Uma leitura de referência sobre o Capitalismo Racial

Uma venda de escravos em Charleston, Carolina do Sul, por Eyre Crowe (1854). Imagem: WikiCommons

Por Flavia Rios

Capitalismo racial é um conceito que surgiu nas décadas finais do século XX para explicar dinâmicas estruturais que envolvem raça e classe. Desenvolvido por sociólogos e ativistas sul-africanos no contexto do apartheid, no qual se verificava a interdependência entre desigualdades socioeconômicas e opressões raciais, mostra a confluência entre a reprodução capitalista e a exploração intensiva das classes trabalhadoras racializadas. Autores marxistas como Martin Legassick, David Hemson, Neville Alexander e Harold Wolpe foram responsáveis por difundir a locução que nomeou o capitalismo em contextos de rígidas hierarquias baseadas em raça.

Nos Estados Unidos, o conceito ingressou no debate acadêmico e público pelas mãos de Cedric Robinson, que desenvolveu uma teoria da história para dar conta do processo de racialização global, incluindo a formação do capitalismo na Europa. Para ele, o racismo seria pré-condição para a formação do capitalismo, não apenas subproduto do sistema moderno de exploração das classes. Entre nós, nas décadas entre 1970 e 1980, Carlos Hasenbalg, Clóvis Moura e Lélia Gonzalez sustentaram a tese de que a questão racial é intrínseca ao capitalismo no contexto histórico brasileiro.

Na esteira do debate internacional, porém com traço crítico e leitura própria, Ruy Braga recupera essa ideia para explicar a acumulação capitalista e sua relação com a opressão racial sem perder do horizonte as ideologias de dominação e resistências em forma de lutas sociais. O autor também realiza crítica severa à teoria de Robinson, contra a qual mobiliza a explicação de W. E. B. Du Bois. Chama a atenção o fato de o sociólogo brasileiro reivindicar a importância da economia política para explicar o contexto de ascensão da extrema direita no mundo e as formas mais recentes assumidas pelo capitalismo em sua expressão neoliberal. Por essas e outras razões, o livro de Ruy Braga tem tudo para ser uma leitura de referência no país.

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Flavia Rios é docente da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Afro/Cebrap.


Por que a compreensão do capitalismo racial é tão urgente para quem deseja transformar o mundo em um lugar mais justo e humano? O novo título da coleção Pontos de Partida, de autoria do sociólogo Ruy Braga, traz o tema para o centro de debate. Capitalismo racial: uma introdução examina o conceito a partir do marxismo negro e analisa três espaços geográficos diferentes: África do Sul, Brasil e Estados Unidos.  

O autor, que também coordena a coleção, inicia destacando as teses que identificam o racismo como o principal motor das relações de dominação e exploração ocidentais e capitalistas. A obra segue apresentando e discutindo autores que estudaram a articulação entre acumulação econômica e opressão racial, como Frantz Fanon, Walter Rodney, Cedric J. Robinson, W. E. B. Du Bois, C. L. R. James e outros. A comparação entre os três países no contexto do capitalismo racial é tema da terceira parte e se dá por meio de uma análise comparativa das três diferentes trajetórias históricas nacionais.  

“Compreender a articulação entre acumulação econômica e opressão racial é indispensável para a construção de uma autêntica unidade internacionalista da classe trabalhadora. E assumir uma perspectiva comparativa e internacionalista permite iluminar não apenas as formas de dominação, mas também as trajetórias de resistência, solidariedade e articulação política entre as diversas lutas dos povos e grupos sociais racializados ao redor do mundo”, escreve.

“A ascensão de lideranças como Donald Trump revela a atualidade da relação entre racismo e imperialismo. O político republicano, ao buscar elevar o antagonismo racial à condição de principal motor dos conflitos sociais nos Estados Unidos, também usou o racismo como pano de fundo para sua guerra comercial com a China. Infelizmente, essa realidade não é exclusiva dos Estados Unidos. Em diferentes contextos históricos, a ascensão do nacionalismo autoritário e as ameaças à democracia muitas vezes assumem uma forma xenofóbica ou abertamente racista. 

Ideologicamente, a opressão racial no Brasil foi associada à suposta incapacidade da massa negra em se integrar ao modo de vida moderno. Daí chegou-se à naturalização da condição marginal do negro e à necessidade de submeter suas comunidades ao assédio policial constante. Ainda hoje, cobra-se ao trabalhador negro um comportamento submisso, equivalente àquele que o senhor exigia do escravizado. Afinal, a morte do trabalhador negro continua dependendo da decisão autocrática do braço armado do Estado. Diante de tamanha opressão, quais seriam as principais características da resistência negra no país?”
— Ruy Braga

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