A adaga dos covardes, ou, O limite da imbecilidade direitista

15 03 17 Mauro Iasi LimitesPor Mauro Luis Iasi. 

Um amigo libanês, pintor de primeira e bruxo militante, mostrou-me certa vez uma adaga em uma bainha de prata ricamente trabalhada com uma inscrição em árabe que ele traduziu. A frase alertava ao portador da arma que seria sábio quem não a desembainhasse, mas aquele que o fizesse não usando a arma seria um covarde.

A delicada conjuntura em que nos encontramos está cheia de blefes, o que torna difícil a análise. A direita ameaça com o impedimento da presidente, um ex-presidente ameaça colocar o “exercito” de outros para defender o seu governo, outro ex-presidente tece pendores democráticos e de respeito a legalidade enquanto seu partido conspira na direção oposta.

Como sempre, para superar a borbulha enganosa da aparência, é necessário descer às determinações de classe e aos interesses em jogo.

[TRÊS BLEFES]

O equilíbrio do governo de pacto social sempre foi difícil uma vez que supõe poder conciliar o que é inconciliável, isto é, os interesses de classe opostos de trabalhadores e burgueses. A engenharia possível pressupõe uma certa estabilidade econômica e uma governabilidade negociada por meio de cargos no governo, favorecimentos eleitorais e emendas ao orçamento para responder aos lobbies por trás (pela frente e por todos os lados) dos digníssimos parlamentares eleitos e se completa com a ação de governo que garante as condições para a acumulação de capitais em proporções adequadas. Enquanto isso acena aos trabalhadores com a miragem da inserção na sociedade de mercado via garantia dos níveis de emprego e salário, acesso ao crédito e programas compensatórios de combate às manifestações mais agudas da miséria absoluta.

O mais importante é que funciona enquanto a burguesia deseje que funcione.

Por um tempo funcionou e reconduziu os governos petistas em três mandatos consecutivos. O quarto mandato chegou de raspão com o país dividido praticamente ao meio. Um congresso nacional ainda mais conservador, uma oposição fortalecida e um PMDB como fiel da balança e representando a condição, mais que nunca, para a governabilidade. Uma receita para a instabilidade, toda a negociação anterior e durante a campanha eleitoral se torna insuficiente. O PMDB exige mais espaço (Lula se apressa em afirmar que concorda com o pleito), mas também mais protagonismo e mais independência. Ganha a presidência da Câmara com Cunha e endurece a negociação sobre a composição do governo e o orçamento abrindo margem para chantagear a presidência.

Aqui o primeiro blefe. O PMDB tem a vice presidência e vários ministérios chaves. Controla um quinhão invejável no segundo e terceiro escalões, governos de estado que por sua vez dependem de projetos e verbas federais, assim como de favores eleitorais dos mais diversos. Tem pouca chances de um vôo solo como alternativa e suas chances estão ligadas ao sucesso do governo que enfraquece para negociar melhor.

O PSDB, histrionicamente bradando contra o governo com o cacife de uma oposição que garfou mais de 48% dos votos no último pleito, também se encontra em posição problemática. Não pode atacar o governo pelas medidas impopulares assumidas, pois as defendeu abertamente na campanha. Da mesma forma tampouco pode se dar ao luxo de se contrapor à linha geral da condução da economia e do Estado, pois no essencial respeita os compromissos macro econômicos, a premissa sacrossanta do superávit primário, a lógica privatista e mercantilizadora da vida… Escolheu a centralidade dos escândalos e da corrupção, mas convenhamos, é um terreno em que o PSDB não tem só o telhado de vidro, mas uma casa todinha de vidro. Basta lembrar a forma como foi feita a privatização das tele-comunicações sob a batuta do falecido Serjão, a entrega da Vale do Rio Doce, as contas não tão secretas em paraísos fiscais, para não falar do metrô de São Paulo e outras aventuras conhecidas.

Eis o segundo blefe. Alardeia-se o combate à corrupção, torcendo para que a apuração rigorosa e profunda, “doa a quem doer”, não chegue muito perto da mão que acusa, como o caso do HSBC parece indicar. Se o caos interromper o mandato da presidente e gerar dividendos eleitorais ao PSDB, ótimo para eles, mas não se pode fritar muito de modo que a fumaça não sufoque a todos na cozinha do Estado burguês. Qualquer alternativa de governo do PSDB passa pela negociação com o PMDB, daí o dilema: como queimar a gordura do PT sem tostar o bife do PMDB?

Por isso o escudeiro do caos, Aloysio Nunes e outros asseclas, vão às ruas pelo “sangue” de Dilma Rousseff, enquanto FHC e Aécio Neves, pedem um pouco mais de calma. Afinal, somos todos civilizados, não é?

[A APOSTA PETISTA]

O governo, um tanto quanto desorientado, pois julgava que bastava a mera repetição do mesmo procedimento anteriormente exercitado e uma base sólida no Congresso para escapar do pior da crise, tateia erraticamente. Antes das eleições sua prioridade era recompor uma base e compensar as defecções, como as PSB e PTB, mas, prioritariamente mostrar-se confiável aos financiadores de campanha: as empreiteiras, os bancos, os industriais, o agronegócio, em suma, os donos do governo. As alianças, o programa e o perfil da campanha não deixaram margem à dúvida desta prioridade.

No entanto, a polarização da campanha contra o PSDB (Marina foi um episódio inflado que não se manteve) obrigou os petistas a desenterrar o discurso da luta entre ricos e pobres, do fantasma do passado e, na reta final, produzir um factóide diversionista segundo o qual trata-se de um embate de projetos que contrapunha de um lado uma direta privatista, que atacaria os direitos dos trabalhadores e reverteria as “conquistas” alcançadas, e de outro uma proposta progressista que enfrentaria a crise com crescimento (o que implicava, por sua vez, a manutenção da generosa ajuda aos capitalistas) e não realizasse ataques aos direitos dos trabalhadores.

