Guia de leitura | Lukács: uma introdução | ADC#35

Lukács: uma introdução
José Paulo Netto

Guia de leitura / Armas da crítica #35

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Terceira obra da coleção Pontos de Partida, Lukács: uma introdução é apresentado aqui por José Paulo Netto, conhecido intelectual marxista brasileiro e coordenador da Biblioteca Lukács, coleção que conta com dez obras do filósofo e destaca-se por oferecer o essencial do pensamento lukacsiano em traduções diretas do alemão.

O leitor terá em mãos um convite e um caminho para desvendar a extensa e complexa obra de György Lukács, autor que produziu ao longo de seis décadas um trabalho intelectual rigoroso e em diversos aspectos bastante polêmico.

autor José Paulo Netto
edição Frank de Oliveira
diagramação Antonio Kehl
capa Maikon Nery
coordenação de produção Livia Campos
coleção Pontos de Partida
páginas 112

Além de adesivo, marcador e um curso de introdução a Lukács com José Paulo Netto, a caixa do mês ainda é acompanhada da nova edição da Margem Esquerda, a revista da Boitempo, com dossiê sobre a questão agrária, entrevista com Nancy Fraser, artigos sobre Pagu, os 50 anos do golpe no Chile, homenagem a Zé Celso e muito mais.

autores Leonilde Servolo de Medeiros, Flávia Braga Vieira e María Julia Giménez, Maria Lygia Quartim de Moraes e Marta Nehring, José Paulo Netto, João Quartim de Moraes, Jean Tible e muito mais…
edição Artur Renzo
edição de imagens Francisco Klinger Carvalho
edição de poesia Flávio Wolf de Aguiar
diagramação Antonio Kehl
capa Artur Renzo e Natasha Weissenborn
coordenação de produção Livia Campos
páginas 160

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Quem é José Paulo Netto?

José Paulo Netto é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vinculado à Escola de Serviço Social e um conhecido intelectual marxista brasileiro. Doutor em serviço social, Netto se destaca como autor de obras que também apresentam, de forma didática e sem reducionismos, o pensamento marxista.

Pela Boitempo publicou Karl Marx: uma biografia (2020) e Da Erótica: muito além do obsceno, de Bocage (Seleção, organização e apresentação de José Paulo Netto, 2022). É também coordenador da coleção Biblioteca Lukács.

“Espero que esta nova edição do texto de 1983, devidamente atualizada e de algum modo ampliada – mas preparada com igual rigor e seriedade –, seja útil ao leitor interessado em um primeiro contato com o grande pensador marxista do século XX.”

JOSÉ PAULO NETTO

Retrato fiel e respeitoso da vida e da obra de Lukács

Não é fácil reconstituir sinteticamente a trajetória de vida e a produção intelectual do filósofo húngaro György Lukács. Além da necessidade de percorrer uma obra vasta, densa, cheia de pontos de inflexão, há de se dar conta da vida de uma pessoa que jamais optou pela comodidade diante de escolhas que poderiam ameaçar a própria sobrevivência. Lukács foi, de fato, um dos maiores pensadores marxistas de todos os tempos, além de um militante corajoso, ativo, polêmico.

Não é qualquer pessoa que está habilitada a elaborar um retrato fiel e respeitoso da vida e da obra de Lukács. A rigor, há poucos no mundo capazes de fazê-lo. Entre os brasileiros, o nome mais indicado é o do professor, pesquisador e militante político José Paulo Netto, um patrimônio do marxismo e do socialismo. Por muitas razões, entre as quais se destacam seu vasto cabedal teórico e sua vida dedicada à causa socialista, Netto dificilmente deixaria de ser a escolha do próprio Lukács.

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).

“Saudemos a iniciativa da Boitempo de incluir entre os volumes da coleção Pontos de Partida este Lukács: uma introdução. Suas poucas páginas oferecem um conteúdo rico e enriquecedor, tanto para quem já tem alguma familiaridade com a biografia e o pensamento do homenageado quanto para os que se interessam por conhecê-lo.”

