Martin Luther King: Por uma verdadeira revolução

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Em homenagem ao pastor e ativista do movimento negro Martin Luther King, Jr., um dos mais importantes líderes do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, o Blog da Boitempo recupera um trecho do sermão “Para além do Vietnã: é hora de quebrar o silêncio”, proferido por ele no dia 4 de abril de 1967, exatamente um ano antes de seu assassinato no dia 4 de abril de 1968, 49 anos atrás. Menos conhecido que o famigerado discurso “Eu tenho um sonho” de agosto de 1963, este sermão chama atenção pela radicalidade de algumas das posições de Martin Luther King no contexto da Guerra ao Vietnã, notadamente assinalando um possível abandono do privilégio absoluto da “não-violência” como forma de ação política, bem como um posicionamento mais incisivo contra o capitalismo e o imperialismo, reconhecendo a urgência de levar a cabo transformações estruturais na totalidade da sociedade.

O recorte do discurso abaixo, selecionado e traduzido para o Blog da Boitempo, procura apresentar um contraponto à visão esterilizada, e muito difundida, do movimento pelos direitos civis dos negros nos EUA, que neutraliza seus aspectos mais combativos numa grande narrativa hegemônica de “tolerância” entre classes e raças, a se esgotar no quadro institucional da Lei dos Direitos Civis de 1964, ano em que Martin Luther King recebe o prêmio Nobel da Paz.

Boa leitura!

Artur Renzo, editor do Blog da Boitempo.

 

* * *

Por Martin Luther King Jr.

Estou convencido de que para nos colocarmos do lado certo da revolução mundial, nós, como nação, devemos passar por uma revolução radical de valores. Precisamos agir rapidamente — é preciso urgentemente dar início à transição de uma sociedade orientada para “coisas” a uma sociedade orientada por pessoas. Enquanto máquinas e computadores, o imperativo do lucro e os direitos da propriedade forem considerados mais importantes que as pessoas, o grande tripé “racismo, materialismo e militarismo” jamais poderá ser superado.

Uma verdadeira revolução de valores logo provocará o questionamento da justeza e da retidão de muitas das nossas políticas, passadas e presentes. Por um lado, somos convocados a fazer o papel do Bom Samaritano na beira da estrada da vida, mas esse será apenas o ato inicial. Um dia precisaremos perceber que toda a estrada de Jericó deve ser transformada para os que homens e mulheres não sejam constantemente açoitados e roubados ao tocarem em suas jornadas na estrada da vida. Verdadeira compaixão é mais do que dar um trocado a um pedinte. Ela cumpre compreender que uma estrutura que produz pedintes precisa ser reestruturada por completo.

Uma verdadeira revolução de valores irá logo ver com inquietude o flagrante contraste entre pobreza e riqueza com justa indignação. Ela voltará seus olhos para o outro lado dos mares e ver capitalistas do oeste investindo enormes quantias de dinheiro na Ásia, na África e na América do Sul, para então extrair o lucro sem nenhuma preocupação com a melhoria social desses lugares, e dizer, “Isto não é justo“. Ela irá olhar para nossa aliança com a elite proprietária da América do Sul e dizer, “Isto não é justo“. A arrogância ocidental de sentir que tem tudo a ensinar aos outros e nada a aprender com eles não é justa.

Uma verdadeira revolução irá enfrentar a ordem mundial e dizer da guerra: “Esta forma de resolver as diferenças não é justa“. Essa história de queimar seres humanos com napalm, de encherem os lares de nossa nação com órfãos e viúvas, de injetar o veneno do ódio nas veias das pessoas, de trazer homens de  volta para casa de campos de batalha sangrentos física e psicologicamente debilitados, não pode ser reconciliada com sabedoria, justiça e amor. Uma nação que continua, ano após ano, a gastar mais recursos com defesa militar do que com programas de melhoria social se aproxima de sua morte espiritual.

Os Estados Unidos da América, a mais rica e poderosa nação do mundo, pode muito bem tomar a dianteira nessa revolução de valores. Não há nada exceto uma trágica pulsão de morte, a nos prevenir de reorganizar nossas prioridade, para que a busca da paz tenha precedência sobre a busca da guerra.

***

Confira a gravação integral do discurso “Para além do Vietnã: hora de quebrar o silêncio”, de Martin Luther King, Jr., também conhecido como o sermão da igreja Riverside, proferido no dia 4 de abril de 1967:

Para aprofundar a reflexão, dica de leitura da Boitempo

Margem Esquerda, revista da Boitempo

O número mais recente da revista da Boitempo é uma edição temática que conta com um dossiê de capa sobre “Marxismo e questão racial”, organizado por Silvio Luiz de Almeida, com artigos de Alessandra Devulsky, Dennis de OliveiraMarcio Farias Rosane Borges, abre com uma entrevista inédita com a feminista negra Sueli Carneiro e fecha com uma poesia de Muhammad Ali, traduzida e comentada por Flávio Aguiar. A edição ainda traz clássicos de Luiz Carlos Mariátegui e artigos de Perry Anderson, Marcello Musto, Milton Pinheiro, entre outros!

Saiba mais clicando aqui.

4 comentários em Martin Luther King: Por uma verdadeira revolução

  1. Gustavo A. L. Brandao // 04/04/2016 às 3:11 pm // Responder

    Muito bom, seria possivel compartilhar a fonte ou o documento original? Obrigado…

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  2. Luis Carlos Muñoz Sarmiento // 15/04/2016 às 5:55 pm // Responder

    He aquí las implacables matemáticas del crimen oficial/clandestino estadounidense: el 4 abril 1967 MLK habló contra la Guerra de Vietnam en la Iglesia Riverside. Allí denunció la actitud de EE.UU en Vietnam, insistió en que lo veían como una colonia y llamaba al gobierno gringo “el más grande proveedor de violencia en el mundo de hoy”. Al año exacto de haber dicho esto, el 4 abril 1968, en el Lorraine Motel caía asesinado a las 6:01 de la tarde: primero se dijo que había sido un segregacionista blanco, James Earl Ray; luego, el 6 abril 2002, el “New York Times” informó que el reverendo Ronald Denton Wilson, había declarado que era su padre Henry Clay Wilson quien había asesinado a MLK Jr, y no James Earl Ray. Agregó que sus motivos habían sido políticos, no racistas, dado que pensaba que King era comunista.

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  3. Encontrei esse site na internet com uma Biografia bem completa https://www.cruzclothing.com.br/biografia/biografia-martin-luther-king-jr/

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