Vejam que o governo agiu com uma certa sinceridade. Precisava atrair os setores sociais (por isso o discurso), mas não podia romper com suas alianças e com as exigências de seus patrões (por isso a manutenção do rumo geral conservador). Não é esse o blefe do governo. É que tem gente que quer tanto uma coisa que a projeta na realidade como se realidade fosse…

O problema é que passada as eleições, os setores sociais e movimentos populares que generosamente se dispuseram a votar na candidata “mais progressista” para evitar a direita, se viram diante do constrangimento de um governo que moveu-se rapidamente para implementar tudo aquilo que a direita perversa propôs. Os movimentos sociais e populares já tinham cumprido sua função, agora era o momento da incrível arte do pragmatismo político no qual o governo do PT tinha que gerar as condições para manter-se no governo até o final e, quem sabe, um próximo mandato. Nesta direção era necessário recompor a base, acertar a vida com o Congresso e tomar as medidas amargas contra os trabalhadores para garantir a continuidade da política de superávits primários e a sangria de recursos do fundo público para o capital financeiro.

Evidente que isso gerou um descontentamento muito grande, mas aqui fico na incômoda posição de defender a presidente Dilma. Ela falou que ia fazer isso, era evidente que faria. Os setores sociais que apostaram, com razões louváveis e algumas até justificadas, nesta opção estão descontentes com a imagem que criaram e não com o real efetivo. Acontece com torcidas de futebol, com relacionamentos amorosos… acontece também com projetos políticos. Já cantava Chico com as palavras de Ruy Guerra:

“Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto”.

…e até o Chico acreditou!

Certos movimentos sociais, setores populares e segmentos de esquerda literalmente não negociaram nada. Daí o qualificativo “generosamente” ao tratar do apoio oferecido. O Governo não se comprometeu formalmente com nenhum dos pontos que constituem a fantasia imaginada de uma inflexão à esquerda. Pelo contrario, deu o tempo inteiro mostras que não alteraria o rumo da política que enterrou a reforma agrária em benefício do agronegócio, os direitos trabalhistas em nome das condições favoráveis ao crescimento da economia capitalista, a privatização contra as políticas públicas, o acordo com os fundamentalistas religiosos descartando a luta contra a homofobia e outras pautas, a conivência com velhas formas políticas contra uma verdadeira mudança das regras do fazer política na direção dos interesses populares.

[A VELHA DIREITA]

Aqui é que começa o problema. Apesar de ter cedido em tudo… tudo mesmo, ao que a ordem burguesa exigiu, o governo de pacto social do PT continua ameaçado. Ocorre é que a metáfora da adaga aqui se torna limitada. Não estamos diante de um instrumento nas mãos de um sujeito, mas de uma dinâmica política que uma vez desencadeada ganha certa autonomia. Os sujeitos políticos são compósitos, formados por fragmentos, facções segmentos que reproduzem em ponto menor o dilema da sociabilidade burguesa: a contradição entre interesses individuais particulares e interesse geral.

Nenhum ator particular que desembainhou a adaga parece de fato querer o impeachment, mas parece que a adaga quer. Em tempos de fetichismo absoluto, um fenômeno desses não devia nos espantar. É verdade que a burguesia monopolista em suas diferentes facções (industrial, bancária, agrária, comercial, etc.) nunca ganhou tanto e prescreveu o remédio que seus funcionários no governo estão zelosamente administrando. Precisa de estabilidade institucional, teme reviravoltas que possam colocar em risco, real ou potencial, a ordem. Mas adorariam encerrar este ciclo de governos petistas. E se houver possibilidade, porque não?

O mesmo pode ser dito do imperialismo. Alguns governistas afoitos e seu exercito de dedos nervosos nas redes sociais, desenterraram o imperialismo como o sujeito oculto da desestabilização. Ora o imperialismo sempre pensa em cenários e a desestabilização nunca ficou fora da pauta. A pergunta é: como se pensou nestes doze anos enfrentar esta evidência? Armando o povo, preparando as forças armadas e buscando aliados, como na Venezuela? Ou se mostrando confiável e evitando se apresentar como responsável, como nos governos Lula e Dilma, e fazendo um acordo militar com os EUA, mobilizando e dirigindo tropas de intervenção no Haiti?

Impedimentos e interrupções institucionais não são utilizados apenas contra governos de “esquerda” ou de um reformismo potencialmente perigoso à ordem capitalista (duas coisas que o governo do PT não representa nem remotamente) mas também contra governos que já cumpriram sua função e passaram a se tornar incômodos. É o que aconteceu quando surgiu a necessidade de interromper o Estado Novo getulista ou a autocracia burguesa no final dos anos 1970.

A grande burguesia e o imperialismo lucraram com o ciclo petista, mas não lutarão para defendê-lo se ele ameaçar ir para o ralo. A burguesia não é fiel, nem monogâmica. Nunca foi. Não será agora que irá mudar sua natureza.

A expressão política da burguesia tem, no entanto, outros problemas. A ocupação do espaço político central pelo PT lhe rouba sua essencialíssima função na vida. Ela precisa encontrar um meio de se livrar do PT porque este ocupa o lugar que por coerência seria o seu, por isso quer aproveitar toda chance possível. Sua responsabilidade com os interesses de classe da grande burguesia monopolista faz com que ela hesite, assim como o medo de, no chumbo trocado das acusações, colocar em risco a ordem instituída. Mas ela tem a obrigação de tentar, porque disso depende sua sobrevivência.

[A EXTREMA DIREITA]

Isso é diferente quando se trata da extrema direita. Ela é o cachorro louco da burguesia. É incômoda e caricatural, mas útil. Não pede licença para pôr fogo no circo. Em épocas normais a burguesia a mantém presa na jaula do Estado de Direito, mas a crise é seu habitat natural. Isolada ela é só pitoresca, como nas marchas que andou ensaiando pelo país. Mas, num certo caldo de cultura, se alimenta do irracionalismo e do conservadorismo, cresce e pode se tornar uma ameaça, mesmo um incômodo para seus donos.

A extrema direita foi às ruas e ganhou dimensão massiva nos últimos protestos pelo impeachment. A extrema direita quer o impedimento da presidente, se possível seu fuzilamento e a exumação do corpo de Marx para ser fuzilado também. Parece que descobriram o motivo do desmonte da educação no Brasil, é um perigoso terrorista de barbas longas (sem turbante) chamado Paulo Freire.

