Lançamento Boitempo: Margem Esquerda 24

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Acaba de sair a nova edição da revista semestral Margem Esquerda: Ensaios Marxistas, da Boitempo. A edição abre com uma longa entrevista com o intelectual nova-iorquino Immanuel Wallerstein realizada por Daniel Bin, cientista político e colaborador do Blog da Boitempo. Além de textos inéditos de Michael Löwy, José Paulo Netto e Emir Sader, esta 24ª conta com um dossiê bastante oportuno sobre “Cidades em conflito, conflito nas cidades”, coordenado pelo arquiteto e urbanista João Sette Whitaker Ferreira, com a colaboração de Karina de Oliveira Leitão. Confira o sumário completo da revista aqui e a apresentação do dossiê aqui

Leia abaixo a apresentação da edição

São muitas as formas de discutir as cidades. O dossiê deste número, “Cidades em conflitos, conflitos nas cidades”, organizado por João Sette Whitaker Ferreira, com a colaboração de Karina de Oliveira Leitão, o faz por meio da análise da crise no espaço urbano e dos conflitos dela decorrentes. Há muito os efeitos do neoliberalismo, as rebeliões nas ruas, a urbanização militarizada, o desenvolvimento insustentável, a especulação imobiliária, a mobilidade e as novas configurações das lutas de classes vêm merecendo a atenção de estudiosos e militantes políticos das mais diversas filiações. Embora com enfoques diversos, os textos de Agnes Deboulet, Flávio Villaça, Gabriel De Santis Feltran e Tom Angotti concordam que a segregação urbana é maior quanto mais se intensifica a desigualdade social. Os autores colocam em pauta novas formas, soluções e modelos de organização do espaço público, buscando enfrentar os impasses do presente e os desafios do futuro.

Ilustra o dossiê um ensaio do fotógrafo Mauro Restiffe, que, segundo o editor de imagens Sergio Romagnolo, “mostra a sua e a nossa perplexidade diante do mundo, de Moscou ao Complexo da Maré”. A fotografia de Restiffe é química, como aquela inventada há 150 anos e agora em desuso. “Seu processo de trabalho é a imersão. Ele viaja ao encontro do assunto, como se quisesse descobrir o que acontece com o mundo. Suas fotos já exibiram a posse de Lula, em 2003, e a de Obama, em 2008, a reforma do antigo prédio do Detran – projeto de Niemeyer – para a inauguração do novo Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP), comunidades pobres, casas modernistas de projetos utópicos, centros de cidades como São Paulo e Istambul ou motoqueiros de Taipé. Não existe uma linha formal para a sua produção plástica. Se a arte moderna talvez tivesse uma leitura cartesiana do mundo, a arte não moderna prescindiria de uma linha na qual pudesse se apoiar. Mauro, como outros de sua geração, está livre para pensar e questionar o que o rodeia”, afirma Romagnolo.

Para analisar as metrópoles como palco de conflitos, não poderia faltar a figura da polícia, a parte mais visível do aparelho repressivo do Estado. Assim é que, na seção Artigos, os leitores encontrarão o texto “Por que tem sido tão difícil mudar as polícias?”, de Luiz Eduardo Soares. A execução de jovens pobres pela polícia é uma sinistra tradição que se mantém, protegida pela omissão das autoridades, pela conivência das elites e pelo silêncio de parcela expressiva da população. 

Esta Margem enfrenta também o difícil tema da xenofobia, do avanço do neofascismo e do fortalecimento de partidos da extrema-direita na Europa. O sociólogo italiano Pietro Basso aponta a intensificação do racismo de Estado, contra o qual emerge um antirracismo de classe que aproxima trabalhadores nacionais e imigrantes.

Ainda na seção Artigos, Mario Duayer contribui com “Jorge Luis Borges, filosofia da ciência e crítica ontológica”, em que vai da literatura à filosofia da ciência para sustentar o caráter incontornável da razão para a práxis transformadora. Já Michael Löwy nos brinda com um texto sobre Lucien Goldmann – intelectual marxista nascido em 1913, na Romênia, que estudou a filosofia de Kant e o pensamento de Lukács, mas se interessava também pela visão trágica de mundo dos jansenistas e de Pascal.

O entrevistado desta edição é o intelectual nova-iorquino Immanuel Wallerstein, uma das principais referências teóricas dos movimentos antiglobalização, de quem a Boitempo publicou o livro O universalismo europeu, em 2007. Na entrevista – realizada por Daniel Bin, com a colaboração de Emir Sader, João Alexandre Peschanski e Luiz Bernardo Pericás –, Wallerstein fala sobre sua formação, a crise estrutural do sistema-mundo e questões relacionadas à política internacional dos Estados Unidos.

Na seção Clássico temos um verbete enciclopédico escrito pelo revolucionário russo Leon Trotski sobre outro genial líder bolchevique, Vladimir Ulianov Lenin. Escrito em 1926 para a 13ª edição da Enciclopédia Britânica, o texto foi traduzido por José Eudes Baima Bezerra e editado por Alexandre Linares.

As Homenagens são para Leandro Konder – “outro revolucionário cordial”, nas palavras de José Paulo Netto e no conceito de tantos quantos o conheceram. Homem amável, generoso, Leandro (que nos deixou em 12 de novembro de 2014) reuniu, como poucos, firmeza teórica e gentileza, na mais fiel tradução da máxima “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás” – e para o escritor uruguaio Eduardo Galeano, morto em 13 de abril de 2015. O autor de As veias abertas da América Latina, que falava por todos nós e melhor que todos nós, é lembrado em texto de Emir Sader. 

Esta edição traz ainda uma resenha do livro Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados, organizado por Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco, e quatro notas de leitura, além de um poema do tunisiano Aboul-Qacem Echebbi, traduzido por Flávio Aguiar.

No ano em que celebramos sete décadas da vitória dos Exércitos Vermelhos sobre o eixo nazifascista e quatro da vitória vietnamita sobre os Estados Unidos, recordamos com pesar as mortes de Roque Dalton – comunista, poeta, pensador e revolucionário salvadorenho –, assassinado em 1975, e de Inês Etienne Romeu. Ex-dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e única sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis – aparelho clandestino de tortura do regime militar que executava presos políticos –, Inês faleceu no dia 27 de abril, em Niterói, aos 72 anos. A eles, e também a Konder, Galeano e tantos que empenharam sua vida em fazer deste um mundo mais justo e igualitário, dedicamos esta edição.

— Ivana Jinkings

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1 comentário em Lançamento Boitempo: Margem Esquerda 24

  1. A revista traz ótimas matérias. Parabéns.

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