Nota de repúdio

Na semana passada a Boitempo divulgou nota em que dava por encerrada a verificação interna de alguns de seus títulos e apontava para a solução dos problemas. Ontem, porém, a editora foi surpreendida por nova investida da blogueira Denise Bottmann, que, abusando do exercício de seus direitos de manifestação, partiu do plano das suposições para o terreno arenoso da calúnia pura e simples, com a clara intenção de ferir a credibilidade da editora. Esta nota tem, portanto, não apenas o objetivo de esclarecer mais esse episódio, mas principalmente o de pôr a nu os “métodos” utilizados pela personagem em questão.

Em seu blog, Bottmann empreende uma falsa e completamente descabida acusação referente à tradução do ensaio “As antinomias de Gramsci”, parte da coletânea Afinidades seletivas (2002), de autoria de Perry Anderson. Sem antes pedir esclarecimentos à editora, concluiu e divulgou “evidências” que não existem. Para simular e legitimar sua versão, confunde os créditos dados às duas traduções previamente existentes com um agradecimento especial feito a uma das editoras citadas, pela generosidade de ter cedido texto ainda disponível em seu catálogo.

Diz o post que o ensaio “parece ter escapado” ao crivo da Boitempo, no entanto não há o que colocar em dúvida, a não ser a intenção de quem julga obras que não lhe dizem respeito; que acusa publicamente antes de averiguar com a editora – com a qual se comunica apenas via blog ou com muito estardalhaço via mídia –;  que omite ou prefere não tomar conhecimento de informações que possam enfraquecer sua argumentação; e que levanta semelhanças pontuais de algumas obras para impor a suspeita sobre o todo, incluindo a credibilidade da editora e de seu catálogo.

Com todos os direitos autorais negociados ou cedidos de forma legítima e em comum acordo com editora e tradutores dos dois ensaios – entre doze constantes no volume –, previamente traduzidos para a língua portuguesa,  definiu-se que a tradução na página de créditos seria atribuída ao nosso colaborador, a quem coube a tradução dos demais ensaios. Ou seja, há permissão expressa dos tradutores originais do ensaio “As antinomias de Gramsci” para que a editora procedesse dessa forma. Também foi acordado entre as partes envolvidas que a origem de cada texto seria mencionada na “Nota da Edição”, o que foi cumprido e está presente na página 11, trecho este que “parece ter escapado” à blogueira mas que pode ser conferido na página abaixo reproduzida:

Em vermelho, destaque da Boitempo Editorial. Em azul, destaque de Denise Bottmann.

Para usar as palavras da blogueira, “interessante” ela ter se esquecido de escanear e mostrar essa página aos seus leitores, lembrando de fazer isso apenas com a capa do livro, o que evidencia mais a sua busca por holofotes do que seu compromisso com a verdade ou com a categoria que afirma defender. Cabe lembrar que o direito autoral interessa apenas àqueles que o negociam. O que é acordado entre as partes, inclusive sobre a forma de apresentação nas obras, deve ser respeitado. A fidedignidade dos créditos reside nessa relação profissional, que, como a própria blogueira admite, mas sistematicamente ignora, não lhe diz respeito. Ao contrário do que insinua, a integridade intelectual da obra Afinidades seletivas está garantida, assim como a veracidade dos créditos.

Ao esclarecer essas acusações esperamos, além de evidenciar o modus operandi  duvidoso empregado pela blogueira, tranquilizar uma vez mais os leitores da Boitempo quanto à seriedade de nosso trabalho. Vamos agora concentrar esforços na produção de nossos livros e cursos, dando por encerrados os pronunciamentos por esta via no que diz respeito a acusações levantadas por Denise Bottmann, a quem lembramos que a democracia assegura a todos os cidadãos a liberdade de expressão, mas também os responsabiliza por aquilo que expressam.

Boitempo Editorial

20 comentários em Nota de repúdio

  1. Ana Lucia Bahia // 21/08/2012 às 5:13 pm // Responder

    Queridos amigos,
    Bastante esclarecedora a Nota da Boitempo. Essa obsessão contra a melhor editora brasileira tem endereço certo, sabíamos. Mas o que a nota acima esclarece é que os ataques não obedecerão qualquer ética ou limite. Portanto, caríssimos, tenham força e não esmoreçam. Mas, claro, sem fazer disso seu foco principal que deve continuar sendo a edição com excelência!
    Abraços e toda a minha solidariedade,
    Ana Lucia Bahia

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  2. Silvio Matheus // 21/08/2012 às 5:33 pm // Responder

    Olá, pessoal da Boitempo

    Tenho livros publicados pela editora e acredito plenamente no caráter dos que estão à frente da mesma e dos intelectuais que também fazem parte. Sem mencionar o restante da equipe. Só acrescento mais uma coisa: manda esta desocupada procurar o que fazer… Dá uns livros para ela ocupar o tempo dela.

    Abraços,

    Silvio Matheus.

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  3. Esclarecimento irrespondível.
    Parabéns à editora pela conduta e pela nota.