JOÃO LEONARDO MEDEIROS

O caso Lukács

A obra de György Lukács, produzida ao longo de mais de seis décadas de um trabalho intelectual rigoroso e circunspecto, e mediante uma evolução filosófico-teórica e ideopolítica muito complexa, constitui um verdadeiro caso (outros até diriam: um problema) no interior do pensamento do século XX. […]

Desde muito jovem relacionado a círculos intelectuais importantes do século XX, ele permaneceu sempre, de fato, um outsider, às vezes incompreendido, às vezes com seu pensamento intencionalmente deformado por não poucos detratores. “Incômodo até o fim” – na perfeita caracterização de Cesare Cases –, Lukács raramente recebeu de seus interlocutores e analistas um tratamento equilibrado; na verdade, o julgamento crítico reservou-lhe mais ataques e defesas emocionais que operações de análise.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 11-13]

“A obra lukacsiana, mesmo reconhecida como a mais ambiciosa arquitetura teórica do marxismo posterior a Lênin, continua a se mostrar como uma esfinge para o leitor comum. Entretanto, aqui não se repete o dilema grego: ‘Decifra-me ou te devoro’; o desafio proposto pela obra lukacsiana é diverso – resume-se num ‘Decifra–me e compreenderás melhor teu mundo‘”.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 13]

A recusa do mundo burguês

Filho de uma abastada família de judeus enobrecidos que habitava o Lipótváros, bairro histórico de Budapeste, Lukács muito precocemente desenvolveu uma firme atitude de recusa em face do modo de viver e de pensar instaurado pelo capitalismo. O estilo burguês de vida e pensamento – não se esqueça de que Budapeste reproduzia os costumes de Viena, capital do império austro-húngaro – que se oferecia a Lukács apresentava-se como um misto de sofisticação e mundanismo; era o clima da Belle Époque penetrando os poros da sociedade húngara.

Precisamente essa miséria húngara, que poderia constituir o espaço para a fácil notoriedade do jovem Lukács, repugnou-o: seu ponto de partida afetivo e intelectual foi “uma recusa apaixonada da ordem existente na Hungria”. Essa recusa do jovem Lukács, porém, não encontrou à época formas concretas pelas quais conduziria, mediante a via da intervenção política, à transformação das instituições sociais.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 15]


“A recusa de Lukács em face da sociedade húngara é radical. Por isso, uma intervenção que não possuísse idêntico caráter de radicalidade parece-lhe desprezível. Ele defende uma postura que rompa com qualquer compromisso com a ordem burguesa e não vê no quadro húngaro nenhuma força social capaz de implementar efetivamente um projeto de transformação qualitativa da vida e da cultura.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 17]

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A prova da política

O ingresso de Lukács no Partido Comunista húngaro, a 2 de dezembro de 1918, abre-lhe um horizonte inteiramente novo, que se descortina a partir do espaço da política. E Lukács, que até então jamais se envolvera na prática política, durante toda uma década se dedicará direta e intensivamente a ela, para depois de novo recolher-se à quase estrita atividade intelectual – só retornando diretamente à ação política num episódio, o da crise húngara de 1956. […]

Depois da prova da política, feito o aprendizado de uma década no interior do movimento operário revolucionário, Lukács – sem dele se afastar – retorna ao âmbito da elaboração cultural, convencido de que o proletariado só poderá construir uma nova cultura se for capaz de assimilar, crítica e criadoramente, a herança progressista e racionalista que já encontra diante de si.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 29-45]

“O que fascina em História e consciência de classe é aquilo que, simultaneamente, constitui sua força e sua fraqueza: a concepção do marxismo como historicismo radical, como a exclusiva filosofia do social.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 40]

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Os tempos difíceis

Desvinculado da atividade diretamente política, em princípios de 1930 Lukács vai para Moscou, onde permanecerá até o verão do ano seguinte. Esses meses moscovitas oferecerão ao filósofo condições para aprofundar e definir, no plano teórico, a reorientação mencionada e, como ele anotou numa página autobiográfica de 1933, coroar “meu caminho até Marx”. […]

Mas o parêntese nos tempos difíceis estava prestes a fechar-se. À emergência da Guerra Fria corresponde o canto de cisne da autocracia stalinista. […] O filósofo torna-se, então, um alvo privilegiado para os discípulos de Stálin.

Lukács, contudo, não se curva aos ataques. Mantém-se sereno: tem a clara consciência de que, depois do XX Congresso do PCUS, os tempos são outros – e, por isso, aposta no trabalho e no futuro. Além do mais, seu já consolidado prestígio internacional permite-lhe quebrar as muralhas inicialmente erguidas em torno de sua voz. E ele passa a contrabandear materiais seus para o exterior.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 64]

“Como se deduz, a leitura da Estética implica um razoável esforço intelectual. De fato, ela coloca o leitor diante de uma das obras mais inclusivas e complexas produzidas no interior do pensamento comunista depois de Marx.”

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 72]

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O guerreiro sem repouso

Esta será uma das teses mais repetidas por Lukács nos seus anos derradeiros: os clássicos – Marx, Engels e Lênin – são necessários, mas insuficientes. A compreensão do mundo da segunda metade do século XX exige novas investigações, pesquisas sobre os fenômenos inéditos colocados pelo desenvolvimento contemporâneo do capitalismo e pelas experiências diferenciadas da transição socialista.

