Reflexão sobre a Chacina de Paris

15.01.08_Miguel Urbano Rodrigues_Reflexão sobre a chacina em ParisPor Miguel Urbano Rodrigues
e editores de ODiário.info

Uma onda de emoção, solidariedade e repulsa corre pelo mundo levantada pela chacina de Paris.

É legítima. Doze pessoas foram assassinadas por um grupo terrorista na sede do semanário francês Charlie Hebdo. Entre elas o diretor, quatro cartunistas e dois policias.

O jornal, satírico, progressista, já havia sido alvo de atentados por ter publicado caricaturas do Profeta Maomé.

A dimensão, o motivo e a circunstância contribuem para a repercussão mundial do bárbaro crime.

O fato de os assaltantes terem gritado à saída “Alá é grande e o Profeta foi vingado!” funcionou como estímulo à islamofobia.

Na última semana, organizações de extrema-direita da Alemanha, dos EUA e da França promoveram manifestações racistas dirigidas contra as comunidades muçulmanas desses países. Tais iniciativas tendem agora a multiplicar-se.

O Presidente François Hollande, ao condenar o monstruoso atentado, afirmou que a França “está em choque”. Chefes de estado e de governo de todo o mundo expressam solidariedade e horror.

É lamentável, mas significativo que o discurso dos políticos e os comentários na grande mídia sejam omissos quanto a uma questão fundamental. Responsabilizam o terrorismo, reafirmam a determinação de lhe dar combate onde quer que desenvolva a sua ação criminosa, mas abstêm-se de referências às causas do surto de barbárie terrorista.

Obama e os seus aliados europeus, sobretudo Hollande e Cameron, têm telhados de vidro. Não podem confessar que o terrorismo cresceu em escala mundial desde que o imperialismo norte-americano (com o apoio do estado fascista de Israel) iniciou agressões em serie a países muçulmanos.

A guerra do Golfo foi um prólogo. Mas foi após os atentados de 11 de setembro de 2001, com a invasão e ocupação do Afeganistão, que essa estratégia assumiu, com Bush filho, caracter prioritário.

A segunda Guerra do Iraque, o reforço da presença no Afeganistão, a agressão à Líbia, o apoio na Síria a organizações terroristas configuram crimes contra a humanidade.

Invocando sempre como pretexto para guerras abjetas a democracia e a defesa dos direitos humanos, os EUA mataram centenas de milhares de muçulmanos, destruíram cidades, introduziram a tortura, semearam a miséria e a fome no Médio Oriente e na Ásia Central.

Nesta hora em que os franceses choram os mortos de Charlie Hebdo é necessário recordar que Sarkozy e Hollande foram cúmplices de muitos dos crimes do imperialismo norte-americano.

E indispensável lembrar que muitos dos assassinos do chamado Estado Islâmico foram treinados pela CIA e por militares dos EUA. Washington fomentou o terrorismo proclamando que o combatia.

***

Miguel Urbano Rodrigues é um jornalista e historiador português. Nascido em Moura, em 1925, passou 20 anos exilado no Brasil entre as décadas de 50 e 70. Colabora com o Blog da Boitempo esporadicamente.

3 comentários em Reflexão sobre a Chacina de Paris

  1. Republicou isso em bule13verdee comentado:
    Muitos dos assassinos do chamado Estado Islâmico foram treinados pela CIA.
    EUA inventou e alimenta o terrorismo proclamando divulgando que o combate.

    Obama e os seus aliados europeus, sobretudo Hollande e Cameron, têm telhados de vidro. Não podem confessar que o terrorismo cresceu em escala mundial desde que o imperialismo norte-americano (com o apoio do estado fascista de Israel) iniciou agressões em serie a países muçulmanos.

    Nesta hora em que os franceses choram os mortos de Charlie Hebdo é necessário recordar que Sarkozy e Hollande foram cúmplices de muitos dos crimes do imperialismo norte-americano.

    E indispensável lembrar que muitos dos assassinos do chamado Estado Islâmico foram treinados pela CIA e por militares dos EUA. Washington fomentou o terrorismo proclamando que o combatia.

    O TERRORISMO FOI INVENTADO NOS GABINETES DA CASA BRANCA?! SIM!!!

    “É oficial: os EUA são o maior Estado terrorista do mundo e se orgulham disso”.

    Como foi 11/Setembro/2001? Eles “reivindicaram ser da Al Qaeda” ?.

    QUEM é esse tal “Estado Islâmico”, que não sabem de onde vem, para onde quer ir e vai, nem conseguem detê-lo?.

    Nada mais estúpido do que os “serviços de inteligência”. Sob a inspiração da CIA, esses serviços, de nacionalidades incontáveis, coordenam-se mundo afora, com as mais indecentes violações dos direitos civis.
    Os EUA é a favor da liberdade de expressão, menos a do Snowden.

    A extrema direita se arma e manipula na europa…extrema direita é formada por abutres, se dão bem onde aparecem cadáveres. Supomos que a “islamofobia” seja alimentada por interesses .

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  2. Claudio Jordão // 08/01/2015 às 9:32 pm // Responder

    Sem sobra de dúvidas, foi um “crime bárbaro”! A liberdade de expressão é fundamental em uma democracia, mas que seja exercida com responsabilidade (o que ao meu ver não foi o caso). Há abusos de poder por parte da grande mídia (veja o caso brasileiro durante as eleições presidenciais de 2014). O semanário francês “Charlie Hebdo”, abusando de sua liberdade de expressão, provocou a situação ao ironizar o Profeta Maomé. Mas aproveito o momento, para fazer algumas perguntas. Já que o semanário fazia charges ironizando o Profeta Maomé, por que não de Jesus Cristo também? Será que este atentado é uma ação dos grupos extremistas islâmicos ou dos grupos de extrema direita? (pôs segundo autor, na última semana, organizações de extrema-direita da Alemanha, EUA e da França, promoveram manifestações racistas dirigidas contra as comunidades muçulmanas desses países).

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  3. É um colírio ler todo o debate da Boitempo, com a cobertura massacrante diária de todos os jornais, televisivos e impressos, batendo na mesma e exclusiva tecla da vitimação da liberdade, a universal, como sempre foi o lema dos franceses colonizando os cinco continentes – o próprio território francês, na Europa, o hexágono, é uma história de massacre e submissão do sul pelo norte. Em que pese ao choque desse massacre, contra a vida das pessoas que se criam no exercício crítico da imprensa, é preciso relativizar muito esta liberdade universal, esse transcendente universal, como diz o ensaísta antilhano Edouard Glissant, em seu ensaio sobre as Antilhas francesas pós-coloniais.

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