[O BLEFE PETISTA]

Diante deste cenário intricado o PT mantém-se fiel à sua ação aparentemente errática. Faz todos os esforços para garantir a credibilidade diante do grande capital e de seus aliados de direita, que constituem a base operacional de seu governo; ao mesmo tempo em que precisa mobilizar suas “bases sociais” (de fato eleitorais) para não virar presa fácil contra aqueles que querem sua queda.

Neste ponto a coisa fica ridícula. O governo impõe as chamadas medidas de austeridade e ataca diretamente os direitos dos trabalhadores. O principal partido do governo (talvez o segundo na linha hierárquica depois do PMDB) – o PT – aprova por maioria as medidas de austeridade propostas, e o ex-presidente Lula conclama que elas são necessárias e não atacam os direitos dos trabalhadores. Ao mesmo tempo conclama suas “bases sociais” (na verdade, em parte aparelhos burocráticos que um dia foram organizações independentes da classe trabalhadora) para atos em defesa do governo, mas contra as medidas de austeridade… do mesmo governo… que implementa as medidas… Estão acompanhando?

Ora, aqui também não se deve culpar o PT. Ele não pode fazer outra coisa. Os setores que, com razões honestas, queriam uma guinada à esquerda estão trabalhando com o desejo, não com a realidade. Este seria o caminho mais rápido para o impeachment. O governo jamais fará isso. Todos sabem. Desde os que sinceramente gostariam que o governo fosse mais à esquerda, até os governistas mais renitentes que acham que tudo está certo e não há nada a ser corrigido.

Este é o blefe.

Mobilizam as massas, mas para apassivá-las. As mobiliza para usá-las como instrumento em seu jogo e não como força própria em busca de seus próprios interesses de classe. É para ameaçar seus aliados e adversários. Desembainha uma adaga que não pretende usar.

A direita chama um ato pelo impeachment. Lógico que a extrema direita se anima. Mas as lideranças estão preocupadas, seus nomes andam sendo divulgados pelas listas dos envolvidos nos atos de corrupção. FHC pede calma, não é hora de impeachment. Michel Temer sorri ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara (os dois na lista) na arte de fazer de conta que ele não tem nada a ver com isso.

Na mais alta temperatura do acirramento, escuto a notícia que Dilma propôs um pacto… com o PSDB… que não aceitou… mas, está pensando. Depois do domingo amarelo… duvido.

No meio disso uma população tentando entender o que está acontecendo. De um lado, um cara com uma adaga bradando – “vou te meter um impeachment no bucho!” – (lógico, com muita calma para não prejudicar os negócios), de outro um senhor que pregava a paz e o amor e que adora dizer que banqueiros nunca ganharam tanto em seu governo ameaçando chamar as massas para uma rebelião (lógico, desde que não atrapalhe o bom relacionamento da ministra do agronegócio com a presidente e as medidas de austeridade, que na verdade são necessárias… não é?).

De um lado os governistas chamam um ato contra as medidas de austeridade que atacam os trabalhadores e em defesa do governo que as aplica, de outro a direita que quer derrubar o governo “esquerdista”, mas aprova as medidas.

E vocês querem que os trabalhadores entendam isso? Lá na consciência imediata da classe trabalhadora uma faxineira explica ao repórter de um jornal paulista porque aderiu as vaias contra a presidente diante de seu pronunciamento (no qual disse que era preciso coragem para aplicar as medidas contra os trabalhadores propostas por seu ministro Levy) e diz:

“Querem saber o motivo da vaia? É simples: estou cansada de trabalhar e não ter nada”.

Outro trabalhador é ainda mais direto:

“Ela mexeu nos direitos do trabalhador. Falou a campanha inteira que não ia e fez”.

(“Após manifestação de ‘peões’, empresária defende petista“, Folha de S. Paulo, 11/03/2015, por Juliana Sayuri e Daniela Lima)

[A PERGUNTA QUE NÃO SE CALA]

Que a direita e a extrema direita se comportem como tal é compreensível e esperado. A pergunta que precisa ser respondida é por que ela ganha apoio de amplos setores de massa. A resposta cômoda para o governismo defensor do pacto social é simplista, trata-se de quem votou e quem não votou na Dilma. Típico de quem abandonou o referencial de classe para pensar em eleitores. Trata-se perigosamente de um momento onde os anseios e inquietações de setores dos trabalhadores estão sendo capturados pelo ideário conservador e de direita.

E que ideário é esse? A rede Globo em mais uma demonstração de miséria jornalística tenta enquadrar a realidade no molde de seu jornalismo de desinformação, transformando o circo de horrores da direita na rua no dia 15 em uma “festa da democracia” e perguntando aos inquietos e perdidos ministros Rosseto e Cardoso como o governo responderia às “demandas da ruas”, a “voz das ruas”, o “grito das ruas”. Apesar da emissora (que recebeu auxílio governo petista para não quebrar) tentar reapresentar o samba de uma nota só da corrupção, as “ruas” gritavam coisas como: “pela intervenção militar”, “morte aos comunistas”, “em defesa do feminicídio”, “pela maioridade penal”, “contra as doutrinações marxistas nas escolas”. Algumas demandas, para facilitar o entendimento, escritas em inglês e francês.

Vejam, com todos os problemas das Jornadas de 2013 podíamos ver ali como central um conjunto de demandas como a defesa do transporte público, contra os gastos com os eventos esportivos, contra a violência da política militar, a denúncia dos limites desta pobre democracia representativa. Ainda que houvesse por um tempo, a tentativa de contrabando das bandeiras direitistas elas foram sendo isoladas das manifestações. Agora elas dão o tom e organizam grandes manifestações em defesa da barbárie.

Interessante notar que as Jornadas de 2013 forma violentamente reprimidas e o senhor Cardoso, Ministro da (in)Justiça, se apressou a cercar de garantias legais a ilegalidade da repressão e criminalização dos movimentos. Já no festival da extrema direita anti-comunista a policia militar tirava fotos e selfies com os animados participantes vestidos com a camisa da CBF, enquanto à noite o Ministro dizia que precisamos respeitar as manifestações porque são democráticas.

