Sabedoria: nada a ver com a “esperteza” de Eduardo Cunha

Cultura inútil

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Por Mouzar Benedito.

“Esperteza, quando é demais, engole o dono.”

Eduardo Cunha devia ter pensado nesse velho ditado antes de pretender ser demasiadamente esperto e tornar-se um espertalhão. Como presidente da Câmara dos Deputados, usou e abusou da esperteza, e acabou engolido por ela.

Há quem confunda esperteza com inteligência. Sim, há muitas inteligências e o esperto ou espertalhão precisa ter uma ou alguma delas. Mas acho que esperteza e sabedoria não são sinônimos.

E inteligência e sabedoria são sinônimos? Também não. Por exemplo: uma prima minha dizia que nossa família tem um monte de gente com uma “inteligência burra”, que só serve pra estudar, tirar notas altas na escola, mas não nos dá sabedoria pra ganhar dinheiro. Vivemos na pindaíba. Enquanto isso, as pessoas de uma família conhecida eram “ruins de escola”, quando passavam de ano era com notas bem ruins, mas todos ficaram ricos, tinham uma “inteligência prática”, uma “sabedoria” pra ganhar dinheiro.

Enfim, reafirmo que há inteligências e sabedorias, muito variadas, algumas delas – bem práticas – presentes em pessoas consideradas “burras”. No caso da corrupção, por exemplo, há pessoas (não só políticos) que a praticam com grande competência, e que escapam sempre da justiça, enquanto outras, às vezes muito mais “inteligentes”, quando resolvem meter a mão em grana pública são pegas facilmente (incompetência!) e condenadas. Bom, há exceções… É raro, mas acontece: às vezes políticos manhosos exageram nessa esperteza que julgam ser “inteligência”, e dançam!

Bom, o assunto esperteza termina aqui.

Entretanto, nos restringindo à sabedoria os conceitos variam ao gosto de cada um. Mas nos ditados populares e nos pensamentos de “sábios”, a sabedoria é quase sempre absoluta, parecendo incorporar todo ou quase todo o conhecimento humano. Claro, há exceções: Sócrates, por exemplo, dizia que “só sei que nada sei” e o fato de saber que nada sabia lhe dava vantagens sobre outras pessoas que pensavam saber muito.

Vamos ver o que dizem sobre o assunto.

Ditados e pensamentos sobre sabedoria

Guimarães Rosa: “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”.

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Ditado popular: “Sabedoria é viver conforme o dia”.

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Cora Coralina: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”.

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Khalil Gibran: “A simplicidade é o último degrau da sabedoria”.

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Provérbio chinês: “Nunca é tão fácil perder-se como quando se julga conhecer o caminho”.

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Aristóteles: “O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas sempre pensa tudo o que diz”.

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Ditado popular: “Não digas o que sabes sem saber o que dizes”.

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Clóvis Ernesto Correia: “Se sábio há que nada fala / e sábio que nada diz, / há o que fala e não sabe / aonde tem o nariz.

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Júlio Dantas: “Ainda há no mundo alguma coisa mais terrível do que um canhão quando dispara: é um sábio quando raciocina”.

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Provérbio japonês: “O fruto de cem dias de conferências pode ser destruído pelo som de um peido”.

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Immanuel Kant: “A sabedoria das mulheres não é raciocinar, é sentir”.

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Schopenhauer: “Por sabedoria entendo a arte de tornar a vida mais agradável e feliz possível”.

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Provérbio chinês: “Os sábios vivem dos livros, os salsicheiros dos porcos”.

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Outro provérbio chinês: “A sabedoria consiste em não subir muito algo nem descer até muito baixo”.

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Mais um provérbio chinês: “Conhecer a nossa própria ignorância é a melhor parte do conhecimento”.

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Cid Cercal: “O passo inicial de quem empreende a interminável caminhada para a sabedoria é reconhecer a própria ignorância”.

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Cid Cercal, de novo: “É facílimo dissimular a sabedoria, mas quase impossível ocultar a ignorância”.

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Juan Luis Vives: “A sabedoria torna bons os homens. A simulação da sabedoria torna-os péssimos”.

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Ésquilo: “A verdadeira sabedoria está em não parecermos sábios”.

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Cícero: “Não basta adquirir sabedoria; é preciso, além disso, saber utilizá-la”.

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Tolstoi: “A sabedoria com as coisas da vida não consiste, ao que me parece, em saber o que é preciso fazer, mas em saber o que é preciso fazer antes e o que fazer depois”.

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Provérbio turco: “Sábio não dorme em leito de plumas”.

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Xiquote: “A glória dos sábios é feita à custa dos ignorantes: que valeriam os médicos se não houvesse doentes para curar?”.

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Xiquote, de novo: “A conversa de dois sábios deve ser igual à conversa de dois imbecis. Em ambos os casos nada tem um a deles a ensinar ao outro”.

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Ditado popular: “Mais fácil é ao burro perguntar que ao sábio responder”.

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Mais um ditado popular: “A ignorância é sempre atrevida; a sabedoria, em geral, modesta”.

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Coelho Neto: “Aquele que sabe e cala-se é como o avarento que amealha tesouros. O conselho dos sábios é a providência dos povos”.

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Marcel Proust: “A sabedoria não se transmite, é preciso que nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas”.

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Hermann Hesse: “A sabedoria não pode ser transmitida. A sabedoria que um sábio tenta transmitir soa mais como loucura”.

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Erasmo de Roterdã: “Segundo a definição dos estoicos, a sabedoria consiste em ter a razão como guia; a loucura, ao contrário, consiste em obedecer às paixões; mas para que a vida dos homens não seja triste e aborrecida, Júpiter deu-lhe mais paixão que razão”.