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  4. Gente vocês estão mexendo com tal mercado editorial, eles estão desesperados, viva Boitempo!

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  5. Edmilson Costa // 21/08/2012 às 8:10 pm // Responder

    Esse moça quer se aparecer usando o nome da Boitempo!

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  6. Classe, boas edições, editoraçao, capas, papel, impressão perfeitos…Infelizmente muita gente não tem critério e gosta de aparecer às custas do trabalho alheio. Viva Boitempo!

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  7. Caroline Nerval // 21/08/2012 às 8:55 pm // Responder

    Nota perfeita, queridos. Bola pra frente agora, vamos aos livros que a Boitempo sai inteira e mais forte deste episódio lamentável. Não se bate em cachorro morto, como sabem. Abraços e muita força!

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  8. Ricardo Xavier // 22/08/2012 às 4:12 am // Responder

    Todo esse imbróglio (frise-se; irrelevante) só veio para demonstrar o respeito e a extrema responsabilidade intelectual da editora com seus leitores. Além de possuir a melhor tradução dos escritos de Marx no Brasil, a Boitempo sempre traz ao leitor brasileiro não “poliglota” (como eu) a possibilidade de ter contato com a mais alta literatura – tanto tradicional, como atual – do pensamento das humanidades.

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  9. Marcos Silva // 22/08/2012 às 5:35 am // Responder

    Embora não disfarce a indignação com as denúncias improcedentes, a nota da Boitempo não baixa o tom. Sinto-me agora plenamente esclarecido, não apenas em relação a este caso, mas principalmente em relação aos propósitos dessa verdadeira caça às bruxas que só pode ter relação com a excelência do trabalho apresentado pelos senhores. Mantenham-se firmes e parabéns pela digna postura.

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  10. Apesar de ter lido a nota de repúdio e também ter relido o post da Denise Bottmann – e dar ganho de causa a vocês sobre a questão da reutilização da tradução da Joruês -, não posso deixar de perguntar uma coisa: por que não foram citados os nomes dos tradutores do artigo anteriormente publicado? Sim, porque apesar da nota de edição exibida acima, o leitor é induzido a erro ao achar que Castanheira pode ter traduzido esse artigo antes da edição completa da Boitempo. Sabemos que isso é tão comum que há editoras que publicam nota dizendo: “os capítulos tal e tal foram traduzidos por fulano e publicados em tal obra em tal data”.

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  11. Leonardo Alencar // 23/08/2012 às 7:06 am // Responder

    O problema que vejo é que o direito moral do autor ter seu nome associado ao seu trabalho nunca vence , portanto a “permissão expressa dos tradutores originais” para o procedimento da editora de não citá-los na página de créditos, não é legal (no dois sentidos). Em respeito aos tradutores e aos leitores, a melhor solução é indicar tudo corretamente na página de créditos. Creio que basta uma etiqueta e o problema estará resolvido.

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  12. boitempoeditorial // 23/08/2012 às 7:08 pm // Responder

    Prezados Bruce e Leonardo:
    Agradecemos as suas mensagens! Com relação ao nome dos tradutores, julgamos na época ter ficado clara a explicação dada na Nota da Edição. De fato, agora concordamos que os tradutores originais poderiam ter sido mencionados ali, para evitar dúvidas – que surgiram apenas quase dez anos depois. Na página de créditos foi citado o tradutor de 10,5 capítulos, e na nota da edição demos ciência das exceções (texto sobre Gramsci e parte do capítulo sobre Bobbio), que poderiam ter sido informadas também em notas de rodapé. Quando, por exemplo, pedimos ficha catalográfica de um livro com vários tradutores, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros nos envia esse documento com o nome de apenas um deles, seguido de “et all”. Vale ainda ressaltar que na maior parte das vezes as referências bibliográficas mencionam apenas nome do autor, da editora e o ano da edição das obras, tal como consta em nosso livro. Não é preto no branco, há nuances que devem ser observadas. Mas estaremos atentos daqui por diante para evitar mal-entendidos e, mais uma vez, agradecemos o contato. Abraços!

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  13. Ana Paula Monteiro // 23/08/2012 às 10:21 pm // Responder

    Caros editores da Boitempo,
    Perfeita a explicação, é exatamente como entendi. Teria sido melhor que a “Nota da edição” citasse os nomes de todos os tradutores, mas por outro lado ela dá as referências das duas edições originais. Também trabalho com livros e percebo que o blog de Denise Botmann estimula um certo fetiche da tradução, parece que para ela o tradutor é mais importante que o autor! Preparador ou revisor não precisam ser citados, nem o editor ou o diagramador. Só o tradutor é também “autor”? Há muitos livros em que o projeto gráfico é extremamente autoral; há traduções que são inteiramente refeitas por preparadores e revisores (e aqui faço um depoimento pessoal: uma amiga, que trabalha em uma editora para a qual Denise traduz, contou-me que os textos dela dão um enorme trabalho! Por que esses profissionais, que fazem uma tradução ruim ficar boa, não são igualmente considerados “autores”?)
    Acho ainda o seguinte: vocês já esclareceram o que tinham a esclarecer, agora não devem mais se ocupar disso, ou dar atenção a Denise e suas denúncias. Em seu blog ela responde apenas aos seus seguidores ou àqueles posts horríveis e agressivos que nem deveriam ser publicados. `
    Bola pra frente!
    Abraços,
    Ana Paula Monteiro