[Oficial da tropa de choque tira foto com família verde a amarela. A imagem foi capturada pelas lentes da TV Trip na cobertura que fez da manifestação em São Paulo]

Meu barbeiro, filho de operário eletricitário, que se animou com a campanha das diretas porque queria votar para presidente, diz que este governo precisa acabar porque senão vai implementar aqui um regime parecido com o da Venezuela e sugere duas alternativas: entregar o Brasil para ser administrado pelos EUA ou devolver aos índios (eu sugeri que ele insistisse na segunda alternativa).

O mais surpreendente, no entanto, foi sua conclusão diante das minhas ponderações. Com o olhar sério e aquela autoridade que só possui quem segura uma navalha afiada em sua garganta, ele concluiu: “Sabe, eu acho que ninguém quer o impeachment, o que eles querem é deixar este governa sangrar por quatro anos para depois derrotá-lo de uma vez por todas nas próximas eleições”.

Sabe do que mais, acho que meu barbeiro está certo. Feito isso, pegou a navalha e aparou o que restava de cabelo na minha nuca, limpando a espuma em um pano. Lá na rua ainda se ouvem os gritos de combatentes segurando suas adagas cegas que não pretendem usar… “olha que eu te furo”… “não se eu te furar primeiro”… enquanto se prepara o acordo.

***

Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.

31 comentários em A adaga dos covardes, ou, O limite da imbecilidade direitista

  1. Votei em Lula em 2002, pois ele veio dizendo ser a esperança, o paladino da transparência e da moralidade. Lula e o PT foram corrompidos. Esta aliança com PMDB há 12 anos em nome da governabilidade foi determinante para a derrocada do partido. Teria que surgir uma nova esquerda no Brasil. No livro A Revolução dos Bichos de George Orwell, pode-se fazer um paralelo com o momento atual da política petista. O PT quer o poder pelo poder. Toda sua ideologia foi corrompida ao longo destes anos de aliança com o PMDB numa política rasteira e nojenta de conluios, o famoso “Toma Lá Dá Cá.”

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    • Marcos. O PT e o PSDB teriam que fazer uma aliança em torno de um projeto de centro-esquerda. Mas não, se comportaram como o Partido Comunista e o Socialdemocrata na República de Weimar se engalfinhando enquanto abriam espaço para o nazismo avançar. Resultado o PT se juntou com a direita esclerosada e o PSDB com o neoliberalismo, deixando o povo sem alternativa e a direita criando asas como vimos na manifestação dos coxinhas.

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    • Marcelo Paiva // 18/03/2015 às 1:23 pm // Responder

      Por favor, defina os termos “Direita”, “Extrema Direita” e “Burguesia” e “Trabalhadores”. Esses termos são usados pelos apoiadores do sistema de forma muito inadequada, pois é uma tentativa de dicotomizar os eleitores de forma claramente manipulativa. Pelo que consigo entender, a burguesia é a direita e é contra os trabalhadores que são de esquerda. Se virmos dessa maneira, a burguesia não trabalha e é a proprietária das coisas, contra os aqueles que de fato são os que produzem. É óbvio que tratar a coisa dessa forma uma maneira muito parcial e infantil. Gostaria que o autor do texto, esclarece qual o entendimento dele de burguesia, trabalhadores, direita e esquerda, porque senão o texto perde todo seu caráter técnico pelo forte caráter preconceituoso dos conceitos.

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      • Rapaz, tu és um abestalhado e o melhor a fazer contigo é executar e não discutir bizantinamente o sexo dos anjos. Tenho dito!

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      • Concordo meu rapaz com sua colocação de classes e sou contra isso entre diferentes e principalmente diferenças de idéias e pensamentos, até os analfabetos tem excelentes idéias, mas o Brasil está entrando numa guerra civil e não se enganem moro já fez muito mas tá infringindo a lei em excessos, e acima de tudo não julguem ninguém, para não serem julgados, inclusive eleitores que apoiam a ou b todos temos nossos pontos de vista

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  2. Rafael Kraus // 17/03/2015 às 6:17 pm // Responder

    Está aberta a temporada de reflexões, propriamente dita. Primeira onda: mestre Mauro (e eu já estava a “sentir” um pouquinho mais de solidariedade pelo PT, eu e minha adorável memória seletiva(é o trabalho dela, né). Passei os últimos dois dias no pelotão anti-mídia do blog do Altamiro Borges, “infelizmente” fui resgatado a tempo.) Quando li a recente declaração do PCB, logo ficou claro que Mauro Iasi e PCB são semelhantes, mas definitivamente não são a mesma coisa.

    Foi dada a largada! Ansioso para ver como alguns outros 3 ou 4 articulistas deste blog responderão… É tempo de boi!

    Presente. (desanimado…mas tamos aí!)

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  3. Republicou isso em Breaking The Law!e comentado:
    Discordo em vários pontos, mas sobretudo quanto ao perfil do eleitorado brasileiro. Como brasiliense sei muito bem o que é o antipetismo e sei que ele se infiltra diariamente nas casas de milhões de brasileiros pelo jornal nacional. É um erro crasso a meu ver pressupor que a população brasileira é progressista, não é, de jeito nenhum. Votou no lula porque ele se comprometeu em seguir as regras capitalistas e o governo fhc sofria um intenso desgaste. Votou nele de novo e no pt porque viu as melhorias promovidas pelo governo. Mas uma guinada a esquerda como quer a militancia (eu, inclusive) é no cenário atual impossível. É por isso que os partidos de esquerda em geral se mostram tão insignificantes eleitoralmente, não compreendem o perfil ideológico da população brasileira exemplificada no sr barbeiro. Não entendem que é preciso ir com calma, pq a direita quer derrubar, sempre. Só que agora conta com um desgaste de 10 anos e um lamentável caso de corrupção. Mas ainda que discorde, não deixa de ser uma senhora análise do nosso momento político

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    • Perfeita sua observação, Bill. O antipetismo se iinfiltra por todos os jornais da Globo. O jornal de hoje de manhã (18/03/15) era só corrupção e PT. Deu os dados do desgaste da Dilma divulgou que apenas 13% (13 o número do PT) acham o governo dela “bom ou ótimo”. E que 62% acham “ruim e péssimo”. Que Dilma está pior que Collor na vespera do impeachment. A pesquisa citada avaliou também a situação do Congresso. Que deve estar na cabeça do povo como um pau de galinheiro, mas a Globo não deu os dados. O interesse da Globo é bombardear apenas o PT e Dilma. O que deixa margem para a gente pensar que um golpe de estado pode estar sendo engendrado. De preferência um golpe branco como o impeachment aplicado em Lugo, no Uruguai.