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Ditado popular: “O primeiro suspiro do amor é o último da sabedoria”.

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Outro ditado popular: “Um burro carregado de livros é doutor”.

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Leonardo da Vinci: “A sabedoria é filha da experiência”.

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Da Vinci, de novo: “O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã”.

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Ditado popular: “O diabo sabe muito porque é velho”.

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Ernest Hemingway: “A sabedoria dos velhos é um grande engano. Eles não se tornam mais sábios, mas sim mais prudentes”.

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Abigail Van Buren: “A sabedoria não vem automaticamente com a idade. Nada vem, exceto rugas. É verdade que alguns vinhos melhoram com o tempo, mas apenas se as uvas eram boas, em primeiro lugar”.

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Oscar Wilde: “Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo”.

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Ditado popular: “Se o velho pudesse e o jovem soubesse, nada havia que não se fizesse”.

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Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”.

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Albert Einstein: “O esforço para unir a sabedoria e o poder raramente dá certo e somente por um tempo muito curto”.

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Malheiro Dias: “Geralmente não são os homens de gênio os felizes no amor”.

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Ditado popular: “Burro calado se torna sábio”.

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Mais um ditado popular: “Bom saber é o calar, até ser tempo de falar”.

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Antero Figueiredo: “O silêncio é o pudor das almas sábias e prudentes”.

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Ditado popular: “Bastante sabe quem não sabe, se calar sabe”.

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Outro ditado popular: “Calar é a sabedoria dos tolos”.

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Menotti Del Picchia: “Saber é viver em harmonia com o mundo”.

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Menotti Del Picchia, de novo: “Não há genialidade: há o impulso incoercível da necessidade”.

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Bob Marley: “Não ganhe o mundo e perca sua alma; sabedoria é melhor que prata e ouro”.

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Khalil Gibran: “A sabedoria é a única riqueza que os tiranos não podem expropriar”.

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Gabriel García Marquez: “A sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada”.

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Che Guevara: “A sabedoria só nos chega quando não precisamos mais dela”.

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Nietzsche: “Saber é compreendermos as coisas que mais nos convêm”.

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Marquês de Maricá: “Os sábios respeitados por seus escritos são algumas vezes desprezíveis por suas ações”.

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Maricá, de novo: “Um homem pode saber mais do que muitos; porém nunca tanto como todos”.

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Maricá, mais uma vez: “O sábio entra em fila na procissão dos loucos e néscios, com receio de ser multado por ter juízo”.

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Maricá, ainda: “Ninguém duvida tanto como aquele que sabe”.

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Ieda Graci: “O saber e a dúvida andam sempre juntos”.

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Alexandre Herculano: “Feliz é a alma vulgar e rude que crê e nem sempre sabe que a dúvida existe”.

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Ditado popular: “Quem mais duvida, mais aprende”

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Confúcio: “Eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas”.

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Rui Barbosa: “O saber de aparência crê e ostenta saber tudo. O saber de realidade, quanto mais real, mais desconfia, assim do que vai aprendendo, como do que elabora”.

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Francis Bacon: “A sabedoria dos crocodilos consiste em verter lágrimas quando querem devorar”.

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Marques Rebelo: “A grande sabedoria é tudo fazer para nunca se dizer nada”.

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Renato Kehl: “Somos ricos de bens quando temos sabedoria para gozá-los”.

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Millôr Fernandes: “Quando todo mundo quer saber é porque ninguém tem nada com isso”.

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Buda: “Existem três classes de pessoas que são infelizes: a que não sabe e não pergunta, a que sabe e não ensina e a que ensina e não faz”.

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Provérbio chinês: “O homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute”.

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Ditado popular: “Para saber não basta ler, é preciso viver e ver”.

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Outro ditado popular: “Quem sabe, está sabendo; quem não sabe, está se vendo”.

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Padre Antônio Vieira: “Os sábios, em qualquer faculdade, mais sabem ouvindo que discorrendo, e mais acompanhados que sós”.

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Júlio Ribeiro: “Quem sabe, sabe porque estudou e não porque é bacharel”.

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Roquette Pinto: “O saber que se adquire no direto contato com a natureza tem um valor inestimável”.

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Paula Nei: “O intelectual deve cair como o sol, quando tramonta: ainda iluminando”.

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Friedrich Schiller: “É preciso ser sábio para amar a sabedoria”.

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Carlos Drummond de Andrade: “Cem máximas que resumissem a sabedoria universal tornariam dispensáveis os livros”.

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Ditado popular: “O que o sábio faz primeiro, faz o néscio derradeiro”

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Mais um ditado popular: “Mais vale uma hora de sábio que a vida inteira de tolo”.

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Fernando Pessoa: “Saber interpor-se constantemente entre si próprio e as coisas é o mais alto grau de sabedoria e prudência”.

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Joracy Camargo: “Os sábios em geral não conhecem etiquetas sociais”.

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Clóvis Belivacqua: “Os gênios atraem as injúrias; os grandes homens têm um cão, que mais ou menos ladra”.

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Ditado popular: “Saber não ocupa lugar”.

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Isaac Newton: “O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano”.

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Clarice Lispector: “O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?”.

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Lao-Tsé: “Para ganhar conhecimento, adicione coisas todos os dias. Para ganhar sabedoria, elimine coisas todos os dias”.

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George Bernard Shaw: “O especialista é um homem que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e por fim acaba sabendo tudo sobre nada”.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

1 comentário em Sabedoria: nada a ver com a “esperteza” de Eduardo Cunha

  1. Antonio Tadeu Meneses // 20/09/2016 às 9:13 pm // Responder

    Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.
    Eclesiastes 1:18

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