiáticas que outrora o paparicavam. Sequer a inaceitável brutalidade policial, que ajudou a preencher o vazio reivindicatório dos protestos em 2013, consegue aglutinar mais adeptos à causa sem pauta.

    Não há coincidência no fato de os black blocs ressurgirem ali, depois de uma elucidativa ausência nas mobilizações populares recentes. O radicalismo dos mascarados ocupa a lacuna programática do MPL, canalizando o descontentamento da juventude para um teatro de confrontação que só interessa aos poderes estabelecidos.

    É um lamentável desperdício de energia transformadora, mas não deixa de ter certa função pedagógica.

    http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com.br/

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