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  4. Discordo em vários pontos, mas sobretudo quanto ao perfil do eleitorado brasileiro. Como brasiliense sei muito bem o que é o antipetismo e sei que ele se infiltra diariamente nas casas de milhões de brasileiros pelo jornal nacional. É um erro crasso a meu ver pressupor que a população brasileira é progressista, não é, de jeito nenhum. Votou no lula porque ele se comprometeu em seguir as regras capitalistas e o governo fhc sofria um intenso desgaste. Continuou votando no pt porque identificou significativas melhoras em sua vida, e estou falando de gente que não votou no pt em 2002. É só comparar os mapas eleitorais. Agora uma guinada a esquerda, como quer a militância (eu, inclusive) é no cenário atual impossível. É por isso que os partidos de esquerda em geral se mostram tão insignificantes eleitoralmente, não compreendem o perfil ideológico da população brasileira exemplificada no sr barbeiro. Não entendem que é preciso ir com calma, pq a direita quer derrubar, sempre. Só que agora conta com um desgaste de 10 anos e um lamentável caso de corrupção. Mas ainda que discorde, não deixa de ser uma senhora análise do nosso momento político

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  5. Evidentemente que um fã de partido desacreditado defenderia a presidente. Mas o resumo da ópera é que tiveram de roubar para tentar manter suas ideologias. E isso, eu, direto da minha varanda gourmet financiada em 30 anos, não aceito.

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  6. Miguel Correia // 17/03/2015 às 10:12 pm // Responder

    Grande conclusão. Como se a fato de não querer o impeachment agora, mas somente sangrar para aniquilar depois, melhorasse as coisas.

    Ufa! Ainda bem que não querem matar agora, com a navalha. Primeiro vão deixar com fome até ficar sem forças e, depois, darão o golpe final.
    Que alívio.

    A esquerda tem que antever os passos seguintes. Embora concorde com a maior parte da análise, por óbvio até, acho que não se justifica ficarmos na varanda do analista, para agir depois, quando “a Inês é morta”.

    Afinal, somos nós que vamos pagar o pato; não apenas o PT.

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    • Perfeito, Miguel Correia. A situação em que vivemos, nacional e internacional -os israelenses elegeram Bibi- é aquela que leva uma pessoa a chamar urubu de meu louro. A República de Weimar estava assim quando o povo Alemão dava votos aos nazistas. Pena que não temos um Lênin que escreva um livro nos mostrando o “Que fazer”.

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  7. Luiz Orleans // 18/03/2015 às 2:30 am // Responder

    Na análise de Iase, a intenção de apresentar o que já sabemos. O duro é ter condição de enfrentar a pergunta de sempre: “O que fazer?”, já que não é apenas a política que ordena as coisas; a economia é o imperativo… Que outro caldo de cultura podemos produzir? Se há algum; como e com quem implementar? Que outro mundo a partir de outra economia? A política dos que se reivindicam como esquerda tem condições de se re-significar?

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  8. Lígia Benevides // 18/03/2015 às 5:35 am // Responder

    A análise é original e o autor foi conciso na construção do desenrolar da história, embora o texto por vezes se apresente confuso: faltam vírgulas, há algumas frases truncadas (talvez porque longas demais) e, sim, o autor trocou “a ver” por “haver”. Fiquei com a impressão de que o texto foi escrito meio às pressas e não passou por uma revisão. De todo modo, certamente vale a leitura

    A meu ver, o texto demonstra didaticamente a perversidade do jogo da direita neo-liberal/conservadora para solapar o governo do PT, que por sua vez se vê carente de várias bandeiras que um dia carregou.

    Todo mundo que não pratica a corrupção é obviamente contra ela. Nesse sentido, todo e qualquer cidadão que se encaixe nessa categoria deveria ter ido à manifestação de 15 de março. Apesar disso, a segmentação social dos manifestantes foi bem nítida.

    Os protestos do dia 15 foram organizados por diversos grupos apoiados financeiramente por industriais e empresários que têm uma agenda muito bem definida para a economia brasileira – e por isso se difere tão abissalmente de junho de 2013.

    A comparação das duas ocasiões é injusta com os jovens que buscaram manifestar seu desejo pela melhoria de aspectos coletivos da sociedade, de ordem bastante pragmática. Existem pautas e soluções possíveis elaboradas por movimentos sociais que se dedicam voluntariamente a pensá-las, e essas soluções foram apresentadas – e ignoradas.

    Qual proposta viável, além do delirante impedimento da presidenta Dilma, o enforcamento em praça pública do ex-presidente Lula e a intervenção militar, foi apresentada pelos manifestantes da seleção brasileira? Pelo que eu (não) vi, nenhuma.

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  9. Nossa, eu não sei o que espera o PCB que ainda não fez a tal da revolução em trocentos anos de existência. Já sei, estão torcendo para que o país volte aos níveis de miséria anteriores, que assim aumentam as chances de revolução? Só que não. Entre essa análise e a do barbeiro, de fato a dele é melhor. O triste é que entre os dois tem um título de doutor e alguns milhares de reais gastos (dinheiro do povo) com uma formação inútil ao país.

