Lançamento Boitempo: “Sem maquiagem”, de Ludmilla Costhek Abílio

A Boitempo acaba de lançar Sem maquiagem: o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos, da socióloga Ludmila Costhek Abílio. O livro parte de um estudo de campo de um exército de aproximadamente 1 milhão de revendedoras (equivalente à população da cidade de Campinas-SP), responsável pelo sucesso comercial de uma das mais importantes e reconhecidas empresas de cosméticos do país, a Natura. 

A pesquisa é base para uma das mais originais reflexões sobre os contornos do mundo do trabalho hoje – a indistinção entre tempo de trabalho e de não trabalho, as formas atuais de envolvimento subjetivo do trabalhador e o embaralhamento das fronteiras entre produção e consumo –, e sua inserção no contexto social e cultural mais amplo da atualidade. A opinião é de Ursula Huws, professora da London Metropolitan University e referência internacional para a sociologia do trabalho, que assina a orelha do livro (leia abaixo). O prefácio é da economista Leda Paulani.

Apresentada como tese de doutorado, sob orientação da professora Angela Carneiro Araújo e co-orientação de Paulo Arantes, a pesquisa foi vencedora do prêmio Mundos do Trabalho, da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e sai pela coleção Mundo do trabalho, coordenada por Ricardo Antunes, na Boitempo. Considerados dois dos mais interessantes pensadores brasileiros da atualidade, Arantes e Antunes participarão do debate de lançamento no dia 20 de outubro, na Livraria Martins Fontes. Mais informações ao final deste post.

Leia, abaixo o texto de orelha, assinada por Ursula Huws

A publicação de Sem maquiagem: o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos constitui um momento importante na economia política da nova organização global do trabalho. Ludmila Abílio traz uma análise inovadora sobre uma não tão recente forma de trabalho – a revenda de cosméticos para uma das mais importantes e eticamente reconhecidas companhias brasileiras e, ao fazê-lo, une diversas questões cruciais para a compreensão da nova economia global.

Seu estudo abre uma perspectiva sobre as novas formas em que os empregadores transferem riscos para seus trabalhadores, não lhes dando garantia de rendimento, ao mesmo tempo que os encorajam a investir em estoques que podem nem ser vendidos. Essa análise contribui para os debates internacionais sobre o trabalho precário e a possibilidade de estar em ato a emergência de um precariado global. Assim, seu livro colabora para uma atualização da ideia de informalidade e para o desenvolvimento de novas teorias sobre a economia informal e seu papel no desenvolvimento econômico.

A pesquisa também lança luz sobre o embaralhamento das fronteiras entre produção e consumo e como ele se realiza numa fusão inseparável entre forças econômicas, sociais e culturais. Tendo uma identidade dual como consumidoras dos produtos e suas vendedoras, as revendedoras são envolvidas em uma identificação com os valores éticos “politicamente corretos” da empresa, incentivadas a tornarem-se propagandas vivas dos produtos, entregando seu capital social pessoal como meio para alavancar os lucros da companhia. Nesse processo, o poder da marca tem um papel central; a reflexão da autora sobre esse fenômeno constitui uma importante contribuição para a análise do capitalismo contemporâneo.

Embasada num profundo entendimento da complexidade das inter-relações entre classe e gênero, ela também mostra como a feminilidade está implicada na construção de novas formas de trabalho, que apelam para as identidades comuns de gênero e ao mesmo tempo diferenciam marcadamente as classes sociais: em uma ponta da escala, vendedoras da classe trabalhadora garantem as vendas para consumidoras da mesma classe, ao passo que vendedoras de alta classe do “Setor Crystal”, por exemplo, alcançam consumidoras da elite paulistana.

Até agora, o tipo de trabalho aqui estudado havia sido em grande parte ignorado por pesquisadores – embora possa muito bem se tornar familiar no futuro. Entretanto, a originalidade desta pesquisa reside não só no tema, mas também na forma como amarra esses tópicos tão diversos, cada qual na vanguarda dos debates internacionais sobre o futuro do trabalho e a natureza da sociedade no contexto neoliberal da globalização cultural e econômica, a divisão sexual do trabalho e a transformação dos mercados. Para os que estiverem voltados para essas questões é uma leitura indispensável.

Ursula Huws

A Boitempo convida a todos para a noite de autógrafos de Sem maquiagem, no dia 9 de outubro, no Canto Madalena, em São Paulo. Na compra de um livro, o leitor ganha, além de um autógrafo da autora, um chope! No dia 20 de outubro, às vésperas do segundo turno das eleições, o sociólogo Ricardo Antunes (Unicamp) e o filósofo Paulo Arantes (USP) se reúnem para o debate de lançamento de Sem maquiagem, com Ludmilla Costhek Abílio, na livraria Martins Fontes da Avenida Paulista. Mais informações aqui.

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