Combater os fundamentos materiais da dominação racial

Manifestação dos Panteras Negras (1969). Foto: Wikimedia Commons

Por Pedro Paulo Zaluth Bastos

Este livro apresenta uma investigação que subverte o senso comum sobre discriminação racial. Com sofisticação teórica, profundidade histórica e urgência política, Arun Kundnani demonstra que a opressão de raça não é distorção corrigível nem desvio moral, mas elemento estruturante do capitalismo — desde suas raízes coloniais até suas expressões neoliberais contemporâneas.

O autor traça uma genealogia do racismo, que conecta os impérios escravistas atlânticos às atuais políticas de precarização. Sua análise revela como cada fase capitalista reinventou dispositivos racializados de dominação: das plantations ao complexo carcerário-industrial, dos códigos negreiros aos algoritmos discriminatórios. O racismo emerge não como anomalia, mas como tecnologia sistêmica que
divide os trabalhadores, legitima a violência estatal e naturaliza hierarquias socioeconômicas confundidas com a cor da pele.

O resultado é uma demolição do discurso dominante segundo o qual racismo se combate com promoção da diversidade e reconhecimento identitário. Kundnani expõe como essa abordagem foi cooptada pelo neoliberalismo para mascarar a dominação: corporações celebram o multiculturalismo enquanto superexploram trabalhadores racializados; Estados promovem cosmopolitismo, mas criminalizam populações tidas como descartáveis.

Em contraposição, o livro resgata a tradição marxista do antirracismo — sistematicamente apagada nos debates convencionais sobre o tema —, revisitando o legado de figuras como C. L. R. James, Frantz Fanon, Stuart Hall, Kwame Nkrumah, Claudia Jones, Harold Wolpe, Coretta Scott King e Martin Luther King Jr., intelectuais militantes que compreendiam a opressão racial como dimensão inseparável da luta anticapitalista.

A proposta central é edificar uma esquerda de “vermelho mais escuro”, que sintetize antirracismo, anti-imperialismo e anticapitalismo numa frente popular. Kundnani defende que embates classistas e antirracistas são dialeticamente indissociáveis, rejeitando tanto o reducionismo economicista quanto o
essencialismo identitário liberal. O livro convoca à reimaginação do antirracismo como projeto de transformação estrutural: não há emancipação racial genuína sem superação do capitalismo. Em tempos de colapso civilizacional, esta obra é ferramenta indispensável para compreender — e suplantar — os fundamentos materiais da dominação racial.

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Pedro Paulo Zaluth Bastos é professor de Economia da Unicamp. Foi professor visitante na UC Berkeley (EUA).



O que é antirracismo? E por que significa anticapitalismo, de Arun Kundnani
Baseada em rigorosa pesquisa, a obra mostra como a questão foi tratada ao longo das últimas décadas do século XX, por meio dos movimentos políticos e culturais. Acessível, conta a história de dois antirracismos e seus caminhos até aqui e mostra as ideias e os trabalhos de diferentes autores como Magnus Hirschfeld, Ruth Benedict e Franz Boas, até chegar em teses mais radicais e abrangentes como os trabalhos de C. L. R James, Aimé Césaire, Frantz Fanon, Claudia Jones, Martin Luther King Jr. e muitos outros. 

Para Kundnani, só é possível desarticular o racismo após o entendimento de sua natureza: “Sem isso, o antirracismo é mais um exercício de desenvolvimento pessoal para pessoas brancas do que algo capaz de provocar uma mudança estrutural efetiva”, escreve.

“Um livro esplêndido com um alcance impressionante.” 
— Ruth Wilson Gilmore 

“O leitor encontrará aqui várias respostas para os dramas e desafios da luta antirracista no Brasil.”
— Jones Manoel 


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