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  10. Quando li quem escreveu o artigo, vi que se tratava de um canalha! Sim, um canalha! Para igualar o seu discurso, um imbecil! É o discurso da esquerda histérica viúva do Muro de Berlim que prega o ódio e luta de classes em busca da DITADURA do proletariado. Ele não quer democracia. Ele quer o Comunisto Marxista que já exterminou milhões de pessoas em regimes nefastos. Esse imbecil deve ter adorado quando o Foro de São Paulo chegou ao poder na América Latina e no Brasil (PT) – um braço comunista guiado pelo DITADOR Fidel Castro, membro da lista de bilionários da FORBES que aparece sempre de Adidas, mas odeia o capitalismo. O mesmo que assassina cubanos que pensam diferente e mantém a população na miséria sem liberdade democrática (relato de médica cubana que está trabalhando aqui). Ainda leio sobre o discurso do século passado: o Burguês. Será que ele odeia a classe média igual a escrota da Marilena Chaui também? O Brasil é essa fraude porque o Estado tem poder demais e a população, infelizmente, enxerga nele o Salvador (muito pela ideação esquerdista que assola o país com doutrinação gramschiana desde o ensino fundamental).PSDB, PT, PMDB, PSB, etc são todos produtos da esquerda, alguns com histeria. Pregam o discurso, mas atuam de forma diferente pois se apóiam no patrimonialismo do Estado. Só um sistema com mais liberdade e menos Estado, menos populismo e JUSTIÇA! O poder do Leviatã (Governo, Congresso) esquece os direitos dos pagadores de impostos em troca de mais poder com acordos, conchavos que nunca terminam enquanto a idéia de estatizar estiver em vigor A JUSTIÇA precisa de INDEPENDÊNCIA, porém quando o Estado interfere, não se interrompe a corrupção, a alimenta. Isso tudo reflete na economia que, controlada pelo MERCADO e regulada pelo Estado, é fundamental o poder da oferta, procura e tecnologia, não somente o poder da caneta. O Brasil é mal administrado em todo o tempo. O dinheiro dos pagadores de impostos é tratado como deles. Nosso sistema financeiro não possui regras claras ou exigências, facilitando a especulação. Critico também essa falsa direita que é centralizadora, patrimonialista e conservadora, já que vivo na minha profissão liberal um grande choque de reserva de mercado enraizado desde o ensino. A esquerda no poder se aliou à essa direita, elegendo os Amigos do Rei (JBS, Eistein, Sírio-Libanês, OAS, Odebrecht) que vão sustentando esse projeto de poder com o falso discurso da ética e moralidade. O Brasil precisa de Direita sim! O Brasil precisa de menos Estado! Esqueçam estes setores que acirram as contradições, que amam Che Guevara (o caçador de homossexuais, estuprador e assassino). Esqueçam o conservadorismo da falsa direita. O Brasil viu nos movimentos, mais que bandeiras, um estímulo ao livre-arbítrio! Viu um desejo de ser! Dissemos um não a quem quer nos controlar. É isso que deve ser dito. Penso que o Capitalismo se renovando e adequando às mudanças é muito melhor que o Comunismo, que já nasceu morto, porém um canalha fez questão de colocar em prática e deu no que deu.

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    • Vinicius,
      Seu texto expressa bem o que foi às ruas no dia 15 e que combatemos. É produto de uma época na qual o debate está cada vez mais difícil, porque prevalece a intolerância e a irracionalidade.

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    • Rafael Kraus // 18/03/2015 às 7:42 pm // Responder

      Ô, meu filho, veio fazer o quê aqui, hein? Não veio ler, certamente. Porque esse desprezo, cara, porque esse ódio tão imenso? Me explica aí,vai , mas sem as guerrinhas psicológicas do pelotão de olavetes que você deve ter conhecido, e sem achar que a história é o que o editorial da Veja ou das corporações Globo querem que seja(pra ficar com dois dos mais banais, não quero te meter em labirintos). Sim, porque tudo o que fez foi vomitar mitos da guerra fria, eternas lendas negras, forjas de desinformação pseudo-acadêmica, manipulações retórico-historiográficas de todos os tipos, acusações e “evidências” uma atrás da outra… como se a história fosse uma babilônica operação lava-jato. Você vem com uma página e quatro pedras na mão e espera o quê de volta? Quer assustar a quem? O Mauro Iasi? Porra, tá de sacanagem, né. Nasce de novo. Me diga, como é que eu poderia pegá-lo pela mão (você a deceparia no ato!) para começar a explicar-lhe o que é arquivologia, documentologia, hermenêutica crítica, crítica textual, análise do discurso, pesquisa de campo, intercruzamento de informações, etc,etc. Como??? Tem remédio contigo? Eu poderia indicar-lhe Domenico Losurdo, Grover Furr, Josep Fontana, Michael Parenti (leia “History as mystery” e veja se sai vivo)e um batalhão de outros homens e mulheres que sangram diariamente nas trincheiras da história. Mas e aí? Você iria atrás? Google, Scribd, kindle, encomendas, visitas diárias à bibliotecas…você perderia seu tempo? Não, né, porque o único e o maior risco sempre foi o de perder-se a si mesmo, não é mesmo? Mas fica com esse segredo: você não vai perder muito (acontece com todos!). E , aliás, nem mesmo vai reconhecer-se para se saber perdido. Ou, é claro, poderia desavergonhadamente dizer na minha cara: Who gives a flying fuck?
      A vida é sua. (Que mentira deslavada essa, hein!)
      Boa sorte.

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    • Compre um inseticida e use em vc mesmo, vais ficar totalmente calmo!

