A voz da juventude contra o racismo ambiental e pela implementação de direitos

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Por Rosa Amorim

No coração da Amazônia, em Belém, a COP30 ocorreu com a promessa e o compromisso do presidente Lula que aquela não fosse mais uma conferência de propostas vazias, mas um palco de confronto e construção. Aqui, a sociedade civil, em toda sua força e diversidade, também recusa o papel de coadjuvante e exige o que é seu: o direito de decidir os rumos do planeta e combater o racismo ambiental. E, na linha de frente desse embate, está a juventude do Brasil com toda a sua diversidade.

Eu estive em Belém para a COP30 e também para a Cúpula dos Povos na semana passada, entre 12 e 16 de novembro, e confirmei o que já havia visto nas atividades preparatórias para a COP ocorridas em Pernambuco e Brasília: esta não é uma geração “decorativa”, criada para aplaudir e aceitar passivamente as decisões que vêm de cima. É uma geração que herdou, na pele e no território, a conta mais cara da crise climática: a dívida histórica contraída pelas grandes corporações e pelo Norte Global, que as periferias pagam com o descaso e a negligência nos morros e favelas, no campo, em territórios indígenas e quilombolas de cada canto do Brasil.

A cara das vítimas de desastres naturais tem cor. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 67% das pessoas em áreas de risco ambiental em 2022 no Brasil eram negras. São vítimas de inundações, deslizamentos e quedas de barreiras, só para citar alguns exemplos, que vêm atingindo cada vez mais pessoas com as mudanças climáticas.

A juventude chega pronta pro debate sem pedir permissão, exigindo um lugar à mesa. Vem dos centros urbanos, do campo, das aldeias indígenas, dos quilombos e dos territórios ribeirinhos buscando conversar de igual para igual. São os jovens que sofrem na pele o racismo ambiental — a política genocida que escolhe as vítimas pela cor da pele e pelo CEP — e que, por isso, carregam o desejo de ser parte da solução.

O governo Lula, é preciso reconhecer, abriu uma fresta de esperança ao inverter a lógica das COPs restritas e promover uma ampla participação popular. Esse é um primeiro passo que precisa fazer parte da construção de políticas de convivência com as mudanças climáticas. A tarefa desta COP é ir além das boas intenções e garantir financiamento real e políticas concretas que garantam que a nossa relação com o meio ambiente mude. Para isso, porém, é necessário colocar no centro das negociações oficiais os conhecimentos de quem sente na pele o racismo ambiental e dos povos tradicionais que dedicam suas vidas a cuidar do planeta. Conhecimentos estes que o agronegócio, o capital estrangeiro insistem em ignorar.

Nosso papel, enquanto representantes do povo e aliados dessa juventude, é amplificar sua voz. Eles são o antídoto contra a letargia dos acordos que não saem do papel. Estão nas ruas, nas universidades, nas periferias e, cada vez mais, ocupando com coragem os espaços de poder. E nós estaremos ao seu lado. Que a COP30 de Belém seja lembrada não pelo seu tamanho, mas por sua coragem. A coragem de colocar a justiça climática e o combate ao racismo ambiental no eixo central dos acordos, traduzindo a pressão das ruas em mudança real. A juventude não está apenas lutando por um futuro distante; está construindo um presente com dignidade e justiça climática.

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Rosa Amorim é deputada estadual em Pernambuco pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e militante do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST). Mulher negra e lésbica, Rosa é a parlamentar mais jovem de Pernambuco na Assembleia Legislativa de Pernambuco, onde preside a Frente Parlamentar de Combate à Fome e a Comissão de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal na Alepe.


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A educação ambiental anticapitalista: produção destrutiva, trabalho associativo e agroecologia, de Henrique Tahan Novaes
O livro apresenta as ideias mais importantes sobre agroecologia, produção associada, ecossocialismo e pedagogia socialista no Brasil e no mundo, juntamente com práticas de movimentos sociais, enfatizando o trabalho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Com uma visão abrangente, o autor explora diferentes práticas ecorrevolucionárias, aborda os cercamentos de terra ocorridos ao longo do século XX e XXI, traz como referência autores importantes como Karl Marx e István Mészáros e entrelaça a importância da educação agroecológica em um processo de transformação da sociedade: “A síntese resultante é única em sua fundamentação na luta pela própria terra, combinada com uma visão ampla da mudança ecológica e social revolucionária”, escreve John Bellamy Foster no prefácio da obra.


O capital no Antropoceno, de Kohei Saito
Qual é a relação entre capitalismo, sociedade e natureza? Em O capital no Antropoceno, o filósofo japonês Kohei Saito propõe uma interpretação dos estudos de Karl Marx frente aos problemas ambientais que enfrentamos no século XXI. A mensagem central da obra é que o sistema capitalista dominante, de alta financeirização e busca ilimitada do lucro, está destruindo o planeta, e só um novo sistema, pautado pelo decrescimento, com a produção social e a partilha da riqueza como objetivo central, é capaz de reparar os danos causados até aqui.
Do mesmo autor: O ecossocialismo de Karl Marx

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Autora de importantes obras que discutem os ataques ao meio ambiente por grandes empresas e o efeito desastroso de um mau uso do solo, a doutora em física quântica e ativista ambiental Vandana Shiva faz nesse livro uma volta a suas raízes, revendo uma trajetória que acabaria por definir os movimentos em que se engajou. Assim, ela aborda fases como a infância rural vivida na Índia, sua criação na fazenda dos pais em meio às florestas, a educação libertária que recebeu deles, passando pela mudança de vida e de perspectiva que teve ao entrar na faculdade e viver em grandes centros urbanos na Índia e no exterior. Tudo isso culminando na descoberta dos movimentos de luta em defesa da natureza e dos povos nativos e de sua influência na política ambiental mundial.


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Investigação filosófica sobre as raízes do pensamento político moderno e seu impacto na crise ecológica. O autor desafia o paradigma do progresso ilimitado e explora a relação entre a abundância material e a busca pela liberdade. Uma reflexão essencial para a compreensão do presente e do futuro.

Tempo fechado: capitalismo e colapso ecológico, organizado por Laura Luedy
Não é de hoje que a ciência faz previsões alarmantes em relação ao cenário ecológico desenhado pelo modo de produção dominante ao redor do mundo. Só mais recentemente, porém, as evidências disso têm se imposto à nossa experiência sensível mais cotidiana. A obra organizada pela socióloga marxista Laura Luedy, traz ao público dez textos inéditos de diferentes pensadoras e pensadores que tratam da questão indo à sua raiz. Suas reflexões vão além das abordagens do ambientalismo mainstream e colocam o dedo na ferida do capitalismo. Afinal, é possível evitar o colapso ecológico planetário sem desmontar o arranjo social que governa nossa relação com a natureza?


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