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    • Considerando que o tradutor é a ponte entre o autor e um leitor de língua estrangeira, há que se promover uma maior valorização do mesmo. Se o revisor deve ser considerado co-autor? Discordo, assim como o tradutor tampouco é co-autor. Contudo, ambos devem ter seus papeis valorizados e esclarecidos. Como dito acima, a nota da edição da obra a que nos referimos neste blog apresentou justamente uma falha: não deixar claro quem traduziu o que, induzindo o leitor ao erro de que o tradutor citado já havia feito uma tradução anterior de certos trechos da obra, quando não é o caso.

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  14. Leonardo Alencar // 24/08/2012 às 7:29 am // Responder

    Ana Paula,
    Na realidade, não é só o autor da tradução que precisa ser citado, o autores do projeto gráfico e da revisão também precisam. Todos eles possuem o direito moral que permanece para sempre. Somente os direitos patrimoniais podem ser cedidos, vendidos, doados, etc
    Nenhuma editora pode utilizar o texto de Machado de Assis e atribui-lo a outra pessoa, mesmo que a obra esteja em domínio público. Assim é também para projetos gráficos, ilustrações, fotografias…

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  15. Leonardo, caro: Se o revisor também tem direitos de autor, nesse caso a autoria de muitos livros e de muitas traduções poderia ser contestada. Mas creio que aqui não é exatamente essa questão que está em jogo, mas a seguinte: um blog fez denúncia de plágio que inexiste. A Boitempo publicou um livro de ensaios em que dois textos já haviam sido traduzidos, dando as referências das edições e demonstrou isso. O blog, em lugar de se retratar, deu início a uma discussão sobre o que é direito moral e patrimonial etc. No meu entendimento, e creio que de muitos, nenhum direito foi violado neste caso. Danos morais sofreu a Boitempo, por ter sido acusada injustamente.
    Estou com Ana Paula, agora é seguir em frente. Abraços

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    • Alex, meu caro, o problema é que apesar de a nota de edição mostrar a existência de tradução anterior dos trechos, ela não menciona quem os traduziu, o que é algo importante por um simples motivo: impede a possibilidade de que alguém seja indicado por uma tradução que não fez. Considerando que tais trechos podem vir a ser usados em teses, artigos, etc., com base apenas na nota de edição, em nome de quem você vai citar a tradução?

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  16. Ana Paula Monteiro // 24/08/2012 às 6:48 pm // Responder

    Quero fazer um adendo: Se o blog que fez a denúncia tivesse de fato a preocupação com os créditos ou com o “direito moral” dos tradutores, teria procurado esclarecer a questão com a editora ou com os tradutores antes de fazer uma falsa denúncia, não acham? Isso é que mais me intriga.
    Bruce Torres, em tempo: também acho que os nomes deveriam ter sido citados, mas isso a editora pode corrigir no futuro.
    Valeu, agora volto ao trabalho que meus prazos se findam!
    Abraços a todos.

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  17. Nossa, concordo totalmente. Aliás, essa discussão faz a gente pensar: se é a editora que contrata a tradução e paga por ela, por que esse fetiche todo em cima da figura do tradutor? O que o tradutor sozinho vai fazer com o texto cujos direitos pertencem a uma editora, inclusive? Não seria isto também um plágio, o de se apropriar de um trabalho de outra pessoa (no caso, o legítimo autor da obra, que assina com a editora para que publique determinado livro) e dizer que isso são “direitos autorais”? Olha, acho que isso deveria ser repensado bem. Existem traduções e traduções: uma coisa é um trabalho de gente como Manuel Bandeira, Haroldo de Campos, tradutores que valem o próprio peso em ouro; outra coisa é um trabalho técnico, contratado e pago por uma editora, que fornece diretrizes e depois também orienta e aprova o trabalho de copidesques, preparadores e revisores. Entendi o ponto da Ana Paula: não seriam todas essas pessoas autoras da tradução também? Fica a dúvida…
    Que eu saiba a tradução hoje no Brasil é, na maioria, trabalho puramente comercial, sem nada de inspiração divina. A editora contrata aquele texto e paga por ele. É um trabalho. Há as exceções, pesquisadores de determinados autores que vão eles mesmos atrás de determinadas obras e depois a oferecem a uma editora etc. Mas são exceções… Não deveria haver uma distinção entre a tradução encomendada e a tradução mais, digamos, artística? Isso é bastante sério, e essa indistinção permite que aproveitadores façam seu nome criticando o trabalho sério de uma editora como a Boitempo, que vem se destacando cada vez mais e produzindo livros de qualidade e relevância incontestáveis. Está na hora de colocar os pingos nos is…
    Grato pelo espaço, abraços e força a todos da editora!
    Cicero

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