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  11. Assisti toda a campanha eleitoral, gravei programas, entrevistas e os debates na TV. O PSDB mentiu tanto quanto PT na campanha no que se refere a prometer belos programas sociais sem meter a mão no que era dos trabalhadores. Imagine o Aécio enfrentando a Dilma e dizendo que ia tirar direitos trabalhistas, ele perdia no primeiro turno. Discordo da análise sobre o PSDB. Outra: não existe um comportamento “natural” da burguesia, ela se movimenta conforme as condições históricas de exercício da sua hegemonia, move-se como num tabuleiro de xadrez, ela quer estar na posição de dar xeque-mate sempre. O PT jamais tentou desafiar essa posição da burguesia, fez sua política de gestor do capitalismo com verniz desenvolvimentista enquanto pode.
    A questão agora é outra. Temos os erros (do ponto de vista da política de “governabilidade” petista) da Dilma em sua tentativa de pulverizar o poder do PMDB em seu governo e ter mais autonomia, de um lado, e, de outro, uma conjuntura internacional em que se dá uma disputa entre blocos imperialistas pelo controle de mercados estratégicos. Essa última dá-se milímetro a milímetro, é calculada, racional e pragmática. Trata-se de uma disputa no contexto da maior crise capitalista desde 29. O Brasil do PT é uma peça no tabuleiro dessa disputa, esse Brasil apostou numa composição que contraria o capitalismo do ocidente, ele se alinhou com Rússia e China na criação de um Banco dos Bric’s (com defesa de moeda alternativa ao dólar) e liderou um bloco dentro da América Latina que jogou a Alca para o espaço e “peita” os EUA. Como compensação, o Brasil petista manda tropas para o Haiti. Isso compensa o incômodo causado aos interesses econômicos do imperialismo norte-americano? Certamente que não.
    Diante de tudo isso e da marcha de 15 de março fica a pergunta que não quer calar: O que fazer?
    A esquerda que resta no Brasil tem condições de erguer uma massa em luta capaz de fazer frente a ação combinada da mídia golpista, a pressão dos EUA e um governo totalmente rendido ao capital? Se a resposta é sim, o caminho é o da unidade da esquerda em torno de um plano de lutas amplo e contundente que reverta os ataques aos trabalhadores e aprofunde a democracia. Se a resposta for não, a esquerda terá que fazer um trabalho pedagógico de politização na base e de defesa da democracia capenga que ainda resta contra o flanco estratégico que a burguesia mantém para os fascistas.
    A espada está sob a cabeça da esquerda, não está sob a cabeça do PT, o PT é apenas a desculpa dos golpistas para atacar os únicos que ainda fazem a luta classista em tempos bicudos para os senhores do capital. O “Fora Dilma!” é “Fora, esquerda!”, se Dilma e o PT não são nem de longe a esquerda, quem é que vai pagar essa fatura?

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    • Oi Wilma,
      Interessante sua análise. Discordo de você quando afirma que o governo do PT, com seu conhecido pragmatismo, tenha “contrariado o capitalismo do ocidente”, mesmo com as iniciativas que você descreve.
      Nosso problema continua sendo o que você bem coloca: se o PT não fará o enfrentamento necessário (como parece evidente que não fará) cabe à esquerda e aos setores sociais comprometidos com as demandas dos trabalhadores conseguir a unidade necessária para enfrentar a ofensiva da direita.
      Coseguiremos fazer isso, você nos pergunta? Não sei, mas tenho convicção que não será respaldando este governo como tem sido feito por alguns que avançaremos nesta direção.

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  12. Escuta aqui, decente? Mas esse movimento, por acaso, não começou com um protesto contra o aumento de passagem de ônibus? Aquele povão que foi às passetas não tem cara de quem anda nem de metrô! Mesmo porque aquela ruma de gente nunca caberia nos ônibus e metrôs de todo dia! Depois veio aquela campanha na Globo e outros contra a Petrobrás e aí encontraram uma razão para o impichimã da presidente. Não entendi nada! Porque teria sido muito, mas muito mais fácil juntar todo aquele povão e derrubá-la nas urnas! Por que não conseguiram? E por que o querem agora, há tão pouco tempo da grande chance? É vingança? É ódio engarrafado? É humilhação? Vão triturar a pessoa da presidente? Vão dar um tiro nela? E isso vai resolver os problemas do Brasil? Isso não seria um retrocesso? Quando vi o retrato da suástica no meio da multidão, fiquei assustado! Pensei: só falta agora aparecer um sujeito com um bigodinho quadrado, e os campos de concentração! Hein, decente? Me explica?

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  13. Estou tentando Nonato, estou tentando.
    Os protestos, se assim podemos chamá-los, do último dia 15 são muito, mas muito diferentes, daqueles que eclodiram em 2013, primeiro pelo aumento das passagens e depois contra os gastos com a Copa.
    A direita naquele momento tentou se apoderar do descontentamento informe que emergia, mas não conseguiu. Agora o cenário é diferente, a direita deu o tom e escreveu a letra da banda que saiu pelas ruas do país pedindo o impedimento da presidente, ainda que tenha arrastado um descontentamento que não pode ser explicado só pela manipulação.
    tem muita gente que pega ônibus, trabalha muito, mora longe e está muito descontente com o atual governo.
    Evidente que há ódio (engarrafado ou não), manipulações e o jogo sujo conhecido dos monopólios da comunicação (mantidos e fortalecidos pelo governo petista). Mas, há também, a utilização de tudo isso para criar uma situação na qual o atual governo venha a aparecer como representante de uma cruzada de pobres contra ricos, coisa muito despolitizadora, convenhamos.
    Esta cortina ideológica permite que tal governo aplique os ajustes contra os trabalhadores e os chamem para apoiá-lo quando ameaçado no jogo político que escolheu participar.

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  14. Por isso que o Brasil tem o potencial de ser o país mais rico, próspero e igualitário e mesmo assim patina: a resposta está no próprio texto!!

    Enquanto uma parte do país luta pela dignidade e pela retidão, uma parte gasta tempo (e dinheiro público) como viúvas do bloco comunista, conjecturando sobre a luta de classes (só rindo) e tentando desconstruir a indignação da classe media da qual o autor deste texto faz parte.

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  15. Daniel: convenhamos que o que vc chama de indignação da classe média tem características bem parciais e seletivas.
    Lutam pela dignidade e retidão? Ah! sei! E assim, escolhem votar em Aécio Neves ou bradar por impeachment ou intervenção militar.
    Importa à proba classe média o sistema bandido, concentrador de rendas e de terras? O agronegócio, desmatando e envenenando? As populações indígenas sendo dizimadas? O péssimo nível dos serviços públicos de saúde e educação? O assassinato em massa de negros? O trabalho deseducativo e de manipulação das consciências feito pela mídia? A corrupção profunda e generalizada, característica de todo sistema capitalista?