Em face deste mundo, já não basta invocar as lições dos clássicos: é preciso avançar com análises particulares, estudos concretos. Essa preocupação de Lukács com a precariedade dos esquemas marxistas de explicação da realidade atual expressa-se com força em sua observação segundo a qual torna-se imprescindível escrever um novo O capital para dar conta dos processos e fatos novos ocorrentes no capitalismo tardio. Reiteradas vezes, ele se referiu a esse necessário e possível desenvolvimento do legado dos clássicos como o “renascimento do marxismo”.

[LUKÁCS: UMA INTRODUÇÃO, p. 69]

Lukács é o Marx da estética.”

PETER LUDZ

Leituras complementares

Baixe os conteúdos complementares do mês em PDF!

Este mês trazemos uma entrevista com Lukács presente em Essenciais são os livros não escritos, um trecho de Estética da resistência, de Arlenice Almeida, e um artigo de Mauro Iasi na coletânea György Lukács e a emancipação humana.

Clique nos botões vermelhos abaixo para fazer o download!

György Lukács

Todos os dogmáticos são derrotistas


Arlenice Almeida

Primeiros ensaios estéticos


Mauro Iasi

Lukács: a ponte entre o passado e o futuro

Vídeos

Este mês trazemos o lançamento antecipado do livro com José Paulo Netto, Ranieri Carli e Carolina Peters, além de um vídeo com José Paulo Netto e um curso de introdução ao jovem Lukács com Arlenice Almeida.

Para aprofundar…

Compilação de textos, podcasts e vídeos que dialogam com a obra do mês.

Estética, de György Lukács

O romance histórico, de György Lukács

Goethe e seu tempo, de György Lukács

Reboquismo e dialética, de György Lukács

Marx e Engels como historiadores da literatura, de György Lukács

O jovem Hegel, de György Lukács

Para uma ontologia do ser social I e II, de György Lukács

Essenciais são os livros não escritos, de György Lukács

Prolegômenos para uma ontologia do ser social, de György Lukács

Lênin, de György Lukács

História e consciência de classe, cem anos depois, de José Paulo Netto (org.)

Por que Lukács?, de Nicolas Tertulian

Estética da resistência: a autonomia da arte no jovem Lukács, de Arlenice Almeida da Silva

Revolushow: 124 – Eu fui György Lukács, com Diego Miranda, Juliana Moraes, Bruno Bianchi e André Brandão, ago. 2021.

Ontocast: #01 – O projeto ontológico de Lukács, com Frederico Lambertucci e Natan Oliveira, jan. 2020.

Ontocast: #19 – A Estética de György Lukács, com Elton Costa, Hian Sousa e Ranieri Carli, out. 2020.

20 minutos: Entrevistando José Paulo Netto, com Breno Altman, maio 2021.

Guilhotina: #97 – José Paulo Netto, dez. 2020.

Curso Livre Lukács, TV Boitempo.

Por que ler Lukács?, com José Paulo Netto, TV Boitempo.

Lukács e o renascimento
do marxismo, com José Paulo Netto, TV Boitempo.

O marxismo de Lukács,
com Ana Cotrim, TV Boitempo.

As últimas entrevistas de Lukács, com Ester Vaisman e Ronaldo Vielmi Fortes,
TV Boitempo.

Minicurso: Para uma ontologia do ser social,
com Mário Duayer, Paulo Henrique Furtado de Araújo, Ronaldo Vielmi Fortes e Ester Vaisman, LabLegal.

Resgatando Clássicos com Antonio Carlos Mazzeo: György Lukács, Antonio
Ugá, 2020.

Introdução à estética de Lukács, com Miguel Vedda, Instituto Lukács, 2020.

Cem anos de História e consciência de classe“, por Douglas Rodrigues Barros, Blog da Boitempo, set. 2023.

Um retrato fiel e respeitoso da vida e da obra de Lukács“, por João Leonardo Medeiros, Blog da Boitempo, set. 2023.

As últimas entrevistas de Lukács“, por Anderson Deo, Blog da Boitempo, set. 2020.

Uma introdução à ontologia de Lukács“, por Nicolas Tertulian, Blog da Boitempo, set. 2019.

O lirismo em György Lukács“, por Arlenice Almeida da Silva, A Terra é redonda, jan. 2021

Breves considerações sobre a metafísica ontologia de Lukács“, por Arthur D’Elia, LavraPalavra, out. 2020.

György Lukács, o profeta da revolução“, por Douglas Rodrigues Barros, LavraPalavra, ago. 2017.

A edição de conteúdo deste guia é de Isabella Meucci e as artes são de Victoria Lobo.