Lefebvre, 1955: crítica e generosidade

Por José Paulo Netto. Numa daquelas olhadas descomprometidas que velhos e contumazes leitores dão a prateleiras da sua biblioteca, duas semanas atrás deparei-me com um pequeno livro editado há quase trinta anos: Lukács 1955/Etre marxiste aujourd’hui (Paris: Aubier-Montaigne, 1986), composto por um texto de Henri Lefebvre (1901-1991) e um ensaio de Patrick Tort. Não revisitei as páginas de Tort (que, nascido em 1952, hoje anima o Institut Charles Darwin International, por ele criado em 1998), mas não resisti à tentação de reler o ensaio de Lefebvre, por quem nutro uma cinquentenária admiração. Admiração que, desde logo, prendeu-se ao seu notável estilo de pensar a herança de Marx, estilo tornado flagrante especialmente após o seu afastamento do Partido Comunista Francês/PCF, consumado em 1958 (afastamento de que ele deu conta um ano depois em livro pouco feliz, La somme et le reste, a que, em 1960, L. Sève replicou com La différence). Mas aquele estilo – constatei depois – já se encontra in statu nascendi nos seus primeiros escritos (veja-se o ensaio que publicou, em colaboração com N. Gutermann, em 1936, La conscience mystifiée, e a tradução/introdução aos “cadernos filosóficos” de Lenin, também preparada à época com o mesmo parceiro) e prosseguiu … Continuar lendo Lefebvre, 1955: crítica e generosidade