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  16. Bom dia professor Mauro Iasi, (04/04/15)
    Quero agradecê-lo por compartilhar conosco a sua análise da realidade. Bem sabemos o quanto precisamos dos intelectuais nesses tempos corridos e rasos que vivemos. Mas, agradeço mais ainda por ter se disposto a responder comentários feitos ao seu texto. Considero muito pedagógico e necessário esse debate. Escrevo na tentativa de alimentá-lo.
    Destaco do seu texto e do debate provocado por ele, nos comentários dessa matéria, alguns trechos com essa intenção de provocá-lo a fazer uma reflexão sobre a relação entre eles:
    1) “Que a direita e a extrema direita se comportem como tal é compreensível e esperado. A pergunta que precisa ser respondida é por que ela ganha apoio de amplos setores de massa. (…)Trata-se perigosamente de um momento onde os anseios e inquietações de setores dos trabalhadores estão sendo capturados pelo ideário conservador e de direita.” (Mauro Iasi)
    2)“Sabe, eu acho que ninguém quer o impeachment, o que eles querem é deixar este governa sangrar por quatro anos para depois derrotá-lo de uma vez por todas nas próximas eleições”. (Barbeiro do professor Mauro Iasi)
    3) ” Os sujeitos políticos são compósitos, formados por fragmentos, facções segmentos que reproduzem em ponto menor o dilema da sociabilidade burguesa: a contradição entre interesses individuais particulares e interesse geral.” (Mauro Iasi)
    4)” “É um erro crasso a meu ver pressupor que a população brasileira é progressista, não é, de jeito nenhum. Votou no lula porque ele se comprometeu em seguir as regras capitalistas e o governo fhc sofria um intenso desgaste. Votou nele de novo e no pt porque viu as melhorias promovidas pelo governo. Mas uma guinada a esquerda como quer a militancia (eu, inclusive) é no cenário atual impossível. É por isso que os partidos de esquerda em geral se mostram tão insignificantes eleitoralmente, não compreendem o perfil ideológico da população brasileira exemplificada no sr barbeiro. Não entendem que é preciso ir com calma, pq a direita quer derrubar, sempre. Só que agora conta com um desgaste de 10 anos e um lamentável caso de corrupção. Mas ainda que discorde, não deixa de ser uma senhora análise do nosso momento político.” Bill
    5) “O que fazer?”, já que não é apenas a política que ordena as coisas; a economia é o imperativo… Que outro caldo de cultura podemos produzir? Se há algum; como e com quem implementar?”( Luiz Orleans)
    6) “Diante de tudo isso e da marcha de 15 de março fica a pergunta que não quer calar: O que fazer?” (Wilma)

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  17. Olá Maria das Merces,
    Obrigado pelo comentário e a síntese de questões relevantes. Vou fazer um balanço geral no espaço que aqui cabe.
    Considerando a ofensiva da direita e o quadro de desorientação em nossa própria classe, não seria o momento de “ir devagar” para evitar um golpe? Ora, mas foi essa a opção de doze anos atrás, ir devagar para evitar uma interrupção do processo que deveria acumular para mudanças mais estruturais. Ocorre que o governo de pacto se rendeu aos limites do existente e do sistema política que lhe corresponde, gerando o quadro que hoje nos encontramos.
    O que fazer? A grande questão. Evidente que há tarefas imediatas, como resistir na defesa dos direitos, como na luta contra o PL 4330 das terceirizações, a EBSERH ou A FUNPRESP, etc. Assim como denunciar e resistir ao golpismo (não creio que haverá golpe no Brasil no momento atual). No entanto, estou convencido que o problema é mais profundo.
    Vivemos o fim do ciclo de uma estratégia que deu errado e isto nos levou a uma derrota de proporções significativas. Não há soluções de curto prazo e não creio que o próprio PT, que é a força que hegemonizou este último ciclo, possa produzir uma inflexão que o salve da rota de colisão com a catástrofe.
    Caso possamos aprender com a experiência histórica, a derrota de uma determinada estratégia determinante em um período nunca é seguida imediatamente do surgimento de outra, mas de um período de confusão e desorientação.
    Organizar a classe para resistir, enfrentar a direita e o governismo, recriar as condições políticas, organizativas e de consciência necessárias a retomada do protagonismo da classe trabalhadora e seu projeto socialismo. Estas são as tarefas, como se vê, todas de médio e longo prazo.
    Evidente que só chegaremos lá se sobrevivermos ao curto prazo, por isso… lutar, lutar e lutar. Resistir à noite enquanto preparamos um novo amanhecer.

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  18. O artigo é imbecilidade típica do primitivo vocabulário comunista! A Rússia e Europa do Leste são a Tumba do comunismo assassino! Comunismo serve só para imbecis subdesenvolvidos do PCB!

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    • Alternância de poder por favor, PT, PMDB, PSB, … são todos cânceres.
      A única forma deles não matarem o Brasil é alternância de poder, até que um dia (talvez daqui uns 20 anos) surja uma liderança política capaz de substituídas.
      Desculpa Mauro, admiro você, mas não vai ser pegando em armas que vamos mudar o país.

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  19. Trama de mal gosto? Bom seria se fosse uma trama de bem gosto.

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  20. Hugo Camargo Rocha // 06/05/2016 às 12:41 pm // Responder

    Nenhuma análise da realidade brasileira é completa ou perfeita. A onisciência é prerrogativa divina. Fora isto, o artigo de Mauro Iasi faz uma boa síntese daquilo que já vemos aos pedaços e confusamente. Mas fica sempre a pergunta essencial: O que fazer? Creio que na atual situação, o melhor que podemos fazer é “aprofundar a democracia” em todos os locais, campos e níveis (o político, econômico, cultural, etc.), o que exige muito trabalho de (auto)educação e informação. E isto só se faz pelo “diálogo”, esta coisa assombrosa que poucos seres humanos aprenderam e já sabem fazer (eu não sei, é tudo o que sei). Sabemos ofender, desqualificar, acusar, espancar, à torto e à direito, à esquerda e à direita, passando pelo centro e pelos extremos, mas conversar com o “outro” já fica difícil. Não sabemos. É isto o que temos de aprender a fazer. Há outro caminho para sairmos deste imbróglio? Fora este, o outro caminho é a sumária “eliminação” do outro, simbólica ou física. E para onde leva este último caminho, já o sabemos fartamente. A história nos ensina. Luta sim, mas com as armas da nossa (pouca) inteligência. Esta é nossa única força. Vamos usá-